Saara Ocidental

Crime de guerra: marroquinos matam civis saaráuis e compartilham fotos nas redes

Comitê de Defensores Saaráuis de Direitos Humanos (Codesa) aponta "crime de lesa humanidade" e pede apuração

Brasil de Fato | Florianópolis (SC) |
Civis saaráuis detidos pelas forças marroquinas também foram fotografados - Reprodução

Alerta: Esta matéria possui uma galeria com imagens fortes.

O Comitê de Defensores Saaráuis de Direitos Humanos (Codesa) divulgou na última quarta-feira (25) um novo relatório das violações de direitos humanos praticadas contra cidadãos do Saara Ocidental, que lutam contra a ocupação ilegal do Marrocos em seu território e por autodeterminação.

Segundo a organização, marroquinos cometeram crime de lesa humanidade ao assassinar dois civis saaráuis – Habib Slima Shiheb, de 24 anos, e Abdullah Mohamed Mouloud Bakar Amlouko, de 30 – e deter ilegalmente outros quatro, além de postar imagens dos cadáveres e dos detidos com olhos vendados nas redes sociais. A prática viola os artigos 145, 146 e 147 da 4ª Convenção de Genebra para Proteção de Civis em Tempos de Guerra.

Independente da Espanha desde 1975, o Saara Ocidental fica no Norte da África, voltado para o Oceano Atlântico, e faz fronteira com Marrocos ao norte, com Argélia a leste e com a Mauritânia ao sul. Desde 1960, integra a lista das Nações Unidas de territórios não autônomos.

Um ataque marroquino à região da chamada "fenda de Guerguerat", porção sul do Saara Ocidental, em 13 de novembro, rompeu o acordo de cessar-fogo assinado entre a Frente Polisário e o Marrocos em 1991. Como não houve reação da Organização das Nações Unidas (ONU) ao ataque, os saaráuis declararam “estado de guerra” e regresso à luta armada após quase 30 anos.

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No relatório, o Codesa também relata o massacre de rebanhos de camelos que pertenciam a beduínos saaráuis. As imagens dos camelos mortos foram registradas no dia 26 e incluídas na galeria abaixo, que também inclui as imagens dos civis detidos e assassinados. As fotos foram borradas em respeito às vítimas, e também para minimizar o impacto visual.

A postura dos marroquinos é "incompatível com a dignidade humana", segundo o Codesa. A organização pede a intervenção imediata do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, convoca movimentos de proteção ao meio ambiente a denunciar a morte dos camelos, exige uma investigação isenta sobre os crimes contra civis na região, além da libertação dos cerca de 50 presos políticos saaráuis. 

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O Codesa teve acesso aos nomes dos cidadãos detidos esta semana por meio das fotografias. São eles: Mustafa Slima Shiheb, Muhammad Al-Midani, Ayoub Bouguentar y Maad Addour. 

O Reino de Marrocos ainda não se manifestou sobre o caso.

Edição: Rogério Jordão