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Extrema-direita fracassa, mas bolsonarismo não pode ser subestimado, dizem analistas

Partidos da direita tradicional e do chamado "Centrão" recuperaram parte do espaço que haviam perdido para bolsonaristas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Apoiado por Bolsonaro [esq.], Marcelo Crivella [dir.] foi derrotado neste domingo no Rio de Janeiro (RJ) - Marcos Correa/ AFP

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou, meses antes da eleição, que não apoiaria nenhum candidato a prefeito em 2020. Durante o 1º turno, descumpriu a promessa e pediu votos para Celso Russomanno (Republicanos), em São Paulo (SP), e Marcelo Crivella (Patriota), no Rio de Janeiro (RJ): ambos foram derrotados.

O aparente enfraquecimento dos candidatos de extrema direita nas eleições municipais tem provocado divergências. É o que mostraram as entrevistas ao vivo realizadas pelo Brasil de Fato, em parceria com a TVT e a Rede Brasil Atual ao longo deste domingo (29).

“O primeiro recado [das eleições] é a derrota de um partido informal e ilegal chamado operação Lava Jato. Ela influenciou decisivamente as últimas duas eleições no Brasil, o golpe de 2016 e o Estado de exceção em que o Brasil foi imerso”, analisa Francisco Fonseca, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“O chamado ‘Centrão’ e os partidos de esquerda ganharam novamente projeção, enquanto os aventureiros e as ‘pautas de costume’ começam a sair de cena. Então, a segunda mensagem é que o pensamento progressista está de volta”, completa.

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Para o sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, é prematuro falar em vitória da esquerda, em qualquer medida: “Se o ‘Centrão’ venceu as eleições, isso não importa, porque eles não têm identidade. O importante é que o Bolsonaro saiu derrotado e desmoralizado.”

Coimbra avalia que a esquerda não pode fazer uma autocrítica baseada apenas no desempenho de seus candidatos deste domingo. “Foi um processo muito limitado, não houve espaço para que as pessoas pudessem se manifestar na rua, mostrar seu apoio aos candidatos. É na eleição de 2022 que pode haver a reconquista de espaço para um pensamento progressista, para ideias mais modernas em termos de economia e direitos sociais”, conclui o sociólogo.

João Paulo Rodrigues, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pondera que o bolsonarismo continua sendo uma ameaça consistente, mesmo quando “escondido” em partidos tradicionais.

“Não dá para subestimar a força do bolsonarismo. As eleições mostraram a força do agronegócio nas candidaturas da regiões do Centro-Oeste, às vezes usando partidos de centro, mas com conteúdo bolsonarista. Até 2022, veremos uma migração do Bolsonaro para os partidos do chamado ‘Centrão’”, prevê.

“Em um contexto de pandemia, as pessoas querem resolver o problema da fome e do desemprego. Vejo que nossa ‘bolha’ da esquerda, com a pauta contra Bolsonaro, não conseguiu dialogar com esses problemas centrais do povo brasileiro”, lamenta.

Em sete capitais, a eleição foi decidida em 1º turno com vitórias da direita e centro-direita: Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Natal (RN), Palmas (TO), Florianópolis (SC), Salvador (BA) e Campo Grande (MS). No 2º turno, o campo progressista só venceu em Belém (PA), com Edmilson Rodrigues (PSOL), em Aracaju (SE), com Edvaldo Nogueira (PDT); no Recife (PE), com João Campos (PSB); e em Maceió (AL), com João Henrique Caldas.

Os debates deste domingo (29) também se debruçaram sobre as possíveis aproximações dos candidatos da direita liberal ou tradicional com o bolsonarismo. Confira:

Edição: Rodrigo Chagas