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Influência africana marca celebração do Natal em países da América Latina e Caribe

A colonização tornou a data distinta em países como Cuba e no Haiti devido ao sincretismo religioso

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Nem todo Natal tem como símbolos Papai Noel, árvore e presentes. Alguns são marcados por agradecimentos e solidariedade.
Nem todo Natal tem como símbolos Papai Noel, árvore e presentes. Alguns são marcados por agradecimentos e solidariedade. - AMN
No Haiti, doar alimentos para a comunidade é uma forma de celebrar

Para a maioria da população no Brasil, Natal é sinônimo de compras, confraternização em família, no trabalho e tempo de ver por todos os lados uma figura conhecida como "bom velhinho", o Papai Noel.

Mas será que o Natal é vivido dessa forma em todos os países do mundo? A resposta é não.

Em alguns países, como é o caso de Cuba e do Haiti, não há somente uma forma de celebração, mas muitas, que são marcadas pela festa em família, com a comunidade e por ações de solidariedade.

A pesquisadora Jasely Fernández Garrido, mestre em Ciências Políticas pela Universidade de Havana e professora do Centro de Investigação de Política Internacional, diz que uma das explicações para que o Natal em Cuba seja tão plural é devido ao sincretismo religioso construído pela própria população, que é formada predominantemente por espanhóis e africanos.

Na ilha, as manifestações misturam o catolicismo, o cristianismo, religiões protestantes, africanas, espiritismo, vodu haitiano, religiões judaicas e até mesmo chinesas e japonesas. 

"Em Cuba, a maioria das pessoas tem inclinações religiosas espontâneas e assistemáticas, que refletem no seu dia a dia. Isso se expressa em devoções, crenças e práticas, que muitas vezes são mágicos e supersticiosos. O impacto sociopolítico das religiões não é decisivo, no entanto, na música, dança, teatro e literatura estão sempre presentes, especialmente, o sincretismo afro-cubano. A união entre famílias, amigos e vizinhos é fundamental na cultura cubana e na caracterização desta época festiva", afirma.

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No país, as igrejas católicas são decoradas com árvores de Natal e presépios, semelhante ao que ocorre no Brasil, mas há uma peculiaridade, como explica Garrido.

"Depois de 25 de dezembro, eles colocam o menino Jesus nas manjedouras que constroem. Já os luteranos têm tradições semelhantes à da Igreja Católica, embora organizem primeiro um jantar comunitário para depois realizarem o culto em celebração ao nascimento de Cristo, que é lembrado com música, danças e peças teatrais", conta.

Outra manifestação conhecida desta época do ano são as "parrandas", que existem desde o século 19, quando um sacerdote pediu que algumas crianças fizessem barulho durante a noite para incomodar as pessoas que preferiram dormir a assistir a missa de Natal. Os anos se passaram, mas até hoje, as pessoas mantêm a tradição, sendo esta, uma das festividades mais famosas de Cuba.

Jasely aponta que é comum, em Cuba, ver em uma mesma família várias crenças e que elas vivem harmonicamente com as diferenças.

"Uma mesma família pode ter várias religiões entre seus membros. Não é incomum ver a parede de uma casa decorada com imagens do cristianismo, divindades africanas, instalações iorubás e manifestações de espiritualismo com fotos de [José] Martí, Che [Guevara] e Fidel [Castro]. As possíveis diferenças não impedem que todos se reúnam, principalmente, no dia 31. A festa começa ao em torno do porco assado e o preparo do caldo que mistura carne de porco e milho e o arroz congrí, típico arroz cubano."

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O vodu haitiano 

No Haiti, apesar da influência da religião vodu, há muitas pessoas que vivem o Natal sob a influência do capitalismo, marcado pelas compras, o consumismo, muitas vezes exacerbado, típico desta época do ano. Ricardo Cabano, que está no país com a Brigada Internacionalista Jean Jaques Dessalines, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conta, contudo, que aqueles que preservam a particularidade da religião vodu, realizem, neste mês de dezembro, oferendas em forma de agradecimento que são levadas pela água em plataformas ou barcos. 

"Eles fazem algo que se assemelha a uma "oferenda" e vão para o mar com banquete e coisas que cada um quiser trazer. Depois eles colocam isso em cima de uma plataforma e deixam a água levar. Outra especificidade é com relação ao vodu. Os sacerdotes preparam bastante alimentação para distribuir nas comunidade e eles também fazem isso nos templos vodus. A distribuição de alimentos é também uma forma de festejar", afirma. 

Edição: Daniel Lamir