RELAÇÕES COM A TERRA

Assentamento do MST em Itamaraju (BA) abriga maior e mais antigo pau-brasil

Uma das missões no território é a conservação e preservação da biodiversidade da Mata Atlântica

Ouça o áudio:

Pau-brasil está ameaçado de extinção de 2004 - João Carnicel (MST/BA)
As 51 famílias que moram aqui vieram nesse intuito de preservar, de cuidar do que temos

O maior e mais antigo pau-brasil está fincado em terras que atravessaram diferentes formas de uso, posse e apropriação em território nacional. Com cerca de 600 anos, a árvore é possivelmente mais antiga que o processo de colonização portuguesa e hoje se mantém preservada por 51 famílias assentadas em Itamaraju, no extremo sul da Bahia.   

O Projeto de Assentamento Sustentável (PDS) que carrega simbolicamente o nome Pau-brasil tem 12 anos. O trabalho no local consiste na preservação da Mata Atlântica, bioma que mantém apenas 12% de sua cobertura original no país.

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Para tanto, são desenvolvidas atividades como coleta de sementes, produção de mudas e identificação de espécies, como afirma a assentada Claudia Vicente.

"Uma vez assentamento, temos esse trabalho de estar multiplicando algumas espécies que temos aqui no PDS. Temos um grupo de coleta de sementes e em breve, se deus quiser, vamos ter um viveiro de mudas, para as espécies que já coletamos”, assegura.    

Só de pau-brasil, o PDS catalogou 720 espécies em 2010. Hoje, há uma estimativa de mais de mil árvores símbolo do Brasil no local. Entre elas, a maior e mais antiga foi identificada pelo assentado Manoel de Jesus em 2014. 

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A espécime é chamada como Árvore-rei no assentamento e possui 7,13 metros de diâmetro e 45 metros de altura, o equivalente a um prédio de 15 andares.

Neste mês de dezembro, o botânico Ricardo Cardim, que pesquisa pau-brasil, publicou no Instagram que visitou o local e atestou que a árvore no assentamento do MST é a maior e mais antiga registrada até o momento.  

O PDS preserva e multiplica também outras espécies centenárias como pequi, jacarandá, sapucaia e oiti. Todo o trabalho está sendo feito para uma transição no modo de uso da terra e relação com a natureza. 

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Antes da emissão de posse da terra no dia 7 de março de 2009, o local era uma fazenda de cacau e parte do território foi degradado. Enquanto missão da Reforma Agrária Popular em Pau-brasil, algumas áreas seguem intocadas para recuperação.

Cada família assentada possui um espaço delimitado para produção em harmonia com a natureza e carrega a condição de guardiãs e guardiões da biodiversidade.

“As 51 famílias que moram aqui vieram nesse intuito de preservar, de cuidar do que temos. E com as muitas espécies, a nossa área é quase toda de Mata [Atlântica], e onde não é mata é tratado no sistema cabruca”, afirma.  

A forma cabruca é utilizada para a produção de cacau, e consiste na relação sustentável com a mata, ao lado das espécies que já existem na flora. Cada família possui um quintal produtivo, favorecendo a organização de uma cadeia agroecológica no PDS.

*Com informações do Coletivo de Comunicação do MST Bahia

Edição: Douglas Matos