Em poucas semanas, a ausência de uma política industrial, a falta de aproveitamento da capacidade instalada para o combate à Covid-19, as demissões e fechamento de postos de trabalho estão entre os principais temas da atual conjuntura.
“Qual é o projeto? É vender empresas e desmanchar, inclusive indústria sólida como a automotiva. E a gente acha que não vai parar por aí, há uma mudança, as tecnologias vão se alterando, mas é necessário uma política econômica de desenvolvimento nacional”, critica a professora Maria Aparecida Bridi, convidada do programa Brasil de Fato Paraná entrevista, que acontece toda segunda-feira, às 18h, e teve início ontem (18).
Bridi é professora do departamento de Sociologia da Universidade Federal do Paraná, é autora dos livro, entre outros, “O protagonismo dos trabalhadores no local de trabalho”, sobre a experiência da Comissão de Fábrica da Volvo de Curitiba, organizadora também de “O Sindicalismo na era Lula – Paradoxos, perspectivas e olhares”.
A professora critica o discurso do governo de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o fechamento das três plantas da Ford seria inevitável, quando sugeriram que o Estado não poderia fazer nada. “Ter um projeto de desenvolvimento nacional, de emprego de qualidade, que são característicos da indústria automotiva, são opções de governo”, analisa. E exemplifica o papel de uma política econômica a partir do Estado:
“Orientei teses de doutorado sobre a construção civil. O Estado contrata uma obra de infraestrutura, em contrapartida, precisam ser empregos formais. Houve redução da informalidade, quando o governo fez a indústria portuária, de construção de plataformas do setor naval, é um exemplo claro de uma política de desenvolvimento que o governo (refere-se aos períodos Lula e Dilma) tomou para si”.
Diante da política orientada pelo governo Bolsonaro, Bridi teme que o país se converte unicamente em uma economia agrário exportadora. É fato que ao longo de três décadas o país passou de 27,3% em 1988 na relação PIB/indústria para o patamar atual em torno de 11%.
A professora identifica indisposição do governo para combater essa situação, porém acredita também que desde o governo golpista de Temer a retirada de direitos trabalhistas se aprofunda. “Em 2016, ouve a promessa de que, com a reforma trabalhista, que alterou profundamente a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) se criariam 6 milhões de empregos, mas nenhum emprego foi criado. Essas empresas têm um cardápio de contratação flexível. Houve a promessa do emrpego de qualidade, que é o emprego formal. Mas isso não aconteceu”, lamenta. A professora refere-se a um contexto em que, desde o golpe de 2016, as políticas de retiradas de direitos se aprofundaram, caso das terceirizações.
Como saída para o atual momento, a partir da participação do público da live, Bridi concorda com especialistas de que o momento é encampar e nacionalizar empresas que fecham e deixam maquinário, capital constante, e estrutura abandonada. Cabe, de acordo com ela, aos trabalhadores fazerem essa mobilização – com a dificuldade do período justamente na ausência de um governo preocupado com a população.
