Sementes crioulas

Diversidade genética do milho favorece variedade de pratos e benefícios para saúde

O patrimônio genético e cultural do milho está sendo ameaçado pela contaminação da transgenia

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A transgenia pode causar uma contaminação irreversível das sementes crioulas
A transgenia pode causar uma contaminação irreversível das sementes crioulas - Joka Madruga
As variedades transgênicas representam uma ameaça de contaminação das sementes crioulas

Há uma diversidade de formas de formas de consumo e preparação do milho na culinária brasileira. A lista inclui pratos como pipoca, pamonha, suco, sorvete, bolo, cuscuz, creme, canjica, milho assado e cozido.

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Essa variedade é possível por conta da grande variedade do alimento que existe no Brasil. A engenheira agrônoma e Doutora em Ciências, pela Universidade Federal de Santa Catarina, Rosenilda de Souza, que trabalha com produção de sementes agroecológicas na Embraba Cerrados, em Brasília (DF), conta que o milho é cultivado desde de norte à sul do país, condição que garante essa diversidade.

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“Temos o milho pipoca, milho doce, milho comum e dentro destes tipos de milho, temos uma infinidade de variedades. Variedades amarelas, roxas, brancas, pipoca amarela, pipoca roxa, pipoca branca, milho doce amarelo, milho doce translúcido, enrugado e toda essa diversidade é conservada pelos agricultores”, ressalta.

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Esses conhecimentos populares e tradicionais adquiridos ao longo das gerações para mantêm a diversidade e variedade das chamadas sementes crioulas do milho. Rosenilda explica um pouco da importância deles para toda a sociedade.

“Elas [as sementes] possuem características particulares que atendem a diversos interesses dos agricultores, seja para alimentação animal, da família, produção de artesanato, uso medicinal ou simplesmente por que possui um valor afetivo e cultural”, explica.

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Rosenilda diz ainda que as sementes crioulas são essenciais para a sustentabilidade da agricultura familiar, pois garantem a independência financeira e alimentar da agricultura familiar.

“A partir do momento que você tem uma semente, que você produz na sua própria propriedade, que você não depende de comprar semente e você tem essa variedade para produzir alimento para sua família, isso está ligado à segurança alimentar familiar”, afirma.

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Porém, todo esse conhecimento e conservação das variedades crioulas está ameaçada pelo avanço das sementes transgênicas, que são modificas em laboratórios por grandes empresas.

“As variedades transgênicas representam uma ameaça de contaminação das sementes crioulas, principalmente, de milho, por meio do cruzamento. Quando uma variedade crioula é plantada próxima a uma variedade transgênica, ela pode receber pólen dessas variedades geneticamente modificadas e se contaminar”, denuncia.

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E além de perder toda essa riqueza cultural que as sementes crioulas carregam em si, essa contaminação compromete o valor nutritivo dos alimentos. Rosenilda conta, por exemplo, que existem muitos estudos mostrando que o milho crioulo tem uma quantidade maior de nutrientes, como antocianinas e carotenoides, que tem função antioxidante.

Além disso, o alimento também é rico em fibras, substância muito importante para o bom funcionamento do intestino, como explica a nutricionista e professora da Universidade Federal do Pará, Vanessa Lourenço.

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“O intestino é um órgão extremamente importante, porque é um órgão que absorve nutrientes, então no momento em que eu como alimentos fontes de fibra, eu regulo esse intestino, melhorando a absorção. É um órgão importante para a imunidade, hoje está se falando muito em fortalecimento da imunidade, para reagir a qualquer infecção”, destaca.

A nutricionista também ressalta que o milho é fonte de zinco e magnésio, que ajudam nas funções de aprendizagem e memória do nosso cérebro. Além de ser rico em luteína e zeaxantina, que previnem problemas na visão.

Edição: Daniel Lamir