Análise

Com vitória de Lira na Câmara,"toma lá dá cá" deve imperar sob comando do centrão

"Acho que nem no período do Sarney havia tanta troca nessas bases como se imagina que ocorrerá", diz diretor do Diap

São Paulo |

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Candidato do presidente Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), durante entrevista à imprensa na Câmara - Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Arthur Lira (PP-AL), candidato de Jair Bolsonaro (sem partido), foi eleito presidente da Câmara dos Deputados nessa segunda-feira. O deputado recebeu 302 votos, dos 513 possíveis, superando seu principal opositor, Baleia Rossi, do MDB, que recebeu 145 votos.

Conhecido pela capacidade de articulação, Lira está em seu terceiro mandato como deputado federal e é líder do centrão. Sua candidatura à presidência da Câmara ganhou força quando Bolsonaro se aproximou de Lira buscando apoio no momento em que os pedidos de impeachment se avolumavam.

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Em troca do apoio do centrão, o governo federal liberou ao menos R$ 3 bilhões para congressistas durante o período da campanha eleitoral no Congresso, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo.

Para Antônio Augusto de Queiroz , diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), mais que Bolsonaro, a grande vitória foi do centrão, por conseguir deixar o governo em uma relação de dependência.

"Vai ser um toma lá dá cá jamais visto nesse país. Acho que nem no período do Sarney havia tanta troca nessas bases como se imagina que ocorrerá. Justamente com o propósito de tirar proveito político dessa dependência do governo. Certamente haverá muitos pedidos de impeachment, haverá pressão popular e o Lira pra conter isso vai obter algum tipo de contrapartida", afirmou o especialista.

Em seu primeiro dia no posto, Lira demonstrou qual será a linha de seu mandato, que tem duração de dois anos. Sua primeira medida foi cancelar o bloco da chapa de oposição que havia sido validada por Maia e reunia oficialmente PT, MDB, PSB, PSDB, PDT, Solidariedade, PCdoB, Cidadania, PV e Rede.

O novo presidente também postergou a eleição para os outros cargos que compõem a Mesa Diretora da Câmara, que deveriam ter sido anunciados no mesmo dia.

A justificativa foi que a inscrição da chapa opositora foi feita no sistema do Congresso após o horário limite. A oposição repudiou a atitude, que considerou antirregimental e ilegal.

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"Não é só uma questão de sistema ou regimento formal da casa, é uma questão da Constituição, as minorias têm que ter direito e tem que ser representadas exatamente pela proporcionalidade que têm", defendeu Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), por meio de suas redes sociais.

"É por isso que vamos brigar no Supremo. E aí nós estamos vendo como começa a gestão de Arthur Lira, uma gestão que será autoritária seguindo os passos de Bolsonaro", afirmou

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No Senado, o nome apoiado pelo governo também saiu vitorioso. Com 57 votos, Rodrigo Pacheco, do DEM, venceu Simone Tebet, do MDB, que teve 21 votos.

Com apoiadores na liderança de ambas as casas, o governo ganha certa estabilidade em relação à pressão que vinha sofrendo. Porém, opositores afirmam que a pauta do impeachment não está totalmente descartada e que agora o momento é aumentar a pressão e a mobilização popular.

"A luta política principal continua sendo o impeachment. E ao lado disso, agora de maneira muito imediata, pressionar para o Congresso Nacional para aprovar a renda emergencial para tirar o povo da miséria e também recursos da saúde para garantir a vacina para todos. Nós temos muita luta pra fazer pela frente só estamos começando", afirmou Hoffmann em sua postagem no Twitter.

Edição: Leandro Melito e Raquel Setz