Mal deu tempo de esquentar a cadeira da presidência da Câmara dos Deputados, e Arthur Lira (PP-AL) – representante da aliança entre o bolsonarismo e o Centrão – anunciou a transferência da imprensa para o subsolo do Congresso. E apressou-se em colocar em marcha uma agenda de votações extremamente dura para o povo brasileiro. Entre as medidas, estão a reforma administrativa e a autonomia do Banco Central. Caso aprovadas, trabalhadores do setor público sofrerão gravíssimos cortes de direitos, e os interesses dos mais ricos terão ainda mais proteção do Estado.
O resultado será o aprofundamento da gangorra da desigualdade: a qualidade dos serviços públicos e as condições de vida do povo tendem a piorar; os lucros de quem já tem muito tendem a subir. E a imprensa terá de acompanhar tudo isso a partir de uma sala sem janelas nos porões de Brasília: um sarcasmo cruel no mesmo mês em que o Brasil pode chegar a 250 mil mortes pela sufocante Covid-19.
Mas, se Brasília está do lado de baixo do Equador, talvez a sombra de nosso vizinho andino possa trazer algum alívio à falta de ar. Por lá, a rejeição à continuidade do projeto neoliberal se mostrou no primeiro turno das eleições presidenciais: três dos quatro primeiros colocados são de esquerda; somaram 58% de votos contra 19% de Guillermo Lasso, o candidato representante dos bancos.