Ásia

Sindicatos protestam na embaixada de Mianmar contra golpe de Estado no país

Manifestantes se reuniram em São Paulo para manifestar “repúdio à aterrorizante tomada de poder pelos militares”

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Sindicalistas na frente da embaixada de Minamar em São Paulo - Foto: Igor Ojeda

Representantes de sindicatos e centrais sindicais estiveram na sede da embaixada de Mianmar, na avenida Paulista, região central de São Paulo, às 10h30 da manhã desta quinta-feira (10), para protestar contra o golpe de Estado aplicado por militares no país, no último domingo (31).

O secretário regional da Internacional de Serviços Público para as Américas, Jocelio Drummond, demonstrou preocupação com a categoria.

“Sabemos que os trabalhadores públicos, em especial da Saúde, estão na linha de frente na resistência contra a ditadura. Isso torna ainda mais importante que os sindicatos no mundo participem de atos em favor da liberdade de Mianmar.”

Os manifestantes levaram uma carta destinada ao cônsul de Mianmar no Brasil, Ricardo Cateb Cury. Porém, a embaixada estava fechada e o documento não pôde ser protocolado. De acordo a organização do ato, o documento será enviado à embaixada por correio.

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A carta é assinada por Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical Brasil, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras da América (CSA), Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM), IndustriALL Global Union UNI Américas, Internacional de Educação (IE) e Internacional de Serviços Públicos (ISP).

No documento, os sindicalistas manifestam o “mais completo repúdio à aterrorizante tomada de poder pelos militares em Mianmar" e afirmam que as organizações "se comprometem a fazer tudo ao nosso alcance para impedir o sucesso desse golpe, garantir a libertação de todos os detidos e pôr fim à violência e perseguição ao povo. Os perpetradores do golpe devem ser isolados.”

O golpe

Militares de Mianmar, país no sudeste asiático, deram um golpe de Estado na noite de 31 de janeiro e assumiram o governo. Eles acusam a Liga Nacional pela Democracia (LND), partido do presidente Win Myint, de fraudar o resultado das eleições de novembro de 2020.

Win Myint é considerado um dos principais aliados políticos de San Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, secretária-geral da LND e conselheira de Estado até o momento do golpe. Os dois foram presos pelo Exército.

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A rede de televisão estatal MRTV foi tirada do ar e serviços telefônicos na capital Naypyidaw também foram desligados. O número total de presos ainda não foi confirmado.

Após dez anos do regime militar (1988-2011)

Em carta escrita antes de ser detida, Suu Kyi afirmou que o golpe significa o reinício de uma ditadura no país após dez anos. Ela pediu a seus partidários "que não aceitem isso" e "protestem contra o golpe".

A junta militar decretou estado de emergência e informou que pretende governar o país por um ano, até que haja condições para uma nova eleição.

O LND conquistou 396 dos 476 assentos no Parlamento em novembro, mas os militares detêm 25% do total de assentos de acordo com a Constituição de 2008. 

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O texto também prevê que o Exército comande parte dos ministérios. A Constituição de 2008 foi escrita pelos próprios militares, antes de cederem progressivamente o poder aos civis.

A Comissão Eleitoral Sindical do Estado rejeitou as acusações de fraude eleitoral na semana passada.

Antiga Birmânia, Mianmar é palco de conflitos religiosos há décadas. Muçulmanos são alvo de ataques pela maioria budista. Em 2015, o país teve as primeiras eleições livres desde 1990.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou "firmemente" a ação, que classificou como "um duro golpe para as reformas democráticas em Mianmar".

Edição: Leandro Melito