Coluna

Pazuello está morrendo pela própria boca

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Pazuello: “Se eu tenho testes ainda estocados, com validade suficiente para trabalhar, isso é porque o estado ou o município, apesar das conversas, não me demandam" - Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
Cada vez que o ministro abre a boca, revela-se mais um ato de irresponsabilidade administrativa

O "Senhor Logística" que comanda a ocupação militar no Ministério da Saúde do governo de Bolsonaro está morrendo pela própria boca. Cada vez que Eduardo Pazuello abre a boca, revela-se mais um ato de irresponsabilidade administrativa na sua condução da pasta.

Somadas, tais práticas certamente abrirão caminho para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de apuração dos desvios, das irregularidades e dos atos de irresponsabilidade administrativa cometidos pelo ministro da Saúde.

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A falta de gerência de Pazuello à frente do Ministério da Saúde é um dos fatores decisivos para o Brasil ter se transformado em uma terra fértil para túmulos, covas e variantes mais agressivas do vírus da covid-19.

A cada dia revelam-se mais falhas e irresponsabilidades administrativas do Ministério da Saúde em todas as etapas de enfrentamento à pandemia.

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Irresponsabilidades no discurso e na gestão

Não se trata somente de irresponsabilidades quanto à sua mensagem pública, que sempre tem sido favorável à exposição e à condenação das pessoas à doença, difundindo o charlatanismo na Medicina ao induzir a população à automedicação, com o uso de remédios sem eficácia para covid-19. Tal orientação irresponsável, feita por meio de aplicativo do Ministério da Saúde, foi suspensa depois da denúncia que nós, da bancada do PT na Câmara de Deputados, fizemos ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Trata-se, também, de irresponsabilidades nas etapas cruciais de enfrentamento à pandemia, seja na ampliação da capacidade de testagem para covid-19 no Brasil, seja na compra de vacinas.

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Compra de testes incompletos 

Em relação à testagem, o Brasil passa vergonha. Estamos com testes encalhados, prestes a vencer, enquanto o Brasil continua na 112ª posição quanto à testagem por um milhão de habitantes em todo o mundo.

Primeiro, Pazuello argumentava que a compra dos testes teria sido feita de modo incompleto, tentando jogar a responsabilidade para a gestão anterior à sua no Ministério da Saúde. Ao fazer isso, Pazuello omite que, naquele momento, ele já atuava na pasta, na condição de secretário executivo, desde a saída do ex-ministro Henrique Mandetta. Ou seja, Pazuello participou do processo de compra que hoje ele define como "incompleto".

Demanda de testes pelos estados

Agora o ministro alega que os estados não têm solicitado os testes ao governo federal. Ora, os estados não os solicitam porque os testes estão incompletos. O Ministério comprou o material em meados de 2020 e, desde então, ainda não conseguiu completá-los.

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E os testes seguem mofando nos galpões de armazenamento do Ministério da Saúde, em Brasília.

Na soma de todos esses eventos, podemos perceber que o "Senhor Logística" que ocupa de modo militar o atual Ministério da Saúde está morrendo pela própria boca.


*Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal eleito pelo PT-SP. Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad.

**Este é um texto de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Rodrigo Durão Coelho