"Pobreza Brasil"

Nordestina e trans, Faela Maya cria webnovela e é sucesso na internet

Sem chances no mercado formal, estudante viu nos vídeos uma saída para gerar renda com a ajuda da família e de vizinhos

Brasil de Fato | Imperatriz (MA) |
Aos 28 anos, Faela Maya é responsável pelo roteiro, produção e edição dos vídeos, que ultrapassam 18 milhões de visualizações nas redes sociais - Reprodução

No interior do Ceará, uma mulher trans transforma os impactos do isolamento social, do desemprego e da pobreza em motivos para rir da vida ao criar seu próprio espaço de trabalho.

Rafaela Maia Magalhães, a Faela, deixou Jaguaribe, no interior do Ceará, para tentar a sorte no mercado formal de Fortaleza, onde cursou quatro semestres de Teatro e cinco semestres do curso de Psicologia.

Sem condições de se manter nos cursos sem estágio e sem emprego, esbarrou nas inúmeras dificuldades encontradas por pessoas sem experiência e transexuais e retornou para Jaguaribe.

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Vivendo com cerca de R$ 30 por mês e na expectativa de prestar concurso para a prefeitura de sua cidade, cancelado no início da pandemia, Faela decide investir na produção amadora de vídeos que já fazia desde 2018, como a webnovela Pobreza Brasil.

"Em abril, o concurso [para a Prefeitura de Jaguaribe] foi cancelado, praticamente tudo fechado e eu dependendo apenas da minha mãe. E no começo do ano de 2020 foi muito difícil para mim, sobrevivendo apenas com R$ 30 por mês. Foi aí que eu decidi retomar os vídeos. Não a novela em si, mas os vídeos aleatórios. Eu fazia mais para ter uma forma de me distrair na pandemia. As pessoas dentro de casa, isoladas, com medo, foi uma forma de me distrair e distrair as pessoas", relata.

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Assista ao primeiro capítulo da webnovela Pobreza Brasil:

Em três plataformas

Em novo formato, os vídeos que já eram disponibilizados pelo YouTube agora migraram também para o Instagram e o Facebook, com versões mais curtas e acessíveis.

É justamente com um vídeo de quatro amigas no que seria um barzinho clandestino em plena pandemia, que as produções viralizaram. Com linguagem popular, no quintal de uma casa, com roupas no varal e causos do cotidiano contados com humor e simplicidade, eles ganham o gosto do público.

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Além de criar o roteiro e editar os vídeos, Faela Maya (à esquerda) participa de alguns episódios dos vídeos / Reprodução

O elenco é composto por pessoas da família e vizinhos de Faela, que acreditaram no projeto e hoje também já conseguem uma renda a partir das produções. Entre eles estão Ivone Maia, Ivonilce Maia, Yslla Maia, Nineide Alves, Pedro Vitor Alves, Talia Ferreira, Joelma Ferreira, Neymar Ferreira, Maria do Socorro de Lima, Maria Helena de Lima e Letícia Pereira.

"O apoio dos meus vizinhos e da minha família foi muito importante para que isso desse certo. Porque eles acreditaram quando ninguém mais acreditava e hoje em dia estamos aí. Duas vezes por semana saem vídeos novos, e estamos continuando e batalhando até hoje", comemora.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Entre os milhares de comentários, destacam-se as recomendações dos vídeos para pessoas em profundo desânimo e depressão, como uma forma de renovar as energias em meio ao isolamento social.

 


Familiares e vizinhos compõem o elenco que conquistou o público / Reprodução

Com criatividade e compromisso, Faela já construiu o seu próprio espaço no mercado de trabalho, que antes lhe foi negado. Hoje são 302 mil inscritos no canal do Youtube, mais de 380 mil seguidores na página do Facebook e 320 mil seguidores no Instagram.

"Eu me sinto realizada, porque, de certa forma, estou sendo inserida no mercado de trabalho. Foi uma forma criativa, uma forma original que eu encontrei de ter um trabalho, de ter uma renda. Eu estava desempregada, não conseguia nada, porque você sabe que a situação é complicada no Brasil para as pessoas trans, não é? Eu não conseguia de forma alguma arrumar emprego", encerra.

Edição: Rodrigo Durão Coelho