Agridoce

Cambuci: da memória afetiva à preservação da Mata Atlântica

A fruta, símbolo paulista, também é motivo para que agricultores preservem o bioma, que abrange 17 estados

Ouça o áudio:

o cambuci tem sabor agridoce e pode ser consumido in natura ou em forma de sucos, geleias e doces - Júnior Magini
Representa memórias afetivas, pondo a mão nela eu lembro do meu pai

Muitas coisas podem despertar a nossa memória afetiva: uma música da infância, o cheiro do café logo pela manhã ou mesmo aquela receita que faz parte da nossa família há anos.

Para o agricultor familiar Júnior Magine é o cambuci, fruta típica da Mata Atlântica, que mexe com suas lembranças de criança.

“Era o sonho do meu pai construir um santuário. Ele passou a vida tentando fazer mudas de cambuci e nunca conseguia, fazia uma e morria. Em 2006, ele veio a falecer e ficamos com essa propriedade e precisava fazer giro, para manter aquilo. Para mim, não só representa uma fruta economicamente, representa memórias afetivas, pondo a mão nela eu lembro do meu pai”, conta.

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E para dar continuidade a esse sonho do pai, Júnior e sua mãe, Maria Elisabeth de Sá, mantém o sítio, Recanto Magini, localizado em Parelheiros, bairro do extremo sul da cidade de São Paulo.

Por lá, eles cultivam mais de 200 pés de cambuci, de onde são colhidos os frutos que dão origem aos diferentes produtos comercializados por eles, como sorvete, vinagre, xarope e até bebidas alcoólicas.

“Temos uma versão da jurupinga de uva, nós fizemos de cambuci também, que eu coloquei de Juniorpinga, o pessoal adora, fala que fica melhor que a de uva. Temos o licorzinho de cambuci, a tradicional cachaça né? Você falava em cambuci, o pessoal falava de cachaça, então fazemos também a cachaça”. 


Bebida alcoólica feita a partir do cambuci e comercializada pelo Recanto Magini / Júnior Magini

Júnior também explica que todos esses produtos são comercializados nos Festivais do Cambuci, que acontecem em diferentes cidades do estado de São Paulo, ao longo do ano. E com a pandemia, eles começaram a vender também pela internet.

Ele e sua mãe também abrem as portas do sítio para o ecoturismo, para pessoas interessadas em ter um contato maior com a natureza. Júnior fala com orgulho do seu trabalho como guardião da Mata Atlântica.

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“Mas, só a alegria de ver a mata se regenerando, os animais voltando e proporcionando as pessoas ter uma alimentação limpa e saudável já satisfaz”.

E além de ajudar na renda de Júnior e de outros cerca de 70 produtores do estado de São Paulo, o cambuci também traz diversos benefícios para a saúde. A nutricionista Karen Longo, do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional, conta que além de ser uma ótima fonte de vitamina C, a fruta de sabor agridoce, também ajuda na defesa do nosso corpo.

“Ele também é muito rico em outros polifenóis, que são substâncias que atuam no nosso organismo com defesas protetoras e anti-inflamatórias”.

Ainda segundo a nutricionista, outro benefício do cambuci diz respeito ao controle dos níveis da glicemia no nosso corpo.

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“É rico em magnésio, que é um mineral muito interessante, até mesmo para o metabolismo de carboidratos. Então, protege contra o desenvolvimento de diabetes e ele também tem betacaroteno, um nutriente precursor da vitamina A, sendo também interessante para a saúde da visão e para a saúde de ossos, da pele”.

Karen também lembra que o período de vida útil do cambuci é muito curto, depois que ele é colhido; por isso, é comum congelar a poupa da fruta para fazer sucos, geleias e sucos.

Você pode conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido pelo Recanto Magini na página recantomaginifrutasnativas.vendizap.com ou no instagram, no @recantomagini

  

 


 

Edição: Douglas Matos