a escolha

Artigo | Lira precisa escolher entre Bolsonaro e a vida dos brasileiros

Com um ano desde o primeiro caso de covid no Brasil, ultrapassamos as marcas de 257 mil mortos e 10,6 milhões de casos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
É preciso ter convicções muito fortes, ultrapassando os limites razoáveis da teimosia e da ignorância, para apoiar Jair Bolsonaro nessa altura dos acontecimentos - Marcos Corrêa / Fotos Públicas

Você deve estar se perguntando quem esse sujeito pensa que é para colocar o recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados contra a parede. Ninguém. Não sou ninguém de importância no cenário político brasileiro. Sou apenas um cidadão, como você.

Um professor, cientista, pai de duas filhas, com pais idosos, que tem estado desde março do ano passado vivendo uma vida regrada, recluso, usando máscara nos poucos momentos fora de casa, sem convívio social, trabalhando remotamente, buscando ajudar de algum modo os mais atingidos, acompanhando os acontecimentos mundo afora e testemunhando, envergonhado e revoltado, o caos no país em que vivo e o aumento das mortes por covid-19, cada vez mais próximas.

É preciso ter convicções muito fortes, ultrapassando os limites razoáveis da teimosia e da ignorância, para apoiar Jair Bolsonaro nessa altura dos acontecimentos.

Para muitíssimo além de disputas políticas e divergências ideológicas, não é possível que paire alguma dúvida de que milhares de vidas brasileiras poderiam ter sido poupadas se o presidente fosse outro, ou mesmo nenhum. Até uma figura omissa, desde que silenciosa, teria causado menos estragos do que o atual presidente em meio à pandemia.

Esse senhor tem atuado deliberadamente para minimizar o problema que o mundo inteiro compreendeu existir, sabotando, a partir do uso do seu cargo, todas as ações plausíveis para combater adequadamente o avanço da doença.

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Com um ano desde o primeiro caso de covid-19 no Brasil, ultrapassamos as marcas de 257 mil mortos e 10,6 milhões de casos. Em 3 de março de 2021, o Brasil quebrou o triste recorde de 1840 mortes por coronavírus em 24 horas. Não é possível imaginar a projeção dos que ainda morrerão em meio a essa gestão caótica da crise, o que inclui uma velocidade de vacinação lenta e irregular, e, especialmente, o comportamento do presidente que se esforça em promover a disseminação da doença sempre que:

Negou (e nega) o real perigo da doença;

Provocou (e provoca) aglomerações de pessoas;

Atacou (e ataca) instituições ligadas à ciência, à saúde e à comunicação;

Omitiu (e ainda omite) os dados oficiais de casos e óbitos por covid-19 no país;

Afirmou (e ainda afirma) que “no que depender dele nunca haverá lockdown no Brasil”;

Culpou (e ainda culpa) prefeitos e governadores da má gestão da crise sem assumir o descaso e a incompetência do governo federal;

Recomendou (e continua recomendando) medicamentos ineficazes e prejudiciais para um tratamento precoce inexistente;

Adquiriu (e pretende adquirir) com dinheiro público enormes quantidades de medicamentos que não têm comprovação de eficácia contra a doença;

Não trabalhou (e continua não trabalhando) efetivamente pela aquisição de vacinas seguras para a população;

Adquiriu vacinas com dinheiro público sem eficácia comprovada;

Promoveu o descrédito da vacinação junto à população;

Naturaliza com frieza o número trágico de brasileiras e brasileiros mortos pela doença;

Foi (e é) contrário à utilização de máscaras, comportamento básico e essencial para o combate à pandemia;

Sabotou o Ministério da Saúde, demitindo ministros que vinham trabalhando em consonância com as orientações da ciência e da Organização Mundial da Saúde, optando por nomear um general tão inepto quanto ele, mas obediente e afinado às suas “convicções”.

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O que mais precisa ser feito?

Não pode ser surpresa para ninguém que o Brasil seja considerado mundialmente como a pior gestão da crise sanitária no mundo e que seja o país com o segundo maior número de mortos por coronavírus no planeta, podendo alcançar a primeira posição, se considerarmos a forma como Brasil e Estados Unidos vêm lidando com o problema.

O argumento de que seria um trauma para o país viver um processo de impeachment nesse momento não se sustenta e é cada vez mais inaceitável. Nenhum trauma pode ser maior do que o que estamos vivendo, e ainda por viver em 2021, com Bolsonaro como mandatário.

:: Com vitória de Lira na Câmara,"toma lá dá cá" deve imperar sob comando do centrão ::

Não espero que Arthur Lira demostre grandeza ou compaixão pelo povo brasileiro. Mas apenas que tenha consciência da sua obrigação de encaminhar os mais de sessenta pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro. Deve fazer isso para salvar vidas e para salvar seu próprio futuro na política. Caso contrário, amargará o ostracismo juntamente com Rodrigo Maia. O povo brasileiro não perdoará a omissão diante desse genocídio.

 

*Marcelo Bizerril é professor da Universidade de Brasília.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Rebeca Cavalcante