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A prioridade é salvar vidas

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Não devemos, nem por um instante, aceitar que mortes prematuras e luto sejam o “Novo Normal”, ou que o direito à saúde negligenciado seja comum - Fotos Públicas
Sem a preservação da vida não teremos de volta a normalidade e nem recuperação alguma

Curitiba, a chamada "cidade modelo" está em colapso. Os números de casos de covid-19 estão disparando e, lamentavelmente, o de óbitos também. Parte dos hospitais já não atendem os novos casos. Neste momento, há 392 pessoas aguardando por um leito hospitalar, sendo 158 para UTI's. Estamos bem próximos de esgotar todos os recursos, tanto humanos quanto os insumos médicos.

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Se a capital do estado, que tem estrutura, orçamento e suporte está nessas condições precárias, como estará a região metropolitana e o interior do Paraná? Enquanto isso, o Governador Ratinho Junior (PSD) ainda não assinou a carta do Fórum Nacional de Governadores, que propõe um pacto para o combate à covid-19 e prevê a aceleração da vacinação, o apoio a medidas preventivas e a ampliação de leitos.

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Até quando Ratinho Junior vai ficar em cima do muro? Até quando ele se negará a assumir medidas mais duras e necessárias ao combate da pandemia?

Toda essa situação de calamidade não aconteceu do dia para a noite. O prefeito Rafael Greca (DEM) demorou muito para tomar medidas mais rígidas. Apesar disso, mesmo tardiamente acerta em assumir a nossa real situação. Estamos em bandeira vermelha!

Com a nova bandeira, que há tempos já estava nos rondando, ficamos próximos de um lockdown efetivo, o que na realidade já deveria ter ocorrido há mais de duas semanas. Verdade seja dita, não aconteceu porque a prefeitura ficou constrangida e com medo de tomar medidas mais enérgicas para não se indispor com o empresariado e sua base negacionista.

Quem concorre a um cargo eletivo, apresenta propostas de política e vence a eleição precisa ter acima de tudo coragem para enfrentar interesses privados que estão abaixo do bem comum e coletivo. Neste momento de pandemia e colapso do sistema de saúde, precisamos de posturas corajosas de nossos governantes. Infelizmente, em Curitiba, no Paraná e na maior parte das cidades, não é isso que vem acontecendo.

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Para o colapso que estamos imersos, o Decreto 565 não responde a altura. Mesmo em bandeira vermelha, mesmo em “lockdown”, as medidas tomadas ainda são brandas. Mas, se quisermos superar essa crise, devemos ser mais radicais, em nome do maior bem, a vida.

Para potencializar as medidas contra a covid-19 e efetivamente nos proteger, o decreto precisa ser de no mínimo 15 dias ao invés de 9. A lista de 66 (sessenta e seis) serviços e atividades essenciais, em tempos de contágio desenfreado, é um grande exagero que comporta muitas exceções.

É preciso entender que quanto mais atividades permitidas, mais pessoas estarão circulando nas ruas potencializando a transmissão do vírus. Assim, urgentemente é preciso reduzi-las. Para diminuir o fluxo e circulação de pessoas, pode-se por exemplo estabelecer um sistema de rodízio para as atividades ligadas ao comércio, escalonando quem abre e quem fecha num determinado dia, pois não precisamos de todos os estabelecimentos abertos ao mesmo tempo para atender nossas necessidades.

Com os rodízios, teremos os serviços essenciais funcionando, mas concomitantemente diminuindo a circulação de pessoas, o número de trabalhadores nas ruas, o uso do transporte público, reduzindo enfim a propagação do contágio.

É preciso também que o Poder Público encontre maneiras de viabilizar que os trabalhadores tenham condições de ficar em casa e que pequenas e médias empresas, principalmente, não tenham prejuízos e possam continuar pagando os salários.

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Neste sentido, o auxílio emergencial se torna urgente e necessário, junto com políticas de crédito e microcrédito que devem vir aliadas a queda das taxas de juros. O nome disso é responsabilidade social.

Ainda que as medidas que o prefeito Rafael Greca tomou não sejam perfeitas, são boas e extremamente necessárias.

Sem a preservação da vida não teremos de volta a normalidade e nem recuperação alguma. Não devemos, nem por um instante, aceitar que mortes prematuras e luto sejam o “Novo Normal”, ou que o direito à saúde negligenciado seja comum.

Como qualquer pessoa de bom senso, eu também quero a recuperação da economia, a redução do desemprego e a volta às aulas, mas sem a preservação da vida, sem nos mantermos seguros e vivos, não teremos uma nova chance e a possibilidade de continuar lutando.

 

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Rebeca Cavalcante