Saúde e economia

Integrantes do mercado financeiro e ex-ministros da Fazenda pedem lockdown e vacina

Carta com 200 assinaturas cita ainda a urgência de auxílio emergencial para todos que perderam renda

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Curitiba (PR) está em lockdown até 28 de março - Giorgia Prates

Um dos argumentos mais frequentes do governo Bolsonaro contra as medidas de isolamento social é a necessidade de preservar emprego e renda dos cidadãos e "não desagradar o mercado". O dilema entre saúde e economia, no contexto da pandemia de covid-19, é falso, como evidencia uma carta aberta assinada neste domingo (21) por 200 economistas e integrantes do mercado financeiro, intitulada O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo.

"Mesmo países que optaram inicialmente por evitar o lockdown terminaram por adotá-lo, em formas variadas, diante do agravamento da pandemia. (...) A recuperação econômica, por sua vez, (...) depende da retomada de confiança e maior previsibilidade da situação de saúde no país. Logo, não é razoável esperar a recuperação da atividade econômica em uma epidemia descontrolada", diz o texto.

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A carta é publicada no pior momento da pandemia no Brasil. Com mais de 292,7 mil mortos, o Brasil vacinou cerca de 5% da população, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mantém seu posicionamento contrário a qualquer medida que restrinja a circulação de pessoas.

O texto lembra que países com pior desempenho econômico tiveram mais óbitos de covid-19.

Entre os signatários da carta estão quatro ex-ministros da Fazenda: Marcilio Marques Moreira, Pedro Malan, Mailson da Nóbrega e Rubem Ricupero. Também assinam cinco ex-presidentes do Banco Central: Afonso Celso Pastore, Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Ilan Goldfajn e Pérsio Arida.

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Em meio ao avanço do vírus, prefeitos e governadores que implementam medidas de isolamento vêm sendo criticados por Bolsonaro, o que dificulta a efetivação dessas medidas.

"Para maximizar a efetividade das medidas tomadas, é indispensável que elas sejam apoiadas, em especial pelos órgãos federais. Em particular, é imprescindível uma coordenação em âmbito nacional que permita a adoção de medidas de caráter nacional, regional ou estadual, caso se avalie que é necessário cercear a mobilidade entre as cidades e/ou estados ou mesmo a entrada de estrangeiros no país", acrescentam os economistas.

"A necessidade de adotar um lockdown nacional ou regional deveria ser avaliado. É urgente que os diferentes níveis de governo estejam preparados para implementar um lockdown emergencial, definindo critérios para a sua adoção em termos de escopo, abrangência das atividades cobertas, cronograma de implementação e duração", completa.

A carta aberta cita ainda a necessidade de um auxílio emergencial que satisfaça a necessidade de quem perdeu renda na pandemia. Por fim, também ressalta a importância da aquisição de vacinas para abreviar a crise sanitária.

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"O ritmo de vacinação no país é insuficiente para vacinar os grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI) no 1º semestre de 2021, o que amplia o horizonte de vacinação para toda a população para meados de 20225. As consequências são inomináveis", alertam os economistas. 

"Os recursos federais para compra de vacinas somam R$ 22 bilhões, uma pequena fração dos R$ 327 bilhões desembolsados nos programas de auxílio emergencial e manutenção do emprego no ano de 2020. Vacinas têm um benefício privado e social elevado, e um custo total comparativamente baixo", acrescentam.

Edição: Daniel Lamir