Amazônia

Animação paraense "As Icamiabas" negocia ingresso no mercado internacional

Idealizadores estão em conversa com serviços de streaming. Com isso, o acesso ao público será facilitado

Ouça o áudio:

A série mostra diversos elementos da cultura indígena como os deuses Tupã — que na série é um cozinheiro — e Jacy — que se apresenta como uma blogueira. - Divulgação
"O grande lance da Cidade Amazônia é que a gente pense em uma Amazônia decolonial"

Quando você escuta ou lê a palavra Amazônia, uma das primeiras coisas que te vem à mente não é preservação? E se eu te contar que existe um desenho que conta a história de índias que protegem a Amazônia do ataque de invasores? Pois é, o Iluminuras Estúdio, de Belém do Pará, criou o desenho animado “As Icamiabas”, que em breve estará disponível em serviços de streaming.

A animação foi inspirada na lenda das "Icamiabas" ou “Iacamiabas”, índias guerreiras que formaram uma aldeia só de mulheres na Amazônia.

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Atualmente, os responsáveis pela série estão em conversas com serviços de streaming, que ainda não podem ser revelados, para conseguir recursos tanto para criar novos episódios quanto para levar a série para o mercado internacional. 

A série, batizada de Icamiabas na Amazônia de pedra, foi produzida em 2012, a partir de um edital da TV Cultura do Pará, e resultou em animações de um minuto de duração.

Agora, a série conta com episódio de aproximadamente 11 minutos cheio de mensagens sobre a defesa da floresta, o cotidiano amazônida e a reflexão de como seria viver um outro tipo de sociedade. Tudo isso com aventura e diversão como todo bom desenho animado.

Para quem é nascido no Pará, a série é um presente para os ouvidos, cheia de gírias como "égua", "mimimi" e "não te faz de leso".

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Otoniel Oliveira, trabalha no Estúdio Iluminuras e é o criador de "As Icamiabas" junto com Petrônio Medeiros. Ele conta que a ideia da série, desde o início era ir além.

"Com essa versão maior da série, de 11 minutos, a nossa ideia era tanto expandir o universo quanto expandir a ideia. O grande lance da Cidade Amazônia é que a gente pense em uma Amazônia decolonial, que possa representar um exercício de como a nossa sociedade poderia se desenvolver se a gente tivesse uma outra lógica que não uma imposição europeia de valores e mercados, mas um outro tipo de relação com a vida e com os outros". 

Essa outra relação que Otoniel fala pode ser encontrada, por exemplo, na relação com as árvores. Na "Cidade Amazônia" cada casa tem uma árvore, que é uma companheira com que as pessoas podem conversar. Além disso, as construções humanas estão imbricadas com a natureza. Uma reflexão a tantas árvores derrubadas para dar lugar a construções humanas. 

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Na série, dona Samaúma, é moradia, mas também uma companheira das personagens Iuna, Laci, Conori e Thyhi. Para o criador da série, essa ideia veio não só de uma criação só, mas de uma percepção de que no Norte do país, sobretudo, na região amazônica, a relação com o feminino é particular.

"Isso também vem da observação de que a gente é um pouco mais matriarcal nesta região. Temos a percepção de uma dinâmica familiar, do centro da família, que gira ao entorno de uma presença feminina, de uma certa sabedoria. Isso pode ser observado tanto em sociedades indígenas quanto não indígenas. Então, para a gente é muito natural fazer uma série que aborda essa dinâmica e esse aspecto". 

Apesar de todas as mensagens que a série traz, Otoniel Oliveira, afirma que o que pretende é que as pessoas possam encontrar na série uma forma de se divertir e também de pensar uma outra Amazônia para o mundo.

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"A gente só quer que seja divertido, assim como é divertido para uma criança o conceito de super herói, de samurai ou o conceito de pirata, a gente tem o conceito de uma mitologia amazônica sendo representada para que se desenvolva essa percepção de que é legal, faz parte da nossa vida, faz parte da nossa realidade e também faz parte de algo que tu devas pesquisar e te aprofundar mais". 

Se essa é a recomendação, o meu filho Rafael Barbosa Bentes, de quatro anos, ficou hipnotizado com o desenho e como todo desenho que ele gosta, pediu para ver "mais uma vez".

O primo do Rafael, Joaquim Corrêa, que tem 10 anos, conta que viu pela primeira vez a série na TV Cultura, na televisão. Além de gostar da série, ele diz que sua personagem preferida é a Thyhi.

"Eu gosto do poder que ela tem, mas também gosto das outras personagens e da dona Samaúma. O que eu acho mais legal na série é que eles falam do jeito que eu falo e elas também protegem a natureza e é muito importante a gente cuidar da natureza".

Edição: Daniel Lamir