Covid-19

PR: trabalhadores do transporte coletivo denunciam condições precárias e superlotação

Mais de mil funcionários foram demitidos, apesar do aporte financeiro recebido pela empresas

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Vacina antecipada é a principal reivindicação da categoria - Giorgia Prates

“Recebemos uma única máscara desde o início da pandemia e um frasquinho de álcool em gel. Trabalhamos com superlotação e voltamos para casa com o risco de contaminar nossos familiares.” Essa é a rotina dos trabalhadores de transporte coletivo em Curitiba, segundo contou um cobrador de ônibus, que atua na função há mais de 30 anos e não quis ser identificado.

As condições precárias de proteção contra o coronavírus vêm sendo denunciadas pela categoria desde o início da pandemia. A principal reivindicação da categoria é que a vacinação seja antecipada. 

“Alegam que somos essenciais para a economia da cidade, esquecem que somos pessoas dentro dos ônibus superlotados”, disse o cobrador. 

Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, a categoria do transporte coletivo está no grupo 4 de vacinação. Atualmente, estão sendo vacinados idosos com mais de 60 anos (grupo 2). 

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O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp) informou, na terça-feira (23), que 21 trabalhadores morreram por covid-19 desde março de 2020.

Já o Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) apontou que o número chega a 100 vidas perdidas para a covid-19.

Empresas recebem milhões da Prefeitura

Em 2020, as empresas que operam o transporte em Curitiba receberam repasse de mais de R$ 203 milhões da Prefeitura. O valor, no entanto, não se reflete na qualidade da prestação de serviços nem na manutenção dos empregos.

“O prefeito repassou mais de 200 milhões aos empresários de transporte coletivo porque alegaram diminuição de usuários na pandemia. Porém, o que estamos vendo é que eles tiraram ônibus, o que tem culminado em superlotação. É a sanha do lucro em detrimento da vida”, aponta o integrante do Fórum do Transporte Público de Curitiba, Lafaiete Neves.

Diante da superlotação, o presidente do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), Fabio Camargo, emitiu medida cautelar restringindo a circulação de ônibus na capital.

O descumprimento do patamar máximo de ocupação dos ônibus foi confirmado em inspeção pelo TCE-PR, no último dia 19. A pedido da Prefeitura, porém, a liminar foi derrubada pelo Tribunal de Justiça do Paraná na noite da mesma data.

Com base em relatório técnico, o TCE-PR, junto à Procuradoria Geral do Estado, vai solicitar ao Tribunal de Justiça do estado que reconsidere sua posição e permita a implantação efetiva da restrição de circulação do transporte coletivo.

Demissões

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2020, o Brasil fechou quase 50 mil postos de trabalho para motoristas e cobradores de transportes coletivos e, no Paraná, o saldo também foi negativo. Em Curitiba, são 437 postos de trabalho a menos para motoristas. Para os cobradores, o saldo é ainda pior: 80 admissões e 774 demissões. São 842 empregos a menos para a categoria, apesar do aporte financeiro que as empresas vêm recebendo. 

Além dos R$ 200 milhões para a capital, as empresas de transporte coletivo da Região Metropolitana receberam R$ 32,7 milhões.

Resposta oficial

Segundo a Prefeitura, a frota, de cerca de 20 mil veículos, está organizada para atender número superior à atual demanda. Durante a bandeira vermelha, informa a Prefeitura, o movimento diário é de 242 mil passageiros. A frota está configurada para atender 450 mil. 

A Prefeitura informou que suspendeu, nesse período, a remuneração das empresas e os repasses de custos de amortização da frota. Há também a garantia de manutenção dos empregos, segundo a administração municipal. 

 

Fonte: BdF Paraná

Edição: Rebeca Cavalcante e Lia Bianchini