Violação de direitos

Jornal Brasil Atual Edição da Tarde | 6 de abril de 2021

Grupo de trabalho criado por Damares Alves sobre crianças e adolescentes de aldeias gera alerta em entidades indígenas

Ouça o áudio:

Organização fundada por Damares chegou a produzir um filme encenado por atores indígenas evangelizados, mostrando as supostas práticas contra crianças
Organização fundada por Damares chegou a produzir um filme encenado por atores indígenas evangelizados, mostrando as supostas práticas contra crianças - Valter Campanto/ABR

A ministra Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, criou um grupo de trabalho com o objetivo de tratar dos direitos e interesses de crianças e adolescentes de aldeias indígenas de todo Brasil. O grupo não possui nenhuma liderança indígena na sua composição, mas tem em seu time, dentre outras, a secretária da Família, Angela Gandra, cuja família é ligada à ordem católica Opus Dei, conhecida por apoiar governos autoritários. 

Para Rosimere Maria Teles, colaboradora da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), sem dialogar com as lideranças indígenas nacionais, locais e órgãos competentes, esse grupo de trabalho não deveria ser criado.

Já Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), diz que os povos indígenas estão passando por um processo de vulnerabilidade que vem crescendo nos últimos anos. Para ele, a criação desse grupo é uma forma de desviar as reais obrigações do governo federal para com os povos originários. 

A preocupação dos órgãos indígenas com a criação do grupo de trabalho vem do histórico de perseguição da ministra aos indígenas. Damares é fundadora de uma organização chamada ATINI, que tem como principal propósito acabar com o suposto infanticídio em aldeias. A organização chegou a produzir um filme encenado por atores indígenas evangelizados, mostrando as supostas práticas contra crianças, como se fosse um hábito comum entre as aldeias indígenas brasileiras.

Em 2014, em conjunto com um deputado da bancada evangélica, foi protocolado um projeto de lei que dava poder para que missionários denunciassem infanticídios nas aldeias. Ou seja, missionários evangélicos tinham autoridade de entrar nas aldeias mais afastadas para inspecionar as comunidades.

O secretário executivo do CIMI afirma que este novo projeto de Damares Alves é mais uma forma de criminalizar a cultura indígena. Para ele, todos esses projetos são tentativas de desmonte dos órgãos de proteção aos povos indígenas, ações que foram intensificadas em 2020. 

*Com informações de Larissa Bohrer.

Confira a reportagem e o jornal completos no áudio acima. 

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O Jornal Brasil Atual Edição da Tarde é uma produção conjunta das rádios Brasil de Fato e Brasil Atual. O programa vai ao ar de segunda a sexta das 17h às 18h30, na frequência da Rádio Brasil Atual na Grande São Paulo (98.9 MHz) e pela Rádio Brasil de Fato (online). Também é possível ouvir pelos aplicativos das emissoras: Brasil de Fato e Rádio Brasil Atual.

Edição: Mauro Ramos