Pedagogias

Programa Bem Viver destaca educação para vidas indígenas e camponesas

Edição conversa com o professor indígena Gersem Baniwa e traz experiência de Escola Família Agrícola (EFA) no Ceará

Ouça o áudio:

Escola Família Agrícola (EFA) Jaguaribana Zé Maria do Tomé realiza atividades práticas, teóricas e lúdicas para contextualizar o território de atuação - Alisson Chaves
O homem se deslocou da natureza, se sobrepõe sobre a natureza. Ele quer dominar

O programa Bem Viver desta segunda-feira (19), Dia de Luta dos Povos Indígenas, destaca a importância da superação de violências contra as etnias originárias no território brasileiro. 

Um dos destaques é a entrevista com Gersem Baniwa, professor indígena e doutor em Antropologia Social. Ele aborda os impactos da visão eurocentrista na diversidade indígena no nosso país, além de propostas para superação do genocídio secular. 

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"Acho que o melhor caminho para superar a dificuldade de acolhimento, compreensão e convivência com a pluralidade e a diversidade, principalmente indígena, é por meio da educação, construindo uma nova consciência, uma nova compreensão do que é a humanidade e do que são as pluralidades das sociedades", defende Baniwa.

A educação é também o destaque na apresentação da Escola Família Agrícola (EFA) Jaguaribana Zé Maria de Tomé, localizada em Tabuleiro do Norte (CE). A experiência está baseada na Pedagogia da Alternância, na proposta de apresentar outros caminhos em uma região de forte influência do agronegócio sobre a juventude rural. 

Povos Indígenas

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A abertura do Bem Viver traz a entrevista com Gersem Baniwa, abordando a frequente imagem estereotipada, racista e limitada que muitas escolas mantém com o chamado "Dia do Índio". O sentido pejorativo é sustentado pelo imaginário de um indígena coberto por pinturas e empunhando flechas.

Ao mesmo tempo, a realidade de uma diversidade de povos indígenas é de violências, invasões, assassinatos e 521 anos de resistência.

Professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Baniwa integrou o Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2016 e esteve à frente da Coordenação do Conselho da Educação Escolar Indígena (CGEEI), no Ministério da Educação.O intelectual defende uma educação autêntica, descolonial e libertadora, capaz de acolher a pluralidade de culturas e saberes. “A escola não indígena precisa descontruir a sua cosmovisão e as suas referências dessa uniformidade e superioridade, e abrir espaço para outras culturas, tradições, saberes e valores”.

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O docente abordou ainda a sobreposição do pensamento moderno em meio às crises contemporâneas, a exemplo da ambiental. 

“O homem se deslocou da natureza, se sobrepõe sobre a natureza. Ele quer dominar. Quer, no fundo, destruir a natureza. Isto é um caminho de suicídio. É um caminho absolutamente sem nenhuma garantia, nenhum futuro, nenhuma sustentabilidade. Até a ciência econômica, matemática e física indica que precisa haver esse equilíbrio entre, por exemplo, o consumo e aquilo que a natureza dispõe”, afirma Baniwa. 

EFA Zé Maria do Tomé

A Escola Família Agrícola (EFA) Jaguaribana Zé Maria do Tomé, localizada em Tabuleiro do Norte (CE), segue desde 2018 desenvolvendo a Pedagogia da Alternância.

A proposta busca favorecer os sentidos educacionais não apenas de quem frequenta as aulas, mas de transformação do território. A EFA está localizada na região cearense que possui a maior disponibilidade hídrica do estado, o Vale do Jaguaribe, formado por 15 municípios.

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Seguindo toda a base curricular do Ensino Médio, a proposta adentra a categoria de Educação Comunitária, com educandos e educandas que buscam caminhos contrários ao da exploração da mão de obra juvenil, por exemplo. 

Adelita Chaves, da coordenação pedagógica da escola, afirma que as origens das pessoas matriculadas neste momento contempla o público da agricultura familiar, acampamentos, assentamento e jovens da cidade. 

“Essa busca por uma escola com educação diferenciada, do campo, com base na agroecologia, com a convivência com o semiárido, a partir de Paulo Freire e buscando o Bem Viver também está sendo procurada por jovens da cidade, que passam por essa mesma realidade de não mais conseguirem se encontrar nas escolas convencionais”, afirma. 


Produção da Rádio Brasil de Fato vai ao ar de segunda a sexta-feira / Brasil de Fato / Bem Viver

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Edição: Daniel Lamir