CAOS SANITÁRIO

Covid: Índia bate recorde de 314,8 mil infectados em 24h e registra cremação em massa

Número de contaminados no país representa 35% dos infectados em todo o mundo; doença escancara problemas estruturais

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Além dos impactos da crise sanitária, indianos sofrem com problemas estruturais do país, como falta de habitação e acesso à água - Arun CHANDRABOSE / AFP

Com quase 315 mil novos infectados, a Índia registrou, nesta quinta-feira (22), seu pior dia da pandemia mais uma vez. O país bateu o recorde mundial que pertencia aos Estados Unidos, que teve 300 mil casos em janeiro deste ano.

Continua após publicidade

De acordo com o Ministério da Saúde indiano, além dos 314.835 casos, foram registradas 2.074 mortes em um dia. Os números representam 15% das vítimas e 35% dos infectados pela covid-19 em todo o mundo, segundo a plataforma Our World in Data, coordenada pela Universidade de Oxford.

Especialistas dizem que o número deve ser ainda maior, e que a contagem oficial é subnotificada. A Índia está atrás apenas dos Estados Unidos quando o assunto são os casos confirmados, com 15,9 milhões contra 31,8 milhões.

:: Leia também: Fome e desnutrição se agravam e colocam em xeque o futuro da quarentena na Índia ::

Em uma segunda onda de infecções, a Índia identificou uma nova variante, que intensificou o número de cidadãos contaminados. Sem leitos, remédios e oxigênio, a situação está insustentável em vários hospitais do país. 

Devido à situação descontrolada, alguns médicos aconselharam pacientes a ficarem em casa. O vice-governador de Delhi, Manish Sisodia, disse que autoridades de estados vizinhos estão impedindo que suprimentos sejam levados à capital para poder preservá-los.

Na última quarta-feira (21), mais de 20 pessoas morreram em um hospital em Nashik, no estado de Maharashtra, por falta de oxigênio. Já em Ahmedabad, no estado de Gujarat, alguns cidadãos esperavam por uma vaga em ambulâncias e em seus próprios carros.

Falta capacidade em cemitérios e crematórios para atender a crescente demanda. Uma cerimônia de cremação em massa foi realizada em Nova Delhi, capital indiana.

O governo do país não quer decretar um lockdown em toda a Índia. Em meio a situação alarmante, a iniciativa teve que partir de cidades e estados, que decidiram adotar medidas restritivas de maneira independente.

A Emirates, principal companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos, decidiu suspender os voos para a Índia de 25 de abril a 4 de maio devido ao caos local. Já o Reino Unido adicionou o país à lista vermelha e, por causa disso, os indianos não vão poder entrar no Reino Unido a partir das 8h30 (horário indiano) desta sexta-feira (23).

Apenas uma fração ínfima de indianos foi vacinada. Autoridades do país afirmam que, a partir do primeiro dia 1º de maio, todas as pessoas com mais de 18 anos vão poder se vacinar. Especialistas, no entanto, dizem que o país não tem doses para os 600 milhões de habitantes que estão habilitados para a imunização.

Problemas estruturais

Além dos impactos crise sanitária causada pelo novo coronavírus, os indianos sofrem com os problemas estruturais do país. Em maio de 2020, o Brasil de Fato noticiou que problemas de habitação no país eram maiores do que se imaginava e que a maior parte das casas na região eram inapropriadas para fazer quarentena por falta de água ou espaço.

Em abril do ano passado, outra reportagem do Brasil de Fato mostrou que a escassez de água afetava 600 milhões de indianos, e dificultava a prevenção ao coronavírus.

Edição: Poliana Dallabrida