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solidariedade

Em Pernambuco, grupos do movimento negro distribuem alimentos para 1.200 famílias

Ação no sábado e domingo é parte de uma campanha nacional e envolveu 20 grupos na Região Metropolitana do Recife

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O Afoxé Alafin Oyó é um dos 20 grupos de Pernambuco que está distribuindo, na ponta, o que foi arrecadado a partir da campanha nacional - Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

Na manhã do sábado (24) o grupo cultural Afoxé Alafin Oyó, em Olinda, abriu as portas para atender a 33 famílias que estão passando dificuldades financeiras em consequência da pandemia. Cada família recebeu uma cesta de alimentos e um ticket alimentação que possibilita fazer compras em supermercados. Em toda a Região Metropolitana do Recife foram atendidas aproximadamente 1.200 famílias, no sábado e domingo (25), através de diversos outros grupos políticos, culturais e religiosos que constroem a luta contra o racismo no estado.

Uma das beneficiadas pela campanha é a educadora Mirela Cavalcanti, que integra o Alafin Oyó. Mirela elogia a iniciativa da campanha. “É muito importante para o nosso povo, que trabalha de domingo a domingo, mas está impossibilitado e sofrendo demais, passando por necessidades”, diz ela, que deseja principalmente que a pandemia seja logo superada e a vida volte ao normal e as pessoas possam trabalhar sem os riscos sanitários atuais. “Trabalho com educação especial, mas por conta da pandemia estou sem poder acompanhar as crianças com necessidades especiais. Estou parada há um ano e a situação só complica a cada dia que passa”, lamenta Cavalcanti, mãe de um bebê nascido há poucas semanas.

A cesta de alimentos que Mirela recebeu traz 10 itens, como banana, melancia, melão, batata doce, arroz e outros produtos. Ela foi adquirida em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que doou parte dos itens da cesta. Todos os alimentos são produzidos pela agricultura familiar, em assentamentos e acampamentos do movimento no estado. O ticket alimentação no valor de R$142,50 permite comprar em supermercados outros produtos. “Várias dessas famílias acabam ganhando outras doações de cestas básicas. Então o ticket dá uma liberdade maior, às mães por exemplo, para que elas possam comprar fraldas e outros itens de necessidades básicas”, diz Yasmin Alves, uma das coordenadoras da campanha no estado.


A cesta contém 10 produtos da reforma agrária e foi adquirida em parceria com o MST / Vinícius Sobreira/Brasil de Fato


O MST doou parte dos itens de cada cesta, assim como doou parte das cestas; em Pernambuco foram 1.200 famílias beneficiadas / Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

O Alafin é um dos 20 grupos de Pernambuco que está distribuindo, na ponta, os alimentos arrecadados a partir de uma campanha maior, nacional. A campanha Tem Gente com Fome é encabeçada pela Coalizão Negra por Direitos, Fundo Brasil, o Instituto Ethos, a Oxfam Brasil, a Anistia Internacional e outras organizações. Em Pernambuco se somaram ainda o MST e o mercado de orgânicos Armazém do Campo. A mobilização reúne cerca de 200 organizações do movimento negro em todo o país. O objetivo é atender, em todo o país, 220 mil famílias. Para isto, busca arrecadar R$120 milhões.

Apesar de ser uma campanha grandiosa, o número de famílias atendidas não chega a 2% do total de famílias brasileiras, o que aponta o tamanho do desafio das campanhas de solidariedade em assegurar direitos básicos para a população. Yasmin, que também integra o Afoxé Alafin Oyó, conta que a campanha surge como resposta à inércia do Estado brasileiro. “Defendemos que a política de segurança alimentar seja feita pelo Estado, mas diante da política genocida adotada, de não garantir renda, alimentação e uma série de direitos básicos, iniciamos essa campanha política e de solidariedade”, diz Alves.

Até agora, a campanha havia arrecadado R$9,6 milhões. Segundo a coordenadora, a região Nordeste é a que mais recebeu repasses das doações. “Por um lado isso é positivo, porque nos ajuda a garantir alimentação de famílias negras que estão passando por dificuldades diante da ausência de políticas públicas. Mas por outro lado o Nordeste está recebendo mais doações justamente por ter maior demanda, então a região segue sendo a mais vulnerável economicamente”, diz Yasmin Alves.

Ela informa que as pessoas que quiserem contribuir com a campanha devem entrar em contato com a Coalizão Negra por Direitos através da página da organização no Facebook ou no Instagram. As páginas do Alafin Oyó nas redes sociais estão fazendo divulgação, mas não são canais oficiais da campanha. Grupos locais de Pernambuco que quiserem se somar à campanha podem entrar em contato com a Articulação Negra de Pernambuco (Anepe).

As doações podem ser feitas em forma de alimentos ou de dinheiro – neste segundo caso, a contribuição pode ser feita com valores entre R$10 e R$5 mil, pagos por boleto bancário ou cartão, num botão disponível no site da campanha Tem Gente Com Fome.


Além de cestas de alimentos, estão sendo distribuídos tickets alimentação; são 1.200 famílias beneficiadas em Pernambuco / Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

Edição: Vanessa Gonzaga