ação imperialista

Artigo | O que está acontecendo na fronteira entra a Colômbia e a Venezuela?

Da posse de Biden-Harris pra cá, podemos citar alguns eventos que já marcam a política exterior da “nova administração"

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
A violência do Estado foi respondida com mais povo nas ruas colombianas lutando contra o governo - Fotos Públicas

Essa “nova” administração Biden-Harris é a continuação da administração Obama-Biden, o mesmo padrão estético e de ação vem sendo utilizado, com um nível mais sofisticado, uma administração Obama 2.0.

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Não é uma mera coincidência que apenas tenha mudado a administração do império e logo em seguida grupos irregulares colombianos tenham iniciado uma guerra não convencional no Estado de Apure, região fronteiriça com a Colômbia.

Separadas pelo Rio Arauca, a zona de La Victoria, localizada no Estado Apure do lado venezuelano e Arauquita no Departamento de Arauca do lado colombiano é o teatro de operações dos confrontos entre grupos irregulares armados colombianos e a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB).

Já em 18 de fevereiro, em pronunciamento oficial da Forças Armadas sobre as contínuas agressões por parte do governo colombiano, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, acompanhado do Alto Mando Militar, afirmou que “a violação a nossa integridade territorial terá uma reação contundente”.

Saiba mais: Entrevista | Colômbia: "o conflito social segue intacto", diz liderança popular

Em um recado direto ao presidente colombiano, Iván Duque, Padrino disse que “Colômbia se converteu em um grande acampamento militar, atua como um grande acampamento militar, dirigido por um pseudo presidente” a serviço de interesses imperialistas e também qualificou os ataques organizados desde território colombiano com o apoio do governo colombiano como atos de guerra.

Vale destacar que, desde o dia 21 de março, o Comando Estratégico Operacional da Força Armada Nacional Bolivariana (CEOFANB) estava executando os exercícios militares “Escudo Bolivariano 2021” em várias regiões do país; e no Estado Apure – especialmente –, contra grupos irregulares armados colombianos.

No dia 22 de março, por meio de um comunicado oficial da FANB assinado pelo Ministro Vladimir Padrino López, vêm a público que os primeiros confrontos ocorreram durante a noite do dia 21 de março no setor La Coromoto, município José Antonio Páez, Estado Apure.

Nos confrontos foi neutralizado um dos chefes destes grupos armados e 32 suspeitos capturados, também foram destruídos seis laboratórios e apreendido “armamento, munições, explosivos, apetrechos de guerra, veículos e drogas”.

O comunicado também informa que vários efetivos militares resultaram feridos e lamenta a morte de dois oficiais em combate, são eles o Maior Edward Ramón Corobo Segovia e o Primeiro Tenente Yonathan Miguel Duarte.

Em uma cerimônia no dia 23 de março, em homenagem aos oficiais mortos em combate, Padrino López disse “que não fique impune a morte desses dois companheiros. Busquemos até debaixo das pedras aos que causaram essa terrível perda a FANB e a Pátria inteira”.

Esses grupos armados irregulares utilizam minas terrestres para proteger os seus laboratórios, atacam as instituições e as infraestruturas públicas com armas pesadas e explosivos, utilizam os habitantes locais como escudo humano para fugir para território colombiano, onde não são perseguidos pelos corpos de segurança do estado colombiano e as redes sociais para disseminar psicoterror com o objetivo de criar uma matriz de opinião de que na fronteira venezuelana existe uma crise humanitária para justificar uma intervenção militar estrangeira.

Outro informe do dia 27 de março, atualiza as informações dando conta de que seis membros desses grupos armados irregulares foram abatidos, 27 suspeitos foram apresentados ao Tribunal Militar 14º de Controle e outros 12 foram presos no dia 26 de março. Também foram apreendidos armamento, granadas, munições, explosivos, prendas militares, veículos, drogas e equipamentos tecnológicos com informações sobre as atividades destes grupos na zona.

O informe recorda ainda à comunidade internacional que “os pré-citados grupos contam com o financiamento do governo de Colômbia e da Agência Central de Inteligência (CIA), razão pela qual suas incursões no espaço geográfico venezuelano devem considerar-se como uma agressão auspiciada por Iván Duque, toda vez que este lhes proporciona apoio logístico-financeiro, criando um corredor criminal na fronteira com o assessoramento do Comando Sul dos Estados Unidos da América do Norte; portanto, não é casual, que estes eventos coincidam com a recente criação de uma Unidade Elite de Ações Especiais”.

No mesmo dia 27 de março, desde o Palácio de Miraflores, o Ministro da Defesa concedeu uma entrevista coletiva para meios de comunicação nacionais e internacionais, na ocasião o ministro enfatizou o papel desempenhado pelo governo colombiano nos ataques contra Venezuela: “lamentavelmente, Colômbia têm se prestado para converter todo o seu território em um acampamento paramilitar e assim agredir e conspirar contra Venezuela... Eu lhe digo a essa oligarquia de Colômbia que não se equivoquem com nós, somos nobres mas sabemos lutar, defender o nosso, temos sangue de patriotas, de libertadores e libertadoras”.

O ministro também deixou bem claro qual deve ser a postura contra esses grupos armadas irregulares em território venezuelano: “qualquer grupo, seja sua tendência ideológica, política, sua natureza ou origem que venha a tentar instalar-se neste solo pátrio, receberá a resposta contundente da FANB; chame-se como se chame (...) Nós temos uma política de Estado muito séria contra o narcotráfico. Mais de 230 aeronaves – até a presente data – têm sido apreendidas, inutilizadas e imobilizadas. É uma situação continuada toda a agressão que recebe nosso país, baixo o incentivo direto dos governos de Colômbia e EUA. Nos adiantamos e fizemos um corte na estratégia que tem desenhada a oligarquia colombiana de agredir a Venezuela”.

No dia 28 de março, o presidente Nicolás Maduro deixou bem claro que a linha central do Estado venezuelano é tolerância zero com qualquer grupo armado irregular no país.

No dia 1 de abril um novo comunicado da FANB atualiza as informações sobre em enfrentamentos e as ações desenvolvidas na fronteira, “nossas atuações somam um total de nove terroristas neutralizados, 31 detidos postos à disposição do Tribunal Militar 14 de Controle com medida privativa de liberdade, uma cidadã que será apresentada nas próximas horas diante do mesmo Tribunal, seis artefatos explosivos desativados em distintos eixos rodoviários da zona, nove acampamentos destruídos incluindo um utilizado para o processamento de pasta de cocaína, e novas apreensão de armas, visores noturnos, equipamentos de comunicação e computação, assim como compostos químicos (ureia)”.

Foi informado também que nove oficiais foram feridos e dois outros membros da FANB morreram em por causa de detonações de minas terrestres, são eles o Sargento Primeiro Andriel Istúriz Sojo e Sargento Segundo Jesús Alexander Vásquez Pérez.

No dia 5 de abril, novamente desde o Palácio de Miraflores, o Ministro da Defesa acompanhado do Alto Mando Militar fez um balanço das operações efetuadas no marco do exercício militar “Escudo Bolivariano 2021” executadas no Estado Apure.

O ministro informou ao país medidas especiais para enfrentar esses grupos armados irregulares na fronteira com a Colômbia, “o Comando Estratégico Operacional (CEO) desenhará e executará planos especiais de segurança pública que enfrentem as ações desestabilizadoras que atentam contra a paz e a harmonia da Nação, a segurança pessoal, o resguardo das instalações, bens públicos e privados, a fim de garantir a ordem interna e os direitos humanos”.

Foram implementadas medidas de controle migratório nos municípios fronteiriços e restrições nos horários de circulação e recreação para lugares públicos e privados.

O ministro também anunciou a ativação de uma Zona Operativa de Defesa Integral Temporal Especial (ZODITE) e da 94 Brigada Especial nessa região da fronteira. Também foram atualizadas as ações desempenhadas e os números resultantes dos combates em território, “apreensão de 16 dispositivos explosivos, especificamente minas anti-pessoas, pela qual temos sofrido lamentavelmente a perda de 8 companheiros da FANB e 34 feridos”.

O ministro enfatizou qual será a doutrina utilizada pela FANB, contra a estratégia imperial, na defesa do território, “nossa consigna é a guerra de todo o povo [...]. Apure é nosso, é liberdade...Apure, é Venezuela”.

Um novo informe de 26 de abril, com novas atualizações davam conta que nas “últimas setenta e duas (72) horas se vem desenvolvendo duros combates com os grupos irregulares armados colombianos, especificamente nos setores despovoados a oeste de La Victoria, município Páez do Estado Apure; como parte da operação Escudo Bolivariano 2021 iniciada no passado 21 de março” e também traz que novas baixas ocorreram de ambos os lados em tais enfretamentos.

No último dia 15 de maio, o ministro da Defesa Vladimir Padrino López reapareceu em transmissão ao vivo para todo o país, desde a sala de imprensa Simón Bolívar do Palácio de Miraflores acompanhado pelo Alto Mando Militar das Forças Armadas para ler um novo comunicado referente aos últimos acontecimentos na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia.

O ministro anunciou que “nas ações de combate no Estado Apure foram capturados oito profissionais militares, dos quais, no passado 9 de maio, recebemos uma prova de vida (...) Denunciamos diante a comunidade internacional, diante dos organismos multilaterais e as organizações de defesa dos Direitos Humanos, o infame sequestro destes soldados, e exigimos aos seus sequestradores a preservação de suas vidas e integridade física”.

Também informou que o Ministério de Relações Exteriores já iniciou os contatos para a coordenação junto ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha para a entrega dos soldados.

A tensão aumenta na extensa fronteira de mais de 2 mil quilômetros compartilhada entre os dois países. E é justamente nessa extensa fronteira que reside a estratégia de criar um conflito armado a partir de grupos mercenários financiados pela Colômbia e pelos Estados Unidos com o objetivo de gerar caos e desestabilização na região.

No dia 18 de maio, ao meio dia, foi divulgada pelo meio de comunicação de direita colombiano “Semana” a informação de que o comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo (FARC-EP), Jesús Santrich teria sido morto em território venezuelano.

Leia aqui: Ex-dirigente da guerrilha FARC-EP, Jesús Santrich é morto pelo exército colombiano

Jesús Santrich comandava junto com Iván Marquez a dissidência “Segunda Marquetalia” desde 2019, quando decidiram retomar a luta armada, depois do não cumprimento dos Acordos de Paz assinados em 2016 pelo Estado colombiano.

A morte de Santrich em território venezuelano pelo exército colombiano foi confirmada através de um comunicado da guerrilha no início da noite. Segundo o comunicado, Santrich foi morto em uma emboscada no dia 17 de maio. O governo venezuelano ainda não emitiu nenhum comunicado oficial sobre o caso.

O comandante Chávez alertava que nos estados que compõem a “meia lua”, são eles: Zulia, Táchira e Mérida – chamados assim por causa de seu formato no mapa venezuelano –; e mais os Estados de Apure e Barinas, seria onde se centraria os esforços do inimigo para balcanizar o território venezuelano.

Por isso Chávez enfatizava na importância estratégica para a Revolução Bolivariana em ganhar os governos nesses estados que fazem fronteira com o território colombiano.

Nas últimas eleições regionais, realizadas em 15 de outubro de 2017, para os governos dos estados a oposição ganhou justamente nesses três estados da “meia lua”.

No próximo dia 21 de novembro teremos novamente eleições regionais para os governos dos estados e o alerta do comandante Chávez segue mais vivo que nunca, é estratégica a vitória da Revolução Bolivariana nesses estados que fazem fronteira com a Colômbia.

A oposição venezuelana parece que vai abandonar a estratégia de não participação nas eleições utilizada nos últimos processos eleitorais desde 2017.

:: 8 militares venezuelanos são sequestrados por milicianos na fronteira com a Colômbia::

Do lado colombiano, os seus problemas internos e as grandiosas manifestações que vem ocorrendo nos últimos 20 dias através do Paro Nacional têm colocado o presidente Iván Duque contra as cordas.

Duque optou pela violência para acabar rapidamente com a revolta interna, mas o tiro saiu pela culatra. Segundo o Comitê Nacional do Paro, até o momento, são 50 manifestantes mortos nas manifestações, 524 se encontram desaparecidos, 578 feridos, com 37 casos de lesões oculares e 21 casos de violência sexual e 1430 prisões arbitrarias. A violência foi respondida com mais povo nas ruas colombianas lutando contra o governo. A revolta do povo colombiano já é histórica e merece todo o nosso apoio e solidariedade.

Em Washington devem estar pensando como não perder a maior base militar estadunidense na América do Sul. Colômbia, é braço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na América do Sul e a Israel latino-americana para os Estados Unidos, é a base de conspiração e execução de todos os ataques contra a Venezuela.

 

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Rebeca Cavalcante