Chimarrão

Estimulante e diurética, erva-mate é parte da identidade cultural de um povo

Alimento é consumido na região Sul do Brasil, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, além de nos países vizinhos

Ouça o áudio:

Erva mate é rica em vitaminas do complexo B, vitamina C e sais minerais - Andrei Holanda/Arquivo pessoal
Consumo de erva mate como infusão veio dos os indígenas guaranis e quíchuas

No café da manhã, após o almoço ou ao final da tarde. Sozinho ou em grupo. Não importa a situação, ele é sempre visto como um companheiro, um caminho para uma nova amizade, uma pausa na correria do dia a dia ou como um bom conselheiro na hora de tomar decisões importantes. Estamos falando de algo que é muito mais que um alimento, é parte da identidade cultural de um grupo: o chimarrão, feito com a erva mate.

Seja preparada como chimarrão ou tereré, a erva é cuidadosamente colocada na cuia junto à bomba, que não deve ser tocada, em um preparo que é quase um ritual, passado de geração em geração. Depois é só adicionar a água, em geral muito quente (no caso do chimarrão), e saborear seu gosto forte a amargo.

:: Conheça a pitomba, espécie nativa brasileira rica em vitamina C e antioxidantes :: 

A erva mate é muito consumida na região Sul do Brasil, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e também na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. Trata-se de um hábito indígena, que tem no seu nome e na lenda da sua origem todo o valor cultural e simbólico que esse alimento carrega. É o que conta a nutricionista Ana Paula Ferreira.

“O consumo da erva mate como infusão começou com os indígenas guaranis e quíchuas. A palavra mate vem do quíchua, que é como eles chamaram a cuia, onde é bebida a erva mate”, diz.

A nutricionista também destaca que a lenda da erva mate é uma lenda guarani.

"É a história de um amor entre pai e filha. O pai era um bravo guerreiro que se ausentava muito. Preocupado, casou a filha para que ela não se sentisse só. A filha então percebeu que quem tinha solidão era o pai, que se distanciava dela, e pediu para Tupã para que o pai não se sentisse tão só", conta.

Foi aí que Tupã mostrou a árvore da erva mate, como fazer a infusão e como fazer a cuia e a bomba. "Então o pai nunca mais ia estar sozinho, porque sempre ia ter o chimarrão para acompanhá-lo”, conclui. 

:: Quer comer flor? Que tal, então, uma receita com a capuchinha? ::

Quem mateia todo dia concorda. É o caso do agricultor Claudiney Batista.

“Eu consumo a erva mate regularmente, como chimarrão. Antes da pandemia era comum ter uma roda de chimarrão onde você consegue ter um ambiente de diálogo de troca de informações, de conhecimento, sempre com o intuito de manter a amizade. Esse é o intuito maior da erva mate: o cultivo da amizade”.

A erva mate também é um alimento saudável, rico em nutrientes e é considerado um estimulante natural. Por isso ele não deve ser consumido por pessoas que sofrem de insônia, ansiedade e hipertensão, pois tem uma grande quantidade de cafeína. Se você não faz parte desse grupo, vale a pena inserir a erva mate no seu dia a dia.

:: Coentro divide opiniões e é ingrediente chave da ‘culinária de resistência’ do Brasil :: 

“A bebida é considerada um alimento saudável, porque tem alto teor de cafeína, teobromina e saponinas. Também tem vitaminas do complexo B, em especial a vitamina B1, vitamina C e sais minerais como cálcio, ferro, fósforo e manganês. É considerado um estimulante, um bom diurético e um facilitador da digestão”, diz Ana Paula.

E para quem não gosta do seu sabor mais amargo, vale saber que o alimento pode ser saboreado de diferentes maneiras.

“A erva mate pode ser consumida de várias formas: o tereré é a bebida fria, o mate doce é a bebida acrescida de uma colher de açúcar cada vez que se coloca água na cuia, o mate com leite é o chimarrão feito com leite quente ao invés de água e o chá-mate, que é a forma da infusão das folhas secas", sugere a nutricionista. 

Além de ser uma aliada da nossa saúde, a erva mate também tem ajudado a recuperar áreas de floresta nativas degradas, como na produção agroecológica de Claudiney.

Ele tem uma propriedade rural localizada no município de Prudentópolis, próximo à Serra da Esperança, uma das regiões mais preservadas do Paraná, que é o estado que mais produz erva mate no país. Em geral ela é cultivada de forma sombreada, junto a outras árvores nativas, como embuia, araucária, canela e cedro rosa.

:: Piquiá-amazônico é rico em gorduras boas e usado até no tingimento de roupas :: 

“O sistema de cultivo utilizado na minha propriedade é o plantio. Eu estou recompondo a floresta que antigamente possuía muita erva mate, em consórcio com a mata que existe na região”, diz.

“A utilização das mudas é de um viveiro próximo a propriedade. São mudas nativas, sempre visando respeito a natureza e ao ser humano, porque é utilizada mão de obra e tem que ter essa visão de respeito ao trabalhador, completa.

E por todo esse potencial, a erva mate vem ganhando cada vez mais marcado e tem sido usada na produção de bebidas alcoólicas, pães, energéticos e chás.

O popular chá-mate, por exemplo, é feito da erva mate tostada e acrescida de outros sabores, o que resulta em um produto menos amargo. Ele é muito consumido no Rio de Janeiro, mas como o famoso mate gelado.

A erva mate também tem sido usada na indústria cosmética, servindo de base para shampoos, sabonetes, hidratantes e esfoliantes. Parte da produção, inclusive, vem sendo exportada para Europa.

:: Biodiversidade da Mata Atlântica guarda frutas ricas em nutrientes, cores e sabores  :: 

E se você não conhecia todas as propriedades da erva-mate e se interessou em inserir esse alimento saudável na sua rotina, confira duas receitas fáceis e muito saborosas:

“Duas receitas rápidas com erva mate: uma delas é o chá, na qual são utilizadas 3 colheres de erva mate e 500 ml de água quente. É só deixar em infusão por 10 min e coar”, explica Ana Paula.

“A outra receita é uma farofa de erva mate: são 250 gramas e farinha de mandioca, 50 gramas de erva mate peneirada, 100 gramas de manteiga sem sal, um pimentão vermelho e um amarelo e o sal e pimenta a gosto. É só refogar os pimentões na manteiga, acrescentar a farinha e erva mate e mexer”, complementa. 

Edição: Douglas Matos