POLÍTICA SECA

Programa de cisternas em risco: “Não se trata só de guardar água, mas salvar vidas”

Com os cortes em políticas públicas de convivência com a seca, moradores do campo sentem o impacto

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Programas sociais como o PAA e o  1 Milhão de Cisternas, do Governo Federal, sofreram cortes de aproximadamente 50% e 94%, respectivamente
Programas sociais como o PAA e o 1 Milhão de Cisternas, do Governo Federal, sofreram cortes de aproximadamente 50% e 94%, respectivamente - Divulgação MDS/Cáritas/Crateús (CE)

A região Nordeste apresentou uma ampliação nas condições de seca. Os estados do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia tem seca moderada; e  Alagoas vive quadro de seca grave, segundo dados do Monitor de Secas do Brasil. O período seco no inverno, que costuma ser chuvoso e garante reserva de água para todo o ano, tem preocupado os moradores do semiárido, que já não contam mais com o mesmo empenho do Governo Federal nas políticas públicas de incentivo e proteção social.

“Eu avalio que a estiagem deve ser tratada politicamente, com políticas adequadas. Quando isto não acontece, a gente tem que chorar a estiagem, fica lamentando que ela venha. Mas quando acontece o tratamento adequado, ela vem e nós sabemos como trabalhar com ela”, analisa Naidison Baptista, coordenador executivo da Articulação Semiárido (ASA) pelo estado da Bahia.

De 2020 para 2021 houve um corte de aproximadamente 50% no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Governo Federal, além de um corte de cerca de 94% no “Programa 1 Milhão de Cisternas”.

Esses dados estão na Lei Orçamentária Anual 2021. Isso impacta diretamente a vida da população do semiárido, uma vez que milhares de famílias dependem dessas políticas públicas. 

“[Essas políticas] mudaram a geografia, mudaram a vida das pessoas, mudaram o cenário brasileiro. É ridículo, absurdo e criminoso o Estado parar de reconhecer essa tecnologia social. Porque não se trata só de guardar água, se trata de salvar vidas.”, afirma Tone Cristiano, coordenador da Associação dos Agricultores e Agricultoras Agroecológicos de Bom Jardim (Agroflor), no município do Agreste pernambucano. 

A redução dos investimentos públicos é a principal dificuldade.

“Quando iniciou esse projeto, era uma questão das associações, dos grupos de agricultores formais e informais se organizarem para acessar esse recurso, essa era a dificuldade. Hoje. a dificuldade é em ter o recurso”, afirmou. 

As políticas que contribuíam para a saúde e a subsistência das famílias, garantiam também a sua permanência no território, uma vez que a fome e a pobreza são os principais motivos do êxodo rural.

“Sem essas políticas e com propriedades pequenas (a média dessas propriedades da agricultura familiar está entre 10 e 12 hectares) então, o que resta ao agricultor? Passar fome. Ou então sair do seu espaço, sair do seu lugar.”, analisa Naidison.

A equipe do Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria Especial de Desenvolvimento Social, que integra o Ministério da Cidadania, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.
 

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vinícius Sobreira