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As Forças Armadas e o estado da arte da covardia

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O que se vê é a normalização de atos absurdos, ilegais e inconstitucionais. Crimes sem punição, que aceitamos diariamente, sem reação - Marcos Correa/PR
O Ministério da Saúde foi ocupado por um pelotão de incompetentes para a função

A nota emitida pelo Ministério da Defesa, no último dia 7, é golpista e covarde. Foi publicada em resposta ao senador Omar Aziz, que mencionara o fato de fazer muitos anos que o Brasil não via falcatruas praticada por membros do “lado podre” das Forças Armadas. A nota dos comandantes militares é uma ameaça, com forte conotação golpista.

É preciso dizer não a essa escalada. Não é possível silenciar.

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As Forças Armadas - cujos limites de atuação constitucional servem e se submetem ao Estado Democrático de Direito e aos Poderes Civis constituídos -se intrometem na política e se aliam aos crimes praticados pelo comandante em chefe, Jair Bolsonaro. Com a publicação da nota, colocam o dedo no gatilho. Querem o que? Uma quartelada?

O presidente Bolsonaro negou a pandemia. Propagandeou tratamentos fajutos. Fez campanha contra o uso de máscaras. Promoveu aglomerações. Tirou a máscara do rosto de crianças. Retardou a compra de imunizantes, além de colocar em dúvida a eficácia dos disponíveis. Há fortes indícios de que tenha prevaricado, ao ser informado, pessoalmente, das tramoias que ocorriam nos porões do Ministério da Saúde.

::Oposição denuncia que Bolsonaro admitiu prevaricar em caso de corrupção sobre Covaxin::

Tudo isso em um cenário de guerra, com UTIs lotadas. Médicos, médicas, enfermeiros, enfermeiras e demais profissionais da linha de frente exauridos. A pandemia, fora de controle, foi tratada de forma criminosa pela Presidência da República. Tudo indica que dolosamente.

O Ministério da Saúde foi ocupado por um pelotão de incompetentes para a função. Militares estranhos ao meio e que lá foram colocados por um general da ativa, Pazuello, um dito “expert em logística” que, no mínimo testemunhou, como Ministro da Saúde, a falta de oxigênio em plena Amazônia. Um oficial general preso a uma lógica militar, em um ministério civil, o qual não tinha o mínimo preparo para comandar ou autonomia para discordar.

Depois da publicação da nota, os generais voltaram à carga, agora representados pelo comandante da Força Aérea, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior. No dia seguinte à nota, em uma entrevista ao jornal O Globo, o brigadeiro refez a ameaça e disse que as Forças Armadas têm base legal para agir. Isso não é verdade. Não há base legal que sustente as ameaças do Ministério da Defesa e dos comandantes da Força.

::Qual a relação da absolvição de Pazuello com a impunidade dos crimes da ditadura?::

Presas à lógica miliciana da família Bolsonaro, as falas dos generais comandantes acovardam as Forças Armadas. Derretem a própria credibilidade, parcialmente reconquistada após o envolvimento em torturas, prisões arbitrárias e assassinatos, durante a ditadura.

Sob a lógica neofascista do bolsonarismo, observa-se a corrosão da democracia. A cena se agrava, por conta das ameaças vindas dos quartéis.

O que se vê é a normalização de atos absurdos, ilegais e inconstitucionais. Crimes sem punição, que aceitamos diariamente, sem reação.

Ao violentar a Constituição, Bolsonaro e seus capangas desprezam o Estado Democrático de Direito e infligem à sociedade brasileira sua ideologia imperial e fascistóide, amparada em uma gestão predatória, machista, racista, misógina e desumana.

Talvez devêssemos pensar em ações sistêmicas, efetivas e informativas. Uma vigília diária, permanente, em defesa do estado democrático de direito. É preciso dizer não à escalada criminosa do presidente da república e da banda podre das Forças Armadas.

 

*Marques Casara é jornalista especializado em investigação de cadeias produtivas. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Leia outras colunas.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Rebeca Cavalcante