Amigo do presidente

Airton Cascavel negociou com Bolsonaro apoio a candidato nas eleições de 2020 em Boa Vista

Assessor de Pazuello na Saúde foi deputado pelo mesmo partido que Bolsonaro na Câmara dos Deputados nos anos 90

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Airton Cascavel foi da mesma sigla e legislatura que Bolsonaro, 20 anos antes de assumir cargo na Saúde - Divulgação

O empresário Airton Antonio Soligo, conhecido como Airton Cascavel, que depõe à CPI da Covid nesta quarta-feira (4), disse ter negociado com o presidente Jair Bolsonaro o apoio a um candidato à prefeitura de Boa Vista, capital de Roraima, nas eleições municipais de 2020.

Durante convenção do PSL de Roraima, em 7 de setembro de 2020, enquanto ocupava cargo como assessor especial do Ministério da Saúde no governo Bolsonaro, Cascavel disse que o então pré-candidato Antonio Nicoletti teria o apoio do presidente nas eleições municipais.

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“Na sexta-feira [4 de setembro], pedia para o Bolsonaro: ‘presidente, grave para o Nicoletti uma mensagem’. E ele [Bolsonaro] disse: ‘Cascavel, você pode dizer a Boa Vista que o Nicoletti é meu candidato, é o candidato do Bolsonaro”, disse o então assessor da Saúde na ocasião.

Depois da repercussão e da negativa de próprio presidente, que àquela altura ainda resistia a fazer campanha nas eleições municipais, negou ter autorização de Bolsonaro para publicizar o apoio a Nicoletti. Ele reafirmou, contudo, que falou com o presidente dias antes.

“O presidente tem uma postura de não gravar para ninguém, e o presidente me disse isso”, disse Cascavel, em entrevista à Folha de Boa Vista, em setembro do ano passado.

O próprio Cascavel seria beneficiário da eleição de Nicoletti, que tem mandato de deputado federal pelo PSL em Roraima. Ele é o primeiro suplente do partido no estado, e garantiria a vaga na Câmara dos Deputados caso o titular assumisse a prefeitura de Boa Vista.

Cascavel chegou a ser deputado federal na mesma legislatura que Bolsonaro, de 1995 a 1999. Então filiado ao PPB, teve 15.234 votos e garantiu a cadeira. A sigla é a mesma que fazia parte o atual presidente na ocasião.

Dois meses depois da passagem pelo Ministério da Saúde, Cascavel assumiu o cargo de secretário estadual de Saúde em Roraima. Com a escolha para o cargo, o governador Antonio Denarium (PSC), apoiador declarado de Bolsonaro, disse que pretende "ampliar e melhorar o relacionamento com o governo federal".


Airton Cascavel com o governador Denarium após assinatura do termo de posse na Secretaria Estadual de Saúde / Divulgação

"Agradeço ao governador pela confiança de me colocar na secretaria mais difícil que existe", disse o novo secretário no discurso de posse. Cascavel foi demitido pouco mais de dois meses depois.

Cascavel engrossa o grupo de ex-integrantes do governo estadual roraimense que atuou no Ministério da Saúde, composto também pelo marqueteiro Marcos Eraldo Arnoud Marques, conhecido como Markinhos Show, e pelo ex-secretário-executivo, o coronel Élcio Franco.

Cascavel no banco da CPI do Senado

Segundo a CPI, Cascavel é amigo do Pazuello e participou de agendas públicas e reuniões com o ex-ministro. Depois que a informalidade foi divulgada na imprensa, Pazuello o nomeou assessor especial, cargo ocupado de junho de 2020 a março de 2021.

Autor do requerimento, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), aponta que gestores estaduais e municipais consideravam que Antonio Soligo era o "ministro de fato" da pasta, e quem resolvia muitas das questões burocráticas e logísticas do Ministério. 


Airton Cascavel e Paulo Guedes durante anúncio do acordo por vacinas contra covid-19 com a Pfizer / Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Durante a gestão Pazuello, da qual o senhor Airton Antonio Soligo teve papel preponderante, o Brasil presenciou o colapso dos sistemas de saúde pelo país”, aponta Randolfe.

Edição: Vivian Virissimo