PROVA DE FOGO

Congresso do Peru dá voto de confiança ao gabinete de ministros de Castillo

Gabinete do novo presidente peruano já havia sofrido mudança após renúncia de chanceler

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Primeiro ministro Guido Bellido apresentou plano de governo para obter o voto de confiança no Congresso - Agencia Andina

Nesta sexta-feira (27), o Congresso peruano outorgou o voto de confiança ao gabinete de ministros de Pedro Castillo. Com 73 votos favoráveis e 50 contrários, o chefe de Estado poderá seguir sua gestão sem novas mudanças.

O chefe de Estado agradeceu os congressistas. "A busca por consensos permitirá governar junto ao povo e pelo desenvolvimento de políticas públicas de caráter social."

A menos de um mês da posse, o primeiro-ministro Guido Bellido solicitou a renúncia do chanceler Héctor Béjar em meio a uma campanha opositora promovida pelos meios de comunicação e as Forças Armadas. Béjar foi criticado por associar a Marinha peruana com atos terroristas da década de 1970.

Agora, a bancada de direita assegurou que irá exigir que cada ministro apresente seu planejamento nas comissões correspondentes no Congresso. A oposição também já tem preparado um expediente de moção de censura contra sete ministros nomeados por Castillo.

"O Peru sempre teve governos ditatoriais. Os governos democráticos, em geral, foram exceções e durante essas exceções a direita sempre conspirou, tornando impossível a manutenção desses governos democráticos", afirmou o ex-chanceler em entrevista à Telesur. 

O Congresso da República do Peru é formado por 130 congressistas, divididos em 11 bancadas de maioria opositora. Sendo 37 do partido governante Peru Livre; 24 do partido de Keiko Fujimori, Força Popular; 16 do partido de centro-direita Ação Popular; 15 da Aliança para o Progresso; 13 do partido Renovação Popular; 7 do Avança País; 5 do Juntos Pelo Peru, Somos Peru e Podemos Peru; e 3 do Partido Morado, de Francisco Sagasti. 


Peruanos se manifestaram em frente ao Congresso exigindo o voto de confiança dos parlamentares ao governo de Castillo / Ernesto Benavides / AFP

Votação conturbada

Foram mais de 10 horas de debate no legislativo até que o governo obter a maioria simples. Em frente à sede do Poder Legislativo, simpatizantes do partido Peru Livre realizaram um plantão desde a última quinta-feira (26) para pressionar os congressistas.

Durante quase três horas, o primeiro ministro Guido Belli expôs o plano de governo aos parlamentares. Destacou que a saúde será prioridade para derrotar a pandemia e reativar a economia. 

A Saúde receberá 2,8 bilhões de soles, cerca de R$ 3,5 bilhões, para imunizar 50% da população contra a covid-19 até final de setembro. Até o momento cerca de 27% da população peruana recebeu pelo menos uma dose. 

O premiê ressaltou que no dia 28 de julho haviam sido administradas 13 milhões de imunizantes, enquanto em 27 de agosto a cifra era de 17 milhões de doses aplicadas. Para aumentar vacinação, disse que a chancelaria peruana terá como primeira tarefa buscar novos contratos com distintos fornecedores de imunizantes. 

:: O que defendem Pedro Castillo e seu partido ::

Os novos governantes também pretendem criar um sistema único de saúde pública no país.

O premiê também prometeu a criação de um imposto sobre a extração mineira, aumentar os fundos públicos para previdência e os
salários dos professores e trabalhadores da saúde.


O Ministro de Economia do Peru assegurou que sua primeira medida será mudar os impostos às pequenas e médias empresas para reativar a produção nacional / Agencia Andina

Guido Bellido foi criticado pelos opositores por ter iniciado seu discurso em quechua e aymara, idiomas das duas maiores nações indígenas do país. O premiê é caracterizado pela grande mídia como membro de uma suposta "ala radical" do partido Peru Livre.

"A missão histórica deste governo é realizar mudanças estruturais de maneira ordenada, democrática e em paz", declarou.

Durante toda a sessão, os deputados dos partidos de extrema-direita Força Popular, Renovação Popular e Avança País criticaram a formação do gabinete, sugerindo que o novo presidente que implementar o "comunismo" e defenderam o "não".

Enquanto as bancadas mais moderadas, como o Partido Morado, do ex-presidente Francisco Sagasti, defenderam o voto "sim" em nome da estabilidade política do país. Os deputados de Juntos pelo Peru, da base governista, também reiteraram que o governo sequer falou sobre a proposta de reforma constitucional buscando obter o consenso.

O secretário geral do Peru Livre, Vadelmar Cerrón, destacou a importância da unidade para a nação. "É momento que reflexionemos e comecemos a unir forças antes de apontar as diferenças. A Pátria nos necessita", defendeu

Na última semana, a Alba Movimentos denunciou que o Peru estava sob ameaça de um golpe e o governo deveria ser defendido pelo povo.

Edição: Thales Schmidt