Variante Delta

Pandemia: Estados se preparam para aplicar terceira dose e Rio de Janeiro enfrenta novo colapso

Cresce a constatação de que a nova cepa do novo coronavírus avança para outras unidades da federação

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Estudo aponta que as características atuais do surto no Rio de Janeiro é similar ao início da pandemia
Estudo aponta que as características atuais do surto no Rio de Janeiro é similar ao início da pandemia - Nhac Nguyen / AFP

Enquanto o Rio de Janeiro é o estado onde a variante delta ainda impacta mais gravemente os números da covid-19 no Brasil, cresce a constatação de que a nova cepa do novo coronavírus avança para outras unidades da federação. Além de ser até 70% mais contagiosa, a mutação consegue circular entre vacinados e também reduz a eficácia das vacinas especialmente em organismos que tenham recebidos apenas a primeira das duas doses necessárias para completar a imunização. Estudos também apontam queda importante da proteção entre idosos e imunossuprimidos.

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Por essas razões, estados trabalham para antecipar a terceira dose para os grupos mais vulneráveis. Em São Paulo, o governo Doria divulgou calendário de vacinação para de idosos a partir de 60 anos. A partir de segunda-feira (6), pessoas com 90 anos ou mais, além de imunossuprimidos (pacientes com Aids, em tratamento de cânceres, em hemodiálise) deverão procurar a dose de reforço. Com exceção dos imunossuprimidos, os demais devem estar vacinados há mais de seis meses. Já o governo federal deve iniciar a imunização em todo o país a partir da segunda quinzena deste mês.

Negacionismo e corrupção

O Ministério da Saúde reagiu ao movimento de São Paulo e ameaçou o estado com boicote na entrega de vacinas caso não sigam o Plano Nacional de Imunização (PNI). O governo federal também autorizou as terceiras doses das vacinas Pfizer, AstraZeneca e Janssen, excluindo a CoronaVac. “Não é correto, nem justo e nem ético que tenhamos esse dispositivo de vacinas e ele não seja usado em sua plenitude”, disse o secretário de Saúde do estado, Jean Gorinchteyn.

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O presidente Jair Bolsonaro já disseminou mentiras sobre a segurança e eficácia da CoronaVac. A vacina foi desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac à revelia das vontades de Bolsonaro. Negacionista, o presidente rejeita a ciência, inicialmente, adotou postura negacionista sobre os imunizantes. Além disso, é investigado por prevaricação na compra de vacinas. Mesmo a compra delas está envolta em escândalos de corrupção, formação de quadrilha, tráfico de influência, entre outros crimes em apuração pela CPI da Covid.

Covid e variante delta

Nesta quarta-feira (1) o Brasil registrou 737 mortes por covid-19, totalizando 581.150, de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Foram também notificados 27.345 novas infecções. Com a soma das últimas 24 horas, o país chegou a 20.804.215 doentes desde o início do surto, em março de 2020. O país segue em uma tendência de melhora na epidemia com o avanço da vacinação. A média diária de mortes, calculada em sete dias, está em 644, menor patamar desde o dia 29 de dezembro do ano passado.

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Entretanto, pelo avanço da variante delta, o Rio de Janeiro segue em caminho oposto. São 12 cidades em estado de colapso do sistema hospitalar pela falta de leitos de UTI, com ocupação acima de 90%. Destes, oito estão com filas e 100% de ocupação, incluindo a capital fluminense. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou hoje um estudo sobre o estado, em que afirma que o Rio “segue na direção contrária ao que tem se visto em todo o Brasil”.

Alerta máximo

“O município do Rio de Janeiro apresenta reversão da tendência de queda de casos, e o estado do Rio de Janeiro, por sua vez, apresenta oito municípios com taxa de ocupação de leitos de UTI covid-19 em 100%, reacendendo um sinal de alerta para a atual situação da pandemia na cidade”, destacam os pesquisadores do Observatório. “É oportuno, então, verificar a série histórica, na tentativa de compreender a nova dinâmica que se anuncia, para que possamos prever cenários e adotar medidas adequadas e oportunas para impedir o crescimento sustentado de casos e, consequentemente, de mortes”, completam.

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O estudo aponta que as características atuais do surto no Rio de Janeiro é similar ao início da pandemia, quando não haviam medidas de isolamento social. Isso, porque as ações protetivas foram, em partes, suspensas pelo poder público e, também, as que ainda vigoram, são largamente desrespeitadas. “Qualquer decisão de redução de restrições sobre a circulação de pessoas deve ser tomada a partir de uma tendência de queda de indicadores de forma sustentada no tempo. O momento é, portanto, de alerta”, apontam os pesquisadores.

Como um estado essencial para a economia brasileira, as recomendações se estendem para todo o país. “O Rio de Janeiro possui uma dinâmica econômica e social de alta conectividade com outros centros urbanos, além de ter uma das maiores concentrações de aglomerados subnormais do país, o que favorece a disseminação da doença no território”, completam.