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Esperançar com Paulo Freire: crianças refletem sobre o legado do pensador no Radinho BdF

Para celebrar o centenário do educador, crianças falam sobre seus professores e sobre o poder transformador da educação

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Paulo Freire é considerado um dos maiores intelectuais do mundo
Paulo Freire é considerado um dos maiores intelectuais do mundo - Instituto Paulo Freire/reprodução
Um conselho seria: não permitam matar em vocês a curiosidade diante do mundo

Para celebrar o centenário do educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira, comemorado no próximo domingo (19), crianças de diferentes partes do país contam o que sabem sobre o ele e o que mais gostam em seus professores e em suas escolas, em um debate sobre educação e sobre o direito de aprender e de ser curioso. Afinal, como dizia Paulo Freire: “não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes.”

“Ele era um educador que nasceu em Recife, em 1921, e aprendeu a ler e escrever de um jeito bem interessante: debaixo de uma mangueira. A terra era seu quadro e um graveto o seu lápis”, contou Paulo Ernesto, que tem 10 anos e mora em Caruaru (PE). Por conta disso, antes dos seis anos, Paulo Freire já sabia ler e escrever.

Ainda na infância, ele superou outros desafios. Perto dos 13 anos, precisou ficar um período fora da escola, devido a morte do pai e a pobreza que atingiu a família, formada por três irmãos e sua mãe, dona Edeltrudes.

Paulo Freire, ou Paulinho, como era chamado na infância, cresceu sonhando em se tornar um professor dedicado, como a professora da Sarah Oliveira, que tem 9 anos, e mora em Nova União (RO). “Na escola onde eu estudo que gosto de todo os profissionais. Minha professora é a Valdirene. Ela explica as coisas bem direitinho e está sempre disponível para a gente tirar nossas dúvidas”, disse. “Ouço muito falar de Paulo Freire, inclusive, é o nome da minha escola. Eu sei que ele foi um grande educador popular.”

Todas essas experiências tornaram o olhar de Paulo Freire mais sensível para os problemas sociais. Ele implantou projetos inovadores na área da educação e escreveu livros que viraram clássicos no mundo, como “Pedagogia do Oprimido”, “Pedagogia da Autonomia" e o imperdível “Pedagogia da Esperança” que nos mostra como trabalhar por um futuro melhor e mais justo.

“Paulo Freire é um eterno menino, cheio de esperança em um futuro melhor para todos. Além de um grande professor, ele também foi um grande pensador. É o autor mais lido do mundo na área de educação”, contou a assessora do Instituto Paulo Freire, professora Fernanda Soares. “Ele acreditava em um outro mundo possível, sem nenhuma distinção. Um mundo onde todos pudessem ser o quem são, com seus direitos garantidos. Ele defendia a justiça social.”


Paulo Freire recebeu mais de 39 prêmios e honrarias, em diferentes países, pelo seu trabalho como educador / Divulgação

Alfabetização de adultos

Quando começou a dar aulas, em 1940, Paulo Freire comprou a briga por reduzir o analfabetismo entre adultos no Brasil. Ele criou um método chamado Educação Alfabetizadora de Jovens e Adultos, que alfabetizava trabalhadores levando em conta o cotidiano de cada um. Freire percebeu que se usasse palavras que estavam presente no dia a dia dos alunos era mais fácil ensinar. Tijolo, fogão, cana, enxada são alguns exemplos delas.

No ano de 1963, no município de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, Paulo Freire aplicou pela primeira vez o seu método de educação de jovens e adultos. A meta era bastante ousada: alfabetizar pelo menos 300 pessoas em 40 horas.

Quem aprendia a ler e escrever tinha mais condições de entender o que estava acontecendo e o quanto estava sendo explorado como trabalhador. Além disso, o direito de votar naquela época só era dado para quem era alfabetizado.

“Os ensinamentos de Paulo Freire vão nos ajudar muito, ou já estão ajudando, porque hoje temos muito mais escolas públicas do que privadas”, disse o Samuel, que tem 11 anos, e mora no Rio Grande do Sul.

Exílio

Pelo seu trabalho e seu compromisso com os mais pobres, Freire foi perseguido e preso durante a Ditadura Militar. O Programa Nacional de Alfabetização, elaborado por ele, foi interrompido. Paulo foi exilado e passou 16 anos longe do Brasil.

“O meu tempo do exílio foi um tempo de intensa aprendizagem, mas foi uma aprendizagem difícil, longe da sua realidade, do seu contexto, longe da usa família, dos seus amigos, da cor das nuvens, do cheiro da comida… Não é fácil aguentar essa saudade grande”, disse Paulo Freire em uma entrevista para o antigo programa Matéria Prima, da TV Cultura. “Meu gosto é que nós todos, brasileiros e brasileiros, menino e meninas, tomemos um tal gosto pela liberdade, pela presença no mundo, pela pergunta, pela criatividade, pela ação, pela denúncia, pelo anúncio que jamais seja possível voltar a pesada experiência do silêncio sobre nós”.

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História e brincadeiras

Já que essa edição do Radinho BdF, coloca uma lupa sobre a importância da educação no Brasil, as crianças podem conhecer a Gina, personagem da história de hoje. Ela recebia cartas cheias de palavras, mas não conseguia decifrar o que estava escrito, porque não sabia ler. Para descobrir o que as cartas diziam é só abrir bem os ouvidos para escutar “Letras de Carvão”, de Irene Vasco, na voz da contadora de histórias Bruna Melauro.

E na hora da brincadeira, as crianças são convidadas a observar o mundo ao seu redor a partir de algumas atividades que ajudam a incentivar a curiosidade, a percepção e o conhecimento da natureza. Tudo guiado pela educadora Fabiana Castilho, que mantém um perfil no Instagram de brincadeiras e experiências, chamado Sutilezas no Olhar.

A criançada ainda pode colocar o corpo para dançar na Vitrolinha BdF, ao som de “Cabruêra”, do grupo Cangaço e de “Esperançar por esse Chão”, uma homenagem do artista Edu Maria a para Paulo Freire, o menino que aprendeu a ler no chão de terra e transformou a história da educação do mundo.

“Se eu tivesse que dar um conselho para vocês aqui hoje seria: primeiro, não deixe morrer em vocês os jovens que vocês estão sendo, segundo não permitam matar em vocês a curiosidade permanente diante do mundo”, concluiu Freire, nosso eterno mestre.


Toda quarta-feira, uma nova edição do programa estará disponível nas plataformas digitais. / Brasil de Fato / Campanha Radinho BdF

Sintonize

O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.

Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: [email protected].

Edição: Sarah Fernandes