EXTREMISTA

Quem é a ex-jogadora de vôlei que faz campanha no Twitter contra vacinação de adolescentes

Moradora dos EUA, extremista Ana Paula Henkel espalha notícias falsas sobre pandemia e influencia decisões do governo

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Ex-atleta que afirma ter se formado nos Estados Unidos virou ícone do extremismo brasileiro - Reprodução/Twitter

A ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel festejou, nesta semana, a decisão do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em suspender a vacinação contra o coronavírus em adolescentes.

Militante de extrema direita, ela passou os últimos dias fazendo campanha contra a imunização da faixa etária de 12 a 17 anos.

Os posicionamentos da ex-atleta sobre o assunto foram repercutidos pelo filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e influenciaram a decisão de Queiroga. Segundo o ministro, a medida teve "contribuição" do chefe do Executivo.

 “O que fazer com os governadores que não respeitaram sequer o PNI? Porque começaria ontem a vacinação para crianças e adolescentes. Esses governadores são responsáveis por efeitos adversos que essas crianças possam ter. Eles começaram um plano de imunização sem o aval da Anvisa, que apenas liberou a vacina da Pfizer para crianças e adolescentes. Esses governadores começaram o plano bem antes e com outras vacinas. Agora a responsabilidade será de quem?”, questionou.

Na quarta-feira (15), o Ministério da Saúde divulgou uma nota informativa restringindo a aplicação do doses apenas a jovens com comorbidades, deficiências permanentes ou que sejam privados de liberdade.

Em resposta, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) divulgaram posicionamento em que afirmam que não houve diálogo sobre o tema e alertam que a Câmara Técnica do Plano Nacional de Imunização nem mesmo foi informada sobre a mudança.

Em sua conta no Twitter e como comentarista do programa Pingos Nos Is, da Rádio Jovem Pan, Ana Paula tem se notabilizado pela divulgação de notícias falsas sobre a pandemia do novo coronavírus. Afirmações feitas pela ex-atleta foram desmentidas repetidas vezes por agências de checagem de informação.

Na rede social, ela tem mais de 900 mil seguidores. Apesar de ser fonte de "fake news", tem a conta verificada pelo Twitter, onde exibe um "selinho azul" de confirmação de identidade. Com a chancela, como já mostrou o Brasil de Fato em reportagem sobre o tema, ela tem maior potencial de viralização.

Moradora dos Estados Unidos, Ana Paula chegou a disputar quatro Olimpíadas. Seu melhor resultado foi uma medalha de bronze em 1996, após uma histórica derrota para a seleção cubana de vôlei feminino na semi-final. Nas outras (1992, 2000 e 2004), não chegou a conquistar medalhas. Nas duas últimas, disputou na categoria vôlei de praia.

Depois da aposentadoria do esporte, ela diz ter se formado em Arquitetura pela Universidade da Califórnia em Los Angeles, mesma instituição na qual afirma ter iniciado um mestrado em Ciência Política, em 2018. O Brasil de Fato tentou confirmar as informações com a instituição, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Nas eleições de 2014, Ana Paula gravou vídeo de apoio ao então candidato do PSDB, o atual deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG). Nos anos seguintes, porém, fez uma guinada à extrema direita.


Ana Paula em vídeo de apoio ao então candidato do PSDB, Aécio Neves / Reprodução/PSDB

Ela já chegou a publicar fotos com a bandeira de Gadsden, ilustrada com uma cobra cascavel. Considerada uma das primeiras dos americanos, é hoje um símbolo da supremacia branca e do ultraconservadorismo.

Ana Paula também já se notabilizou por comentários racistas e homofóbicos. Pelas declarações de caráter extremista, já foi criticada por outros ex-atletas, como as ex-jogadoras de vôlei Isabel e Ana Moser, e o ex-jogador de futebol Walter Casgrande Jr.

Edição: Anelize Moreira