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“Pauta do impeachment tem urgência máxima”, defende oposição

Defesa da deposição de Bolsonaro começa a crescer para além da esquerda, que busca diálogo com centro e direita

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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Protesto pela deposição de Bolsonaro em frente ao Congresso Nacional em janeiro deste ano - Sérgio Lima/AFP

A pauta do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) continua sendo defendida pela maioria dos brasileiros. O percentual da população que se mostra favorável à deposição do chefe do Executivo variou, dentro da margem de erro, de 54% para 56%, segundo pesquisa Datafolha divulgada no último sábado (18).

Os índices comparam medições feitas em julho e no período entre 13 e 15 de setembro. No caso desta última, foram ouvidas 3.667 pessoas em 190 cidades do país.

O percentual identificado pelo Datafolha ajuda a inflamar o discurso dos opositores do governo, que desde o ano passado fazem coro pelo impeachment. O campo intensificou a campanha em torno da pauta nos últimos meses, com seguidos protestos populares que evocam a bandeira. Para o deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ), a demanda tem “urgência máxima”.

 “Acho que é fundamental deter Bolsonaro porque ele já deu todas as demonstrações de que não tem qualquer tipo de limite pra avançar com a lógica de fechamento de regime e, se tiver espaço, ele vai avançar”, diz o oposicionista, em referência aos acenos autoritários do presidente.

Nas últimas semanas, Bolsonaro intensificou a crise institucional – instaurada e alimentada por ele próprio – em novas investidas contra o Poder Judiciário. O conflito atingiu o ápice durante as manifestações antidemocráticas convocadas pela extrema direita para o 7 de setembro. Na ocasião, o presidente subiu o tom e chegou a chamar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, de “canalha”.

A repercussão da conduta levou a uma maior insatisfação de diferentes grupos políticos com a postura antidemocrática do presidente e teve diferentes desdobramentos. Um deles foi simbolizado pela criação, na última quarta (15), de um comitê pró-impeachment que reúne PT, PDT, PSB, PSOL, PCdoB e Rede – as tradicionais siglas de oposição – e as legendas PV, Cidadania e Solidariedade.

“À medida que o tempo passa, cada vez mais gente percebe a irresponsabilidade do presidente no enfrentamento à pandemia, com a sua luta insana contra as vacinas e o uso de máscara, e nos ataques que ele continua perpetrando contra a democracia e o Estado de direito”, resume o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ).

Como resultado dos apertos de mãos recém-firmados entre os nove partidos, o grupo anunciou atos unificados para os dias 2 de outubro e 15 de novembro. A agenda deve contar com o engajamento de governadores e prefeitos e a ideia é movimentar os setores populares por um coro mais firme pela deposição de Bolsonaro.

“Conseguimos unir partidos com visões políticas bastante diferentes. Nossa luta agora é ampliar esse leque para atrair [outros] partidos de centro e de centro-direita, pra que a tese do impeachment ganhe cada vez mais força e seja bem-sucedida”, diz Molon, ao comentar que o campo tenta firmar pontes com siglas como MDB, PSD e PSDB.

No caso deste último, por exemplo, a legenda anunciou uma migração para o campo da oposição logo após o 7 de setembro. A sigla abriu debate interno sobre o tema do impeachment, mas ainda não adotou a bandeira.

Do ponto de vista da política institucional, o movimento pela cassação do presidente ainda soa tímido diante do cenário encontrado na Câmara dos Deputados, casa legislativa responsável pela abertura de processos de impeachment.

Ao todo, Bolsonaro é alvo de mais de 130 solicitações dessa natureza, mas o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), continua sem dar acenos favoráveis à tramitação dos pedidos. 

“Nós precisamos que ele tome essa iniciativa de dar andamento aos pedidos, mas também precisamos fazer mais movimento social pra termos mais força social. Razões pro-impeachment já temos várias. O Lira poderia ter aberto os processos, claro. Como não abriu, vamos pressionar mais”, afirma o líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS).

Edição: Anelize Moreira