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Dia do Rádio: indígenas e camponeses usam as ondas do rádio para difundir cultura e informação

Data é celebrada em 25 de setembro em homenagem ao nascimento de Edgar Roquette-Pinto

Ouça o áudio:

O programa Papo da Maloca dá espaço à cultura das 23 etnias indígenas do Rio Negro - Facebook / Papo da Maloca
A rádio se tornou a ferramenta principal para chegar aos assentados

Em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, nove em cada dez habitantes são indígenas.

Além do português, são idiomas oficiais da cidade o nheengatu, o baniwa e o tucano. É lá que fica a sede da Rede Wayuri, que reúne cerca de vinte comunicadores indígenas. Um dos produtos da rede é o programa Papo da Maloca, transmitido toda semana por uma emissora comercial local. 

“É um programa mais cultural, que toca só músicas da região feitas por artistas indígenas. É um espaço dedicado a ir para os povos indígenas, onde a gente tenta mostrar um pouco dos 23 povos indígenas que a gente tem por aqui: as histórias, as lendas, os contos.  E trazendo também notícias de fora relacionadas à questão indígena”. 

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A Rede Wayuri também produz um boletim semanal de áudio com notícias. E aí, o trabalho dos comunicadores que vivem nas aldeias é fundamental. Eles passam as notícias das aldeias para a sede na área urbana e depois têm a missão de levar o boletim pronto para as comunidades. 

Em uma região em que as distâncias são medidas em dias e onde o sinal de internet é instável, isso é um desafio e tanto. Em alguns lugares, o arquivo de áudio é enviado por whatsapp mesmo. Em outros, é preciso gravar em um pendrive para depois ele ser tocado em rádios-poste ou em aparelhos de radiofonia. 

Um esforço que se mostrou imprescindível para oferecer informação correta durante a pandemia. “A gente fez também alguns boletins informativos relacionados a isso: tentando orientar, tentando convencer os parentes das comunidades sobre a importância da vacinação, lembra Claudia.   

Ela afirma que a ideia é tentar "desmentir um pouco essas notícias falsas que ficaram circulando um período e fizeram com que eles tivessem receio de tomar a vacina”. 

Iniciativas do MST

A pandemia também transformou a cara de uma outra iniciativa: a Rádio 25 de Maio, no sertão do Ceará. Ela fica no maior assentamento do MST no estado, que abarca áreas de três municípios: Boa Viagem, Quixeramobim e Madalena. A locutora Maria Andreia Caitano Carneiro conta o que mudou na rádio depois da covid-19.

Ela conta que a rádio se tornou a ferramenta principal para chegar aos assentados com os informes mais básicos, como, por exemplo, os de reuniões de alguma associação ou do conselho do assentamento.

"A gente passava os informes da reunião na rádio, porque nem todo mundo tem acesso à internet. A gente se desafiou a ter uma programação voltada pra nossa escola. Nós temos uma escola de ensino médio no assentamento, a escola João dos Santos de Oliveira, que viu aí na pandemia que boa parte dos seus alunos não tinham acesso à internet. Mas todo mundo tinha rádio em casa”, explica. 


No sertão cearense, a Rádio 25 de Maio tem quase quinze anos de história e se reinventou com a pandemia / Rádio 25 de maio

As aulas via rádio agora ocupam o horário da manhã de segunda a sexta-feira na Rádio 25 de Maio, enriquecendo ainda mais uma programação que já é bem eclética: vai desde música brega até análise de conjuntura. 

Em todo o Ceará, o MST possui sete rádios; e o público vai além dos assentados, como conta Aline Oliveira, coordenadora de comunicação do MST no estado.  

“Quando a gente bota uma programação pela manhã, uma roda de viola... Muitos agricultores que acordam as 4 da manhã e vão pra sua colheita, pra sua roça, às vezes vão levando um radinho de lado; ou coando seu café com o radinho do lado, eles gostam muito da forma camponesa de dar conta dessas rádios. E aí é uma comunicação que se aproxima muito: eu, enquanto camponesa, gosto muito de ouvir outro camponês falando”. 

Para conhecer as rádios do movimento, basta acessar o site mst.org.br/rádios


 

Edição: Douglas Matos