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Banco Central da Venezuela injeta US$ 50 milhões na economia para conter câmbio paralelo

Recursos representam quase 10% do PIB do país, que enfrenta uma crise inflacionária

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Banco Central da Venezuela busca estabilizar câmbio bolívar digital - dólar estadunidense com injeção milionária - BCV

O Banco Central da Venezuela (BCV) injetou US$ 50 milhões (cerca de R$ 225 milhões) na economia do país nesta segunda-feira (4). O valor representa quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e busca estabilizar a economia, afirma o BCV.

Após a intervenção, a cotação do Bolívar Digital frente ao dólar registrou uma valorização de 13,9%. Nesta segunda-feira, o câmbio médio é de 4,18 bolívares para um dólar na cotação oficial. No câmbio paralelo, são 4,39 bolívares para um dólar. Com a mudança, o câmbio retoma a média da última semana, quando o Bolívar Digital foi lançado.

A variação, segundo economistas, atende a uma tática antiga da chamada "guerra econômica", que é a manipulação de câmbio a fim de desestabilizar a economia. 

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Apesar das similitudes entre o câmbio paralelo e o oficial, o comércio venezuelano se baseia na taxa paralela para estabelecer o preço dos produtos e serviços. A maioria das casas de câmbio paralelo possuem uma página nas redes sociais por onde divulgam os índices quatro vezes ao dia, já a maioria das sedes físicas estão na cidade de Cúcuta, na fronteira entre a Colômbia e Venezuela, facilitando a evasão do dinheiro para o lado colombiano.

Como a Venezuela é alvo de sanções dos Estados Unidos, o Estado precisa triangular operações para poder ter acesso à moeda estadunidense. A injeção anunciada pelo BCV pode ter sido possível porque o país acessou aos direitos especiais de giro, oferecidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), equivalente a US$ 5,1 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões). 

O ex-ministro de economia Luis Salas acredita que além da injeção do BCV, a própria falta de bolívares no mercado pode ter diminuído o câmbio com o dólar.

"Eu não duvido que essa injeção de dólares tenha impactado nessa queda da taxa de câmbio, porque tranquilizou grandes operadores de câmbio, no entanto a reconversão ainda não se traduziu numa injeção de mais bolívares na economia, o que pode gerar de maneira imediata é uma retração da liquidez", avalia Salas em entrevista ao Brasil de Fato.

Desde o dia 1º de outubro, passou a circular na Venezuela o Bolívar Digital, nova expressão monetária com seis zeros a menos. Esta foi a terceira reconversão realizada por administrações chavistas. O bolívar perdeu 14 zeros em 13 anos.

Edição: Thales Schmidt