ÁGUA

Campanha "Tenho Sede" arrecada doações para construir 1 milhão de cisternas no Semiárido

De 2020 para 2021, o corte no orçamento para construção cisternas pelo governo Bolsonaro chegou a 94%

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Na campanha, mulheres do semiárido contam suas histórias sobre como o acesso à água através das cisternas transformou as suas vidas - Agência Quintal

Eternizada na voz de Gilberto Gil e tantos outros artistas da música brasileira, a canção “Tenho Sede”, de Dominguinhos e Anastácia, que destaca a realidade da seca no semiárido brasileiro, agora ajuda a vencê-la. 

Através da parceria com o artista baiano, a música ganhou um clipe novo para a campanha que leva o nome da canção e quer garantir a construção de 1 milhão de cisternas para a região que abarca todos os estados do Nordeste e de Minas Gerais. 

“A campanha Tenho Sede é uma iniciativa pensada e planejada pela ASA, como uma estratégia de mobilizar a sociedade brasileira para apoiar o programa de cisternas, que é um programa extremamente eficiente do ponto de vista do impacto social e econômico para as populações do Semiárido, no que diz respeito ao direito de acesso à água", afirma Alexandre Pires, coordenador da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) em Pernambuco.

As cisternas de cimento chegam a armazenar de 16 a 52 mil litros de água e se tornaram essenciais para a sobrevivência das famílias e produção agricultores e agricultoras familiares. O Programa 1 Milhão de Cisternas foi criado em 1999, mas se tornou um programa federal em 2003, ganhando força durante os governos Lula e Dilma. 

A política de instalação de reservatórios chegou a receber o prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das melhores políticas públicas do mundo e alcançou mais de 1,3 milhão de famílias beneficiadas. Entre elas está a da agricultora familiar Cleide Ramos, do município Ouricuri, em Pernambuco.

"A gente tendo a água pertinho de casa, o tempo que você ia levar para buscá-la já diminuiu bastante, isso aí você já ia levar esse tempo para fazer outras atividades. Sem contar a qualidade dela, a saúde dos filhos da gente, a saúde das nossas hortaliças e os animais também. Porque se você usa uma água ruim, a sua saúde é lá embaixo", analisa.

Contudo, desde o início do governo Bolsonaro, o programa vem sofrendo um desmonte. De 2020 para 2021, o corte no orçamento para construção cisternas chegou a 94%, trazendo um impacto para realidade na região. Atualmente, há um déficit de mais de 350 mil reservatórios, segundo dados da ASA.

“Nós temos uma situação que é de fato muito preocupante, porque o programa de cisternas, embora tenha tido alguns momentos de situação crítica ao longo de sua história, nunca teve uma interrupção como está acontecendo agora durante o governo Bolsonaro. Então, ela é uma interrupção do ponto de vista tanto da gestão do programa, quanto do ponto de vista financeiro”, denuncia o coordenador da articulação.

Sem poder contar com o governo federal, a campanha conta com doações através do site Tenho Sede para transformar, a partir da água, as realidades de famílias e comunidades, como a de Cleide.

“A água é uma dádiva de Deus, a gente sem água não sobrevive, ela é tudo na vida da gente”, conclui.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga