NEGACIONISMO

Mãe culpa vacina por morte do filho e ganha status de “líder” entre bolsonaristas

História contada por Arlene Graf mobiliza políticos e médicos bolsonaristas contra obrigatoriedade da imunização

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Vacinação contra a covid-19 começou em janeiro de 2021 e dá sinais de controle do número de casos e mortes por coronavírus - Divulgação/GOV.BR

A mãe do advogado Bruno Graf, que morreu 12 dias depois de ter tomado a vacina contra a covid-19, se tornou uma das líderes da luta contra a imunização no Brasil. Arlene Graf tem ganhado projeção nacional entre bolsonaristas desde que passou a divulgar que ele teria sofrido um AVC em decorrência do uso da vacina da AstraZeneca.

As informações sobre a causa da morte, até o momento, são inconclusivas. Não é possível dizer se Bruno Graf sofreu uma reação adversa ao imunizante ou se o óbito foi motivado por outra razão. Em comunicado, a Prefeitura de Blumenau afirmou que ainda não há evidências que apontem que a causa da morte de Bruno foi a vacina contra a covid-19.

Com 28 anos de idade, Bruno foi internado no Hospital Santa Catarina, em Blumenau (SC), em 23 de agosto, com febre e fortes dores de cabeça. O atestado de óbito aponta que o jovem sofreu uma trombose e um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O filho de Arlene morreu em 28 de agosto.

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Um estudo de pesquisadores da Universidade de Oxford indica que o risco de ocorrer trombose venosa cerebral (CVT, no acrônimo em inglês) em pessoas contaminadas com covid-19 é consideravelmente maior do que nas que receberam vacinas baseadas na tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), como os imunizantes da AstraZeneca, produzida no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A informação de Arlene sobre a morte do próprio filho ganhou o país: foi debatida ao vivo pela Rádio Jovem Pan, divulgada por um grupo de médicos bolsonaristas chamado “Médicos Pela Vida” e motivou a convocação de manifestações antivacina com o apoio de vereadores e deputados estaduais bolsonaristas em várias regiões do país

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Em entrevista ao site Pleno.News, Arlene disse ter feito um exame disponível na Espanha, no valor de R$ 3.875,00, para confirmar a razão da morte do filho. Cerca de 15 dias depois, segundo Arlene, o resultado do exame teria mostrado a relação direta da vacina com o óbito.

Procurada, não respondeu ao contato do Brasil de Fato.

A morte do filho alçou Arlene Graf ao status de líder antivacina na extrema-direita brasileira. Ela passou a convocar a interagir nas redes com políticos alinhados a Bolsonaro, como a vereadora de São Paulo, Sonaira Fernandes (PSL), e foi convidada até para discursar em audiência pública na Câmara Municipal de Goiânia.

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Arlene tem, hoje, mais de 20 mil seguidores no Twitter. Na descrição de seu perfil, convoca: "Ajudem [a] divulgar os perigos vacina". Nesta sexta-feira (8), a vereadora Sonaira Fernandes anunciou o adiamento de uma manifestação contra a obrigatoriedade da vacina em função de "apoio" ao ato que está sendo organizado por Arlene. 


CORREÇÃO: A reportagem foi atualizada em 9 de outubro de 2021, às 10h51. O título anterior errou ao afirmar que Arlene Graf "falseou" a razão da morte do filho. De fato, a mãe divulga, sem confirmação científica, que a vacina foi a causa do falecimento. Portanto, para conferir maior precisão ao texto, o título foi modificado para "Mãe culpa vacina por morte do filho e ganha status de “líder” entre bolsonaristas".

Edição: Vivian Virissimo