América Central

Nicarágua realiza eleições presidenciais em meio a intervenções externas e erros do governo

Daniel Ortega, que lidera o país desde 2007, tenta reeleição com forte controle sobre a oposição

São Paulo |
Daniel Ortega e Rosario Murillo disputam sua terceira reeleição neste domingo, em meio a acusação de perseguição a opositores - AFP

A população nicaraguense vai às urnas neste domingo (7) para escolher o presidente e 92 deputados de sua Assembleia Nacional. Também serão eleitos 20 representantes do país no Parlamento Centro-Americano. O pleito, todavia, ocorre em um cenário de intervenção externa e conflitos internos.  

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Por um lado, há uma forte influência dos EUA para pressionar o governo a mudar sua política interna. De acordo com o GrayZone, no dia 21 de setembro, ocorreu uma audiência no Comitê de Assuntos Externos do Congresso dos EUA para a elaboração de políticas de pressão sobre o governo de Ortega, por meios de guerra híbrida.  

No centro desse conjunto de ações está o ato legislativo RENACER, "Reforçando a aderência da Nicarágua a condições para reforma eleitoral de 2021", posto na pauta em janeiro deste ano pelo senador Robert Menendez.

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O ato prevê uma revisão da participação da Nicarágua no Acordo de Livre Comércio do qual faz parte com os EUA e Republica Dominicana; aumenta mecanismos de vigilância sobre investimentos de qualquer instituição internacional para a Nicarágua; e delineia um esforço do Tesouro dos EUA junto à inteligência para dirigir uma campanha de sanções específicas contra o país centro-americano. 

Os motivos apontados no ato para tal intervenção estão no exercício de eleições mais democráticas, mas também um incômodo estadunidense com o que classifica como "atividades do Governo da Federação Russa na Nicarágua".

O RENACER condena "cooperação entre equipes militares russas e nicaraguenses, serviços de inteligência, forças de segurança, e forças da lei". Esses dados se baseavam em um relatório da Inteligência dos EUA de fevereiro de 2019.  

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 A vice-presidente da Nicarágua, Rosario Murillo, esposa de Ortega, defendeu o pleito que ocorre neste domingo, destacando que 46 observadores da Europa e outros 124 do Caribe participarão como observadores das eleições.  

Entre os observadores aprovados pelo Conselho Superior Eleitoral estão Gregorio Luis Mondaca, do Movimiento del Socialismo Allendista no Chile, José Luis Centella e Miguel Ángel Bustamante, ambos do Partido Comunista da Espanha; Gerry Condon, ex-presidente da Veterans for Peace USA, uma organização fundada em 1895; e Jorge Alberto Kreyness, secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista da Argentina. 

Miguel Rosales, do Partido Liberal Constitucionalista, elogiou a participação estrangeira e criticou experiências anteriores em que houve uma tentativa de observadores de impor uma agenda “predefinida”.   

“Agendas destinadas a boicotar, mas não a construir o bem. Nesse aspecto, devemos ter um equilíbrio. Hoje, mais do que nunca, nicaraguenses e liberais, temos sido pró-nacionalistas, não nos ajoelhamos nem vendemos nossas atitudes ou pensamentos a qualquer outra pessoa além do povo da Nicarágua ", disse Rosales à Sputnik.  

Sacha Llorenti, secretário executivo da Alba, destacou que o governo de Ortega teve importantes conquistas, como a redução de pobreza de 48% para 24%, da extrema probreza de 17% para 7%, e ser o quinto país em termos de políticas de igualdade de gênero. 

Os tropeços internos 

Se o governo da Nicarágua deve lidar com um governo dos EUA cada vez mais agressivo, suas escolhas internas podem não ajudar na legitimidade dos resultados da eleição.  

O início das contradições do governo Ortega teve como marco os protestos de 2018, quando parte da população foi às ruas protestar contra a medida proposta pelo Executivo de cortar a aposentadoria em 5% e aumentar a contribuição de trabalhadores em 3,5%. O governo retrocedeu nas medidas depois dos protestos.

Pesquisa do instituto Cid Gallup, publicada pela revista Confidencial, indica que 76% dos nicaraguenses consideram que a reeleição de Ortega não será legítima e não terá reconhecimento nacional e internacional. Os que entendem que a reeleição de Ortega será legítima somam 22% dos entrevistados.  

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“O senhor Ortega teve o cuidado de prender todos os concorrentes políticos que apareceram nessas eleições e não podemos esperar que esse processo produza um resultado que podemos considerar legítimo, [mas] muito pelo contrário", disse o alto representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell. “A situação na Nicarágua é uma das mais graves que existem atualmente no continente americano”. 

Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional, preside o país de 6,6 milhões de habitantes desde 2007. O atual presidente foi um dos principais líderes da Revolução Sandinista, responsável por expulsar o ditador Atanasio Somoza do poder, em 1979. 

Edição: Arturo Hartmann