Greves contra apps

No primeiro dia do fórum do iFood, entregadores travam rodovia e brecam em 2 cidades de SP

Entregadores de apps paralisam em Carapicuíba, Barueri e Alphaville por melhores condições de trabalho

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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"A gente está fazendo a nossa parte, mas eles não estão fazendo a deles": entregadores em greve na Grande SP criticam apps de delivery - Instagram - Treta no Trampo

A rodovia Castelo Branco (BR-374) - principal via de acesso entre a Região Metropolitana de São Paulo e o Centro-Oeste Paulista – foi travada na tarde dessa segunda-feira (13) por entregadores de apps delivery.

O ato faz parte da greve – que começou na parte da manhã e não tem término previsto – que paralisou as entregas por delivery nos municípios de Barueri (SP) e Carapicuíba (SP), abarcando também a região de Alphaville (bairro nobre entre Barueri e Santana de Parnaíba).  

Os trabalhadores demandam, entre outras pautas, o aumento da taxa mínima por coleta, o fim de duas ou mais entregas por corrida, e que não haja mais bloqueios de conta sem possibilidade de defesa. As reivindicações tem como alvo principal o iFood, maior empresa do ramo no país. 

Natália M.* é entregadora do iFood, trabalha na região de Barueri e Alphaville e está engajada no breque. Segundo ela, a luta pelo aumento da taxa mínima, que atualmente está em R$5,31, é antiga. “Eles publicam que estão estudando, mas nunca acontece”, critica.  

“Outra reivindicação importante é em relação aos bloqueios indevidos. Tem cliente que fala que não recebeu o pedido. E aí no outro dia de manhã nossa conta é bloqueada, sem que a gente possa se defender”, relata.

“Alphaville é condomínio, tem imagens da gente entregando. Mas sem defesa, são mães e pais de família sem poder trabalhar. E muitos dependem 100% desse trabalho. Eu sou uma delas”, expõe Natália.  

Breque aqui, reunião fechada ali 

Enquanto nessas cidades da grande São Paulo as entregas por aplicativo estão brecadas, em algum lugar secreto da capital paulista – pois a informação não é divulgada – o iFood dá início a um Fórum Nacional com Entregadores.

O evento acontece a portas fechadas, com a presença de cerca de 30 trabalhadores escolhidos e convidados pela empresa. 

Em nota, o iFood afirmou que “o objetivo deste primeiro encontro é construir conjuntamente uma agenda propositiva e perene ao longo de 2022 para buscar medidas que tragam benefícios para estes trabalhadores e todo o ecossistema”. 

:: Em ano de greves, iFood organiza fórum com entregadores escolhidos e agenda desconhecida ::

Natália conta que ficou sabendo do Fórum apenas na semana passada, e não por meio da empresa. “O iFood manda mensagens para divulgar informações sobre entregas, descontos em peça de moto. E uma coisa importante como essa do fórum, eles não falaram para a gente”, diz. “A gente quer saber: como foram selecionadas essas 30 pessoas?”, questiona.  

“A gente está no limite” 

Lucas de Oliveira é entregador em Carapicuíba e, assim como Natália, toda sua renda depende do iFood. “Trabalho de manhã, de tarde e de noite, de segunda a segunda”, conta.  

“Nosso relato hoje é sobre descaso. E a gente cansou. A gente está no limite: a gente trabalha 14h no dia às vezes para levar algo para a nossa família e isso só enche o bolso do iFood”, narra Lucas.  

Na nota já citada, referente ao fórum, o iFood salienta: “Sabemos que há muito para fazer, e acreditamos que ouvir e aprender com os nossos parceiros são fundamentais neste processo”. 

A empresa ainda não fez contato com os grevistas. Seguindo a mesma estratégia adotada durante greves que aconteceram no interior paulista no mês de outubro, o iFood soltou uma promoção com o valor de R$ 4 a mais por corrida para quem furar a paralisação e fizer entregas durante o horário do jantar desta segunda-feira (13).  


iFood lança promoção de R$4 a mais por corrida durante o horário do jantar no primeiro dia de paralisação em Barueri e região / Print - Arquivo

“Eu acho uma covardia. Querem nos ludibriar? Por que não vem com um diálogo justo?”, aponta Lucas, mas ressalta: “Está tudo brecado e a meta é continuar até ter uma resposta”.

*O nome foi alterado para preservar a fonte.  

Edição: Leandro Melito