Minas Gerais

DESASTRE

Mineradoras suspendem atividades em MG; 138 cidades vivenciam situação de emergência

Risco de rompimento de barragens, pessoas ilhadas e estradas interditadas preocupam população mineira

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Região alagada no município de Juatuba (MG), às margens do Rio Paraopeba, após fortes chuvas que atingem o estado - Foto: Douglas Magno / AFP

A mineradora Vale SA paralisou as atividades dos Sistemas Sudeste e Sul, em Minas Gerais, devido às chuvas fortes que atingem a região. Segundo um comunicado divulgado nesta segunda-feira (10), a circulação de trens na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) foi afetada.

“A Vale está tomando todas as medidas necessárias para a retomada das atividades, mantendo o foco nos cuidados necessários para garantir a segurança dos empregados e das comunidades localizadas no entorno de suas estruturas”, informou a empresa no comunicado.

A CSN Mineração também anunciou a suspensão das operações da mina de minério de ferro Casa de Pedra, em Congonhas, a 100 quilômetros ao Norte de Belo Horizonte, capital do estado. 

Risco de rompimento de barragem

Na noite deste domingo (9), a prefeitura de Pará de Minas, a 85 quilômetros a Oeste de Belo Horizonte, emitiu um alerta máximo por risco de rompimento da barragem da Usina do Carioca e orientou que os moradores dos municípios de Pará de Minas, Pitangui, Onça de Pitangui, São João de Cima, Casquilho de Baixo, Casquilho de Cima e Conceição do Pará deixem suas casas. 

Nas redes sociais, circula um vídeo de um bombeiro pedindo aos residentes que “sumam” do lugar, devido à chance de 99% de rompimento da barragem. “A informação é 99% de que a barragem pode romper. Se ela romper ela vai estourar Carioca, Onça de Pitangui, vai vir aqui nessa reta, vai chegar na faixa, no mínimo 60 metros de altura, com igarapé, planta, vai levar tudo isso que está aqui. Pelo amor de Deus, foi orientado que nem os militares vão poder ficar aqui mais. É subir todo mundo para a parte alta do Pitangui”, diz o militar no vídeo.

O prefeito Elias Diniz (PSD), em um vídeo publicado no Instagram, também pediu que os moradores procurem abrigos em lugares seguros. “Pedimos a compreensão das pessoas próximas ao ribeirão São João e do Paciência que desocupem suas casas. Vá para a casa de parentes ou outras pessoas, ou venham para o abrigo”, afirmou Diniz. A Prefeitura de Pará de Minas informou que um posto de saúde está disponível para receber as pessoas que não têm para onde ir. 

Populações ilhadas  

Também neste domingo (9), a ponte Pênsil, no município de Nova Era, a 140 quilômetros a Leste do estado, foi rompida parcialmente pelas chuvas fortes, deixando a população ilhada. O rompimento se deu após a cota do rio ultrapassar o limite de 4,7 metros, chegando a 7,8 metros. A previsão, por enquanto, é que o nível do rio continue subindo. 

Em Macacos, distrito de Nova Lima (MG), a população também está ilhada devido à uma enchente sem vazão por causa de um muro de contenção construído pela mineradora Vale. A parede é mais alta que um prédio de 10 andares e foi construída no curso do Ribeirão Macacos para conter possíveis rejeitos da barragem B3/B4, da mina Mar Azul.  

:: Muro construído pela Vale causa obstrução de pontes e isola habitantes em Macacos (MG) ::

Com a chuva dos últimos dias, o nível da água aumentou e não há vazão. Imagens da comunidade local mostram a água próxima a residências e, ao fundo, a contenção provocada pela muralha da Vale. O distrito fica a cerca de 30 quilômetros de Belo Horizonte e está na região em alerta vermelho para tempestades, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. 

Estradas interditadas 

Na manhã deste sábado (8) um sistema de drenagem da barragem da mina do Pau Branco em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), transbordou. A lama se espalhou e interditou um trecho da BR-040. Uma pessoa que desceu do carro foi arrastada pela enxurrada, se feriu e foi socorrida. Não há vítimas fatais. 

:: Estrutura de barragem transborda em Minas Gerais, lama fere uma pessoa e fecha a BR-040 ::

O tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, afirmou que "em decorrência da quantidade de água das chuvas ocorreu um transbordamento da estrutura". Seis residências do entorno foram evacuadas "por precaução", segundo informou o comandante-geral do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o coronel Edgard Estevo.  

A mina do Pau Branco, que extrai minério de ferro, pertence à empresa Vallourec Mineração. De acordo com o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), a produção da companhia é de cerca de 6 milhões de toneladas por ano. 

A BR-040 não é a única interditada no estado mineiro por conta de chuvas, deslizamentos e transbordamento de barragens. O Corpo de Bombeiros mineiro disse ter atendido, apenas nas últimas 24h, 98 ocorrências.  

Segundo o Comando de Policiamento Rodoviário (CPRv), da Polícia Militar de Minas Gerais, o estado tem mais de 100 pontos de interdição em rodovias federais e estaduais devido às chuvas fortes, até a manhã desta segunda-feira (10). 

Quase 140 municípios em situação de emergência  

Até este domingo, a Defesa Civil registrou 138 cidades de Minas Gerais em situação de emergência neste momento e seis mortes desde o início do período chuvoso na região, em outubro de 2021. Outras duas mortes que ainda não foram incluídas, em Betim e Belo Horizonte, devem ser registradas no próximo boletim. No total, 3.374 pessoas estão desabrigadas e 13.723, desalojadas. 

Capitólio 

Nos dados da Defesa Civil também não forma incluídas as 10 mortes registradas até o momento decorrente do desmoronamento de um bloco de pedras no lago de Furnas, em Capitólio (MG), que atingiu três lanchas, na manhã de sábado (8). O acidente também deixou pelo menos 32 feridos.  

:: Corpo de Bombeiros confirma 10 mortos após queda de paredão em Capitólio (MG) ::

O motivo do descolamento da grande placa rochosa que atingiu uma lancha ainda está sendo investigado. Os bombeiros desconfiam que o deslizamento teria ocorrido após uma tromba d’água. De acordo com a Defesa Civil, “os óbitos decorrentes do acidente em Capitólio não serão computados no balanço do período chuvoso até o encerramento das investigações”.