Alimentação saudável

Cresce obesidade entre idosos nas capitais brasileiras nos últimos dez anos, revela pesquisa

Especialistas apontam que mudanças nos hábitos alimentares podem estar relacionadas ao aumento da obesidade

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Idosos têm consumido mais ultraprocessados e alimentos de fácil preparo - Agência Brasil
A predominância é de alimentos mais fáceis de serem consumidos e que exigem o mínimo de preparo

Com o aumento da expectativa de vida no país uma das preocupações é o envelhecimento saudável. Porém, é preciso compreender a saúde dessa população de uma maneira integral que abrange desde as doenças pré-existentes até a sua condição física atual. 

O idoso não pode ser visto apenas como um adulto mais velho, porque há uma série de peculiaridades desta fase da vida que precisam ser levadas em conta, é o que explica Marcelle Saldanha, nutricionista especializada na terceira idade. 

Ela ressalta que um dos desafios são os hábitos alimentares, porque apesar desse público na pandemia não ter aderido aos fast foods e as comidas prontas por delivery, ao longo últimos anos houve uma piora na qualidade da alimentação com a inserção de ultraprocessados e alimentos de fácil preparo. 

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“A predominância é de alimentos mais fáceis de serem consumidos e que exigem o mínimo de preparo. Então o macarrão instantâneo, biscoito e pães é muito presente na alimentação dos idosos e vão ficando de lado aqueles alimentos que exigem maior tempo de preparo. E aí esbarra em uma série de questões que podem influenciar. Seja porque eles têm mesmo dificuldade de permanecer em pé por muito tempo lavando algum alimento, seja porque têm dificuldade de ir comprar alimentos frescos ou por questão financeira.”, ressalta Saldanha.

E os dados refletem essa piora nos hábitos dos idosos. De 2006 a 2019, houve crescimento nos índices de obesidade e sobrepeso entre os idosos brasileiros, segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  A pesquisa revelou que a prevalência de sobrepeso aumentou de 53% para 61,4%, e a prevalência de obesidade, de 16,1% para 23%. o que significa um crescimento de 2,8% ao ano.

O estudo foi conduzido por Laura Rodrigues, que utilizou dados do sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, o Vigitel, coletados pelo Ministério da Saúde. Participaram mais de 200 mil indivíduos com 60 anos ou mais, das 26 capitais e do distrito federal. 

 “A pesquisa mostra que tanto sobrepeso quanto a obesidade aumentaram em todos os grupos. O crescimento tem sido superior entre homens entre idosos de 70 a 79 anos entre os idosos com 9 a 11 anos de escolaridade e entre aqueles residentes da região menos desenvolvida do país”.

A pesquisadora explica que apesar do estudo não identificar as causas desse crescimento da obesidade e do sobrepeso nessa população, outros estudos nacionais e internacionais evidenciam que essa elevação está associada ao consumo alimentar e a ausência de atividade física entre idosos. 

Rodrigues explica  que estudos como esse permitem analisar o cenário nacional e são capazes de subsidiar políticas públicas. 

“Nós temos que pensar na qualificação dos profissionais que atendem essa população, sensibilizando esses profissionais a criar o hábito de investigar sobrepeso e a obesidade; o incentivo a prática de atividade física e políticas de incentivo à alimentação adequada e saudável; incentivo à produção e a comercialização de alimentos in natura e minimamente processados, o acesso relacionado ao preço desses alimentos, para que possamos promover o envelhecimento saudável.”, conclui a pesquisadora. 

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A obesidade nos idosos cresce e piora a mobilidade, autoestima e o risco do surgimento de outras doenças crônicas ou agravamento de doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Segundo a nutricionista, um dos pilares para reduzir a obesidade entre idosos é a reeducação alimentar . 

Saldanha dá três dicas para melhorar os hábitos alimentares nesta fase da vida.

“A primeira dica é procurar alimentos frescos como os alimentos in natura ou minimamente processados, eles são indicados no Guia Alimentar para População Brasileira e servem como uma diretriz para alimentação saudável. A segunda dica é consumir menos açúcar, que é importante para prevenir a obesidade e outras doenças relacionadas com o consumo de açúcar e a terceira dica é cozinhar mais em casa, porque quando a gente cozinha em casa tende a planejar as nossas refeições”, ressalta a especialista em nutrição em idosos. 

Além disso de alimentos in natura, a nutricionista recomenda alguns alimentos que podem ser priorizados na dieta dos idosos, como feijões, ovos, carnes e leite e derivados. 

A pesquisa da UFMG é a primeira no país a estabelecer uma tendência temporal de sobrepeso e obesidade em idosos com mais de dez anos de análise.

 

 

 

 

Edição: Douglas Matos