EM PRADO (BA)

Conheça o grupo político apoiado por Bolsonaro para atuar contra o MST na Bahia

O Brasil de Fato mostra com exclusividade como a teia bolsonarista se formou no estado e lançou nomes na política local

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Liva do Rosa do Prado é Elivaldo da Silva Costa, ex-militante do MST que se tornou aliado de Bolsonaro - Divulgação

A atuação do presidente Jair Bolsonaro no sul da Bahia, que conta com ministros e órgãos federais contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), obteve o apoio de uma rede local de colaboradores, que se alinharam às fileiras bolsonaristas para obter ganhos políticos na região, onde o movimento popular concentra o maior número de assentamentos no país.

O Brasil de Fato mostra com exclusividade como essa teia bolsonarista se formou no estado e quem são seus principais atores, que tentam abocanhar cargos públicos na Bahia.

Esta é a terceira reportagem do Brasil de Fato sobre a atuação do Planalto contra o MST no sul da Bahia. Para ler as outras reportagens, clique nos links abaixo:

Reportagem 1: Exclusivo: como Bolsonaro usou o governo para apoiar grupo que abriu guerra contra o MST na BA

Reportagem 2: Nabhan Garcia e Incra fortaleceram "soldado bolsonarista" que aterrorizou famílias do MST na BA

Assista também:

Política local

Após um ataque ao assentamento Jaci Rocha, do MST, no sul da Bahia, em 26 de agosto de 2020, Diógenes Ferreira Loures enviou um áudio para o agricultor bolsonarista Liva do Rosa em um grupo de apoiadores de seu mandato, celebrando o episódio e pedindo mais violência contra o movimento. Diógenes é conhecido como Jorginho Loures, que, à época, era vereador licenciado pelo município de Prado e disputava a eleição à prefeitura local.

“Eita, notícia boa, Liva. Eu tô aqui, com coronavírus, mas isso aí, rapaz, que alegria danada, viu? Coisa boa mesmo, botar esses malandros pra correr. Nós (vamos) botar aquela metralhadora nas costas de Barbosinha e ele sair derrubando até os pés de mato, ele vai jogar no chão. Falou, meu amigo. Beleza pura”, disse Loures no áudio. A reportagem não identificou quem seria o Barbosinha, citado pelo ex-vereador.

Liva é Elivaldo da Silva Costa, ex-militante do MST que se tornou aliado do Planalto após a aliança com o bolsonarismo na região. Em janeiro deste ano, divulgou sua pré-candidatura a deputado estadual na Bahia com o nome “Liva do Rosa do Prado”.

Na imagem do anúncio, ele aparece enrolado em uma bandeira do Brasil, uma referência ao movimento bolsonarista.

Apontado como mentor de Liva, Loures é um empresário da região de Prado que disputa cargos públicos no município desde 2004. Em 2012, foi eleito vereador pelo PTC, com 512 votos. Em 2016, ele se reelegeu pelo PSL, com 605 votos.

Quatro anos depois, em 2020, disputou e perdeu a vaga de prefeito do município, pelo PL, com apenas 27%, longe dos 60% do vencedor, Gilvan da Silva Santos (PSD).

Além de PTC, PSL e PL, Loures também já foi filiado ao PSC e PR. Em sua trajetória, o político baiano demostra versatilidade ideológica. O empresário pradense, aliado do grupo bolsonarista na região, já manifestou apoio aos governadores Jaques Wagner (PT) e Rui Costa (PT).

Na campanha de 2020, Liva apoiou Jorginho Loures e esteve em eventos da campanha do empresário. Foi o ex-integrante do MST quem levou o candidato para dentro de áreas do movimento e quem o aproximou de assentados da região.


Jorginho Loures (em primeiro plano) e Liva (no fundo, aplaudindo), em agenda da campanha do ex-vereador, em 2020, em Prado / Instagram / Jorginho Loures

Patrimônio de Loures

Chama a atenção o patrimônio de Jorginho Loures no período em que se dedicou à política. 

Na eleição de 2012, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acumular R$ 382 mil em patrimônio. Em 2016, um salto para R$ 890 mil em bens acumulados, crescimento de 133%. No pleito de 2020, uma queda de 17% derrubou o patrimônio do ex-vereador para R$ 740 mil.

Até 2016, Jorginho Loures afirmava ao TSE possuir, como fonte de renda, apenas uma retífica mecânica, com sede em Prado, município com 28 mil habitantes. Em 2020, o bolsonarista declarou, além da empresa, a Fazenda Boa Sorte, também em território pradense.

Jorginho Loures quis eleger para a Câmara dos Vereadores de Prado um aliado de última hora, Izaqueu Martins, coordenador e fundador do núcleo pradense do movimento Direita Bahia e conhecido na região por ser um atroz defensor de Jair Bolsonaro no município, onde organiza manifestações em apoio ao presidente.

Izaqueu Martins, que não foi eleito vereador em Prado, teve uma única doação para a sua campanha em 2020, de R$ 128, feita justamente por Jorginho Loures. O valor é maior que o número de votos que o bolsonarista conseguiu nas urnas, 88. 


Izaqueu Martins e Jorginho Loures divulgaram santinho de campanha juntos, em 2020, quando o ex-vereador tentou se eleger prefeito de Prado / Divulgação

Em 28 de setembro de 2021, Izaqueu Martins esteve no evento do governo federal, com presença de Bolsonaro e da alta cúpula do governo, em Teixeira de Freitas. Lá, aplaudiu a entrega do título de domínio para Liva e ouviu o discurso de Geraldo Melo e Nabhan Garcia, criminalizando o MST.

Dois dias depois, em 30 de setembro de 2021, Martins fez uma transmissão ao vivo em seu perfil no Facebook, mostrando uma bandeira do MST sendo queimada dentro do assentamento Rosa do Prado. Liva, que vive na área, não aparece nas imagens.

Outro lado

O Brasil de Fato procurou a Secretaria de Assuntos Fundiários, via Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Até o fechamento da matéria, a pasta não havia enviado respostas para os questionamentos da reportagem. Caso o faça, o texto será atualizado.

Jorginho Loures não respondeu às mensagens enviadas para seu número particular e não retornou as ligações. 

Edição: Leandro Melito e Rodrigo Durão Coelho