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Após reunião com delegação de Biden, Maduro decide retomar Diálogo Nacional com oposição

Atrás de petróleo, Casa Branca ignora Guaidó e presidente venezuelano fala em "agenda olhando adiante"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Presidente Nicolás Maduro confirmou que se reuniu com funcionários de Joe Bien e propõe reinicio dos diálogos com a oposição - Prensa Presidencial

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou a retomada da Mesa de Diálogo Nacional com a oposição numa transmissão televisiva, na última segunda-feira (7). O mandatário também confirmou que reuniu-se com uma delegação de funcionários estadunidenses no último sábado, num encontro "respeitoso, cordial e muito diplomático".

Em outubro de 2021, a delegação do governo bolivariano suspendeu sua participação na Mesa de Diálogo como protesto pela prisão e extradição aos Estados Unidos de Alex Saab, enviado especial da Venezuela para os países da África. 

O governo denunciou uma série de irregularidades no processo e considerou um "sequestro" do seu diplomata. Já em fevereiro deste ano, a justiça dos EUA divulgou documentos que fazem parte do processo contra Saab, que apontam o ex-diplomata colombo-venezuelano como um informante do Departamento Antidrogas dos EUA (DEA).

Pela Mesa de Diálogo Nacional, foram realizadas duas rodadas de negociação com alguns acordos parciais pactados na Cidade do México. Agora o governo propõe "resetear" as negociações. 

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"Decidimos retomar o diálogo com o todos os atores políticos, econômicos e religiosos do país. Vamos a um processo mais amplo e inclusivo, que estenda a mão a todos os venezuelanos e venezuelanas que queiram apostar pelo país e que dê todas as garantias de processos políticos no país", declarou Maduro.

Entre os opositores começa a se levantar a hipótese de que a delegação opositora seja modificada para incluir representantes com maior respaldo nas urnas. 

O presidente venezuelano também confirmou que se reuniu com funcionários do governo de Joe Biden, no último sábado (5), em Caracas, acompanhado da primeira-dama Cília Flores e do presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez (PSUV).

A reunião representa uma vitória da diplomacia venezuelana. Após três anos da autoproclamação do opositor Juan Guaidó e consequente respaldo da Casa Branca, Joe Biden decide enviar uma delegação de altos funcionários para dialogar com Maduro, no Palácio de Miraflores. Os assuntos de debate foram a suspensão de sanções e o abastecimento de petróleo.

Pela Casa Branca, foram enviados Roger Cartens, ex-tenente-coronel das Forças Especiais do Exército dos EUA; Juan González, diretor do Conselho Nacional de Segurança para o Hemisfério Ocidental e James Story, embaixador dos Estados Unidos para a Venezuela.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, confirmou que há disposição de Biden em levantar mais sanções contra a Venezuela, durante coletiva de imprensa, na última segunda (7).

A discussão sobre um "banimento" do petróleo da Rússia levantada nos Estados Unidos, assim como diversas sanções aplicadas contra Moscou, pode ajudar a explicar a mudança de comportamento da Casa Branca.

A Venezuela produz cerca de 668 mil barris diários, segundo o balanço de fevereiro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). 

Até a aplicação do bloqueio em 2015, os Estados Unidos eram os principais compradores de petróleo venezuelano. Em 2014, a Venezuela oferecia cerca de 740 mil barris diários aos estadunidenses. Além disso, os venezuelanos exportaram US$ 30,2 bilhões e importaram US$ 11,3 bilhões em produtos e serviços, de acordo com dados oficiais.

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Durante a 2ª Guerra Mundial, os venezuelanos forneceram cerca de 65% do petróleo usados pelos Aliados (EUA, Reino Unido, França). Agora a Venezuela também seria capaz de vender fertilizantes, outro produto de exportação russa.

"Acordamos trabalhar numa agenda olhando adiante. Foi muito importante conversar cara a cara temas de interesse da Venezuela e do mundo", detalhou Maduro. 

Embora já tenha declarado apoio irrestrito ao Kremlin, o presidente venezuelano manifestou sua preocupação pelos riscos de uma 3ª Guerra Mundial e clamou pela paz.

Edição: Thales Schmidt