Governo de SP

Saída de Arthur do Val da eleição irá impactar negativamente mais MBL do que Podemos e Moro

Para analistas, pré-candidatura do deputado estadual não tinha força competitiva suficiente para gerar mudanças

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O parlamentar, conhecido como “Mamãe Falei” em seu canal do Youtube, anunciou a desistência após a repercussão de mensagens de áudios suas que vazaram - Reprodução

A correlação de forças na corrida eleitoral ao governo de São Paulo para as eleições deste ano irá sofrer pouca ou nenhuma mudança significativa nos níveis estadual e nacional com a retirada da pré-candidatura do deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP).  

De acordo com analistas de política, as movimentações mais expressivas devem ocorrer dentro da própria sigla, e as consequências devem recair sobre o Movimento Brasil Livre (MBL), do qual Arthur do Val faz parte. 

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MBL

Dentro do MBL, a desistência pode gerar mais impactos negativos do que em outras esferas. Para Carolina Botelho, pesquisadora do Doxa – Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), Arthur do Val “é um nome importante dentro do grupo, traz votos, mantém o movimento forte, e quando se perde uma liderança dessa obviamente e também se perde espaço no debate”

De acordo com a pesquisadora, a retirada da pré-candidatura ao governo não deve provocar "nenhuma mudança no horizonte". “Sempre tem um peso, mas [neste caso] é um peso marginal, não é um peso substancial”, avalia. Botelho disse ainda que saída de Arthur do Val não terá impacto no cenário eleitoral em nível estadual nem nacional, uma vez que a pré-candidatura do parlamentar não representava força competitiva suficiente para tal desfecho. 

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Já Humberto Dantas, cientista político e coordenador da pós-graduação em Ciência Política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), avalia que o youtuber é uma figura que “incomoda e joga duro e baixo muitas vezes em termos de discurso e campanha, e agora ele saiu fora”.

“Sai de cena um concorrente importante no universo do que a gente poderia chamar em termos ideológicos de direita. Existiria algum tipo de alinhamento do qual provavelmente o candidato Arthur do Val faria parte, seja mantendo sua pré-candidatura, seja negociando algum tipo de apoio, seja servindo de palanque ao candidato à Presidência da República Sergio Moro”, afirma Dantas. 

Nesse sentido, a direita perdeu um de seus atores, afunilando o jogo entre o atual vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), e o candidato de Jair Bolsonaro (PL) para São Paulo, Tarcísio de Freitas. 

Podemos

Se não afeta a corrida estadual, na avaliação de Dantas, a retirada da pré-candidatura gera outra movimentação: “Isso abre um espaço dentro do Podemos, que era um espaço desejado por alguns elementos, que é cair no colo do Rodrigo Garcia e da máquina pública. Existe uma parte do Podemos de São Paulo que quer estar ao lado do governador e que não queria o Arthur do Val como candidato”. 

“O Moro conseguiu trazer certas figuras com ele, mas que definitivamente não conseguiram dialogar facilmente em muitos lugares do partido. Então, de uma certa maneira, essa saída do Arthur do Val gera em alguns casos até mesmo um certo alívio para determinados segmentos do partido Podemos”, diz o cientista político que considera a entrada do MBL ao Podemos um tanto “artificial”. 

Palanque para Sergio Moro 

Um outro ponto de destaque é o palanque que Arthur do Val havia aberto para Sergio Moro em São Paulo. Para Humberto Dantas, o parlamentar fechou uma porta importante pro Moro. Já para Carolina Botelho, a existência ou não de um palanque não deve gerar na pré-candidatura de Moro, até porque a pré-candidatura do ex-juiz, em sua visão, “também não decolou”.  

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Mesmo dentro do Podemos, partido ao qual figuras do MBL e lavatistas se filiaram recentemente, não tem grandes perdas, em sua avaliação. “Tanto é que o próprio Moro abriu mão rapidamente [do apoio a Arthur do Val], apesar de saber que eles [integrantes do MBL] concentram um público fiel, mas que também não foi também capaz de tornar o Moro competitivo para uma disputa nacional”, diz Botelho. Moro  

“Se Moro tivesse realmente detonado na campanha, como se previa, e o MBL tivesse sido uma força resistente ao lado dele... Mas nem uma coisa nem outra se sustentou. Eles cuidam de um nicho ainda, que para cargos legislativos é importante e competitivo, mas se trata de pleitos para executivos, eles não fizeram tanta diferença”, conclui.  

Desistência

O parlamentar, conhecido como “Mamãe Falei” em seu canal do Youtube, anunciou a desistência após a repercussão de mensagens de áudios suas que vazaram, nas quais afirma, entre outras coisas, que as refugiadas ucranianas “são fáceis porque são pobres”.  

O anúncio foi feito em seu perfil no Instagram. “Faço isso por entender que nesse momento delicado da política nacional é necessário preservar o árduo trabalho de todos aqueles que se dedicam na construção de uma terceira via. O projeto não merece que minhas lamentáveis falas sejam utilizadas para atacá-lo”, declarou. 

Edição: Rebeca Cavalcante