perseguição política

ANÁLISE | Pérez Esquivel: em defesa dos e das jornalistas e da liberdade de imprensa

Julian Assange teve a coragem e determinação de publicar relatos sobre as atrocidades cometidas pelos EUA no mundo todo

Tradução: Isabela Gaia

Buenos Aires (Argentina) |
Julian Assange na embaixada do Equador em Londres, antes de ser preso - Foto: Ben Stensal/AFP

A humanidade vive tempos de incerteza e de violência social e estrutural em diversas partes do mundo, que colocam em risco a vida e a segurança dos povos. Guerras de alta e baixa intensidade, pessoas refugiadas que procuram desesperadamente um lugar seguro sem encontrá-lo, fome e desolação em países afetados por secas e destruição da biodiversidade, desmatamento e danos causados à Mãe Terra.

Homens e mulheres que abraçaram apaixonadamente o ofício do jornalismo, apontando e denunciando violações dos direitos humanos e dos povos em diversas partes do mundo. Muitos foram e são vítimas de violência e deram a vida pela verdade e pela justiça.

Sempre associei os e as jornalistas à "mosca socrática", despertando consciências e apelando à reflexão e à justiça para defender os direitos dos indivíduos e dos povos.

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Embora não haja consenso entre os relatórios e dados estatísticos, jornalistas em suas análises apontam que, de 1995 a 2022, mais de 1.500 trabalhadores e trabalhadoras da imprensa foram assassinados; e que é preciso levar em consideração suas famílias, que são deixadas em total desamparo e indigência. É necessário que o Estado contemple essa situação e gere instrumentos jurídicos para proteger essas pessoas. Não é possível que apenas 10% desses crimes cheguem à Justiça e que apenas 1% dos culpados sejam condenados.

Devo destacar que o Comitê Nobel concedeu o Prêmio Nobel da Paz a dois jornalistas – Maria Ressa, das Filipinas; e Dimitry Muratov, da Rússia – após sofrerem perseguições, prisões, ameaças e o assassinato de seus e suas colegas de trabalho. É um reconhecimento a todo trabalhador e trabalhadora da mídia.

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É preocupante a perseguição e prisão de Julian Assange em uma prisão na Grã-Bretanha com um pedido de extradição dos Estados Unidos, que querem esconder do mundo seus próprios crimes. Julian teve a coragem e determinação de publicar relatos das atrocidades cometidas pelos EUA no mundo todo. Exigimos sua liberdade e direito à liberdade de imprensa. Estive com Julian na embaixada do Equador em Londres, quando ele era um refugiado político para expressar minha solidariedade e apoio por sua coragem e decisão de denunciar ao mundo a política dos EUA.

A Unesco deve levantar sua voz contra as contínuas violações contra os direitos humanos de jornalistas. Homens e mulheres que assumem com dignidade a luta pela liberdade de informação. Os órgãos de imprensa são essenciais para conscientizar a população e proteger os jornalistas.

Toda a minha solidariedade e apoio à liberdade de imprensa.

 

*Adolfo Pérez Esquivel ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra a violação de Direitos Humanos na ditadura militar argentina (1980).

**Este é um texto de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Thales Schmidt