WIKILEAKS

Justiça britânica nega recurso e deixa Assange mais perto de ser julgado nos EUA

Ativista enfrenta 18 acusações nos Estados Unidos que podem resultar em 175 anos de prisão

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Protestos pela liberdade de Assange aconteceram em diversos país; manifestante em Londres, no Reino Unido - Daniel Leal / AFP

O ativista Julian Assange, fundador do WikiLeaks, está mais perto de ser julgado nos Estados Unidos, como quer Washington, sob a acusação de espionagem. A mais alta corte do Reino Unido se recusou a ouvir recurso de sua defesa contra a extradição, nesta segunda-feira (14). Segundo o jornal britânico The Guardian, os advogados de Assange têm agora quatro semanas para apresentar justificativas à secretária do Interior, Priti Patel, a quem cabe a decisão sobre autorizar ou não a extradição de Assange. O ativista enfrenta 18 acusações nos EUA, o que pode resultar em 175 anos de prisão. Ele está preso há três anos em Belmarsh, em Londres, enquanto aguarda a extradição. Se Patel mantiver a decisão, decretará a extradição de Assange.

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Se a situação já era muito difícil para Assange, seu destino ficou praticamente selado. Em especial devido ao ambiente instaurado no mundo devido à guerra entre Ucrânia e Rússia. O Reino Unido é talvez o maior aliado dos Estados Unidos na Europa e Priti Patel, tida como favorável à extradição.

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Ainda segundo o Guardian, ainda haveria “outras vias para lutar contra a extradição”. Por exemplo, a contestação de questões judiciais colocadas em primeira instância, que Assange perdeu, mas ainda não foram objecto de recurso.

O Departamento de Justiça dos EUA acusa Assange de violar a Lei de Espionagem. O WikiLeaks revelou documentos secretos de crimes de guerra dos EUA no Iraque. No contexto, há um “incidente” de 2007 em Bagdá, em um vídeo mostra disparos de um helicóptero contra civis desarmados. Um fotógrafo da Reuters foi morto na operação, os americanos não puderam negar.


Julian Assange na embaixada do Equador em Londres, antes de ser preso / Foto: Ben Stensal/AFP

Caso Assange e o modus operandi dos EUA

Em 2010, reportagem da Folha de S. Paulo, em Washington, descreveu o episódio: “Um helicóptero Apache americano abre fogo contra o que pensa serem insurgentes em Bagdá. Corpos no chão, feridos se arrastam, soldados riem e dizem: ‘Olha só aqueles babacas mortos’. Não sabiam que haviam acabado de matar um fotógrafo da agência Reuters. Nem que, três anos depois, o vídeo rodaria o mundo graças a um site cada vez mais incômodo aos círculos do poder’”.

O site a que se refere a matéria era o WikiLeaks. Graças a ele, o Pentágono foi forçado a admitir que o vídeo era autêntico. O então secretário de Estado norte-americano, Robert Gates, tentou desconversar, mas a versão da realidade era indesmentível. O ataque matou 12 pessoas, entre as quais o fotógrafo Namir Noor-Eldeen, da Reuters, de 22 anos, e o seu motorista, Saeed Chmagh, de 40, além de ferir crianças que estavam numa van que “chegou para ajudar”, ainda de acordo com a matéria.

Para a Justiça britânica, a defesa de Assange “não levantou uma questão de Direito discutível”. O jornalista do WikiLeaks Kristinn Hrafnsson classificou a recusa da Suprema Corte britânica como “ultrajante”. “Como pode não ser um ponto de direito discutível?”, questionou.

Em janeiro de 2021, a juíza Vanessa Baraitser, de primeira instância, negou a extradição. Ela alegou que o sistema das prisões norte-americanas não impediriam Assange de “potencialmente tirar a própria vida”. Mas os Estados Unidos conseguiram reverter a decisão em dezembro. O fundador do WikiLeaks está preso desde maio de 2019 no Reino Unido, depois de retirado à força da embaixada do Equador em Londres e entregue à justiça britânica pelo então presidente equatoriano, Lenín Moreno.