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Entre perdas e ganhos: o mês de março significa luta pela vida das mulheres

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Diante de tantas lutas, não é possível deixar de sentir a ausência das mulheres que tombaram devido às violências que afetam os nossos corpos. - Foto: Vanessa Tutti
Entre sentimentos de perdas e ganhos, nascimentos e partidas, seguimos pela vida de todas

O Levante Popular da Juventude esteve nas ruas de Ceilândia e Taguatinga, duas das maiores cidades do Distrito Federal, juntamente com diversos coletivos feministas, movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos e mulheres da classe trabalhadora marchando contra o racismo, LBTfobia, machismo, misoginia, contra a fome, a carestia e ecoando a palavra de ordem: BOLSONARO NUNCA MAIS! Essa foi uma das atividades que abriram oficialmente o calendário de luta pela vida das mulheres neste mês de março.

Diante de tantas lutas, não é possível deixar de sentir a ausência das mulheres que tombaram devido às violências que afetam os nossos corpos. Das faltas que dilaceram o coração, fazem quatro anos que perdemos uma grande companheira, Marielle Franco, vereadora que foi brutalmente assassinada no Rio de Janeiro, e que ainda hoje, seguimos sem respostas e sem justiça.

Em meio à dor, dividimos sentimentos de indignação, pois a morte de Marielle significa para mulheres, principalmente para nós, negras da periferia e LBT’s, uma perda profunda.

Mas entre a angústia que atravessa o peito, ainda encontramos suspiros e alegrias, pois no mês de março celebramos o centenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis – escritora considerada primeira romancista negra brasileira – e, ainda, a chegada de Carolina Maria de Jesus ao mundo, outra escritora negra brasileira potente, reconhecida como Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Reconhecemos historicamente o papel fundamental das mulheres na linha de frente das lutas populares por melhores condições de vida, na conquista e defesa de direitos em meio a uma sociedade capitalista, patriarcal e racista.

Uma vida de luta coletiva que por muitas vezes nos é retirado não apenas os direitos materiais e civis, mas também o próprio direito à vida, o direito da nossa existência. Unimos dores e amores à rebeldia para construir uma nova sociedade que caibam as mulheres do Distrito Federal e de todo o Brasil.

Infelizmente, a dor ainda insiste em bater à porta do peito. Desde 14 de março de 2018, após a notícia do assassinato de Marielle Franco, nos vemos e revemos naquela mulher preta e periférica. Olhamos no reflexo da repetida fatídica data silenciosa e sentimos a mesma angústia que nos golpeia o corpo. Sentimos ainda a ferida que sangra e que não cicatriza. Mas não podemos estagnar.

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Saber que seguimos sem respostas de quem a matou covardemente, para além de doer, sentimos a transformação diária do desentalar do grito: “Não serei interrompida!”. É uma dor da qual não podemos fugir, uma dor que se transforma em luta, seja no mês de março, em marcha nas ruas, nos campos e nas cidades, nas periferias, em todos os lugares, pois não permitiremos mais sermos interrompidas!

Entre sentimentos de perdas e ganhos, nascimentos e partidas, seguimos pela vida de todas as mulheres.

Nós do Levante, marchamos na Ceilândia, em Taguatinga, em Brasília e marcharemos em todos os cantos do Distrito Federal em prol da construção de uma cidade para as mulheres brasilienses e candangas. Construiremos um Brasil antirracista, antipatriarcal e popular para as brasileiras.

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*Thamynny Santos da Silva é mestra em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB) e militante do Levante Popular da Juventude no DF.

**Ângela Amaral é graduanda em Licenciatura em Letras-Língua Portuguesa pelo Instituto Federal de Brasília (IFB) e militante do Levante Popular da Juventude no DF.

***Este é um artigo de opinião. A visão das autoras não necessariamente expressam a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.

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Edição: Flávia Quirino