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Um mês de guerra

Opinião | Brasileiro residente em Moscou relata cotidiano durante guerra com a Ucrânia

O Ocidente tem culpa, mas talvez o destino da Ucrânia já estivesse escrito nos manuais de operação dos canhões russos

24.mar.2022 às 18h22
Moscou
Paulo Eduardo da Costa

idosa é detida após protesto pacifista em Moscou - AFP

 

Temos um grande passado pela frente. Escutei de um amigo russo no dia 24 de fevereiro. Todos se levantaram às cinco horas da manhã para assistir à transmissão direta por todas as TVs. “Gimmy” disse que a Ucrânia não existia, que era uma invenção de Lênin, e que começava a guerra contra seu inimigo imaginário (aqui chamamos o presidente de Gimmy para não suscitar a repressão, já que está proibido falar muitas palavras, sobretudo “Guerra” – me dá até calafrios escrevê-la aqui). 

Não sei se houve aplausos. Não vi nenhum, nem nas ruas, nem em ambientes privados. Todos tinham cara de enterro. Pensei que fosse a minha bolha. No mesmo dia, à noite, milhares se reuniram na praça Pushkin, que estava sitiada, com bloqueios de metal e vários ônibus da polícia, pois desde os protestos de janeiro, a tática tem sido a prisão em massa. O alerta são dezenas de ônibus parados ao redor da praça.

No primeiro dia, foram quase oito mil prisões, principalmente em Moscou e São Petersburgo. Nos dias seguintes, chegaram a quinze mil. O caos nos bancos chegou ao máximo: todos os caixas eletrônicos foram esvaziados, não havia dólares, nem rublos. Só na primeira semana o rublo passou de 72 a 138 rublos por dólar, 48% de perda. As filas na porta dos bancos começavam às sete da manhã. Depois, saques só com hora marcada. Liguei no dia 26 e fui agendado apenas para 4 de abril.

Um dia depois, uma amiga que trabalha num laboratório de análises clínicas me contou que baixaram os salários em 10% e, dois dias depois, em mais 10%, fora os que foram despedidos. Corri para comprar um casaco numa loja de departamentos antes que fechasse. Não deu, já tinha fechado. No mesmo dia, Mc Donnalds, KFC e Burger King anunciaram a saída da Rússia. Pelo menos vamos ter uma alimentação mais saudável, pensaram alguns, mas os locais vazios começam a pipocar pela cidade, e, como no início da pandemia, a quebradeira é geral.

A fábrica da Renault fechou. Todos os boeings foram parados, as companhias pararam de voar devido às sanções ou porque os seguros já não as cobrem. Com outra colega de trabalho, começamos a avaliar nossas chances de ir embora. Todas as rotas foram cortadas, exceto Istanbul, que só tinha lugar nos voos para o final de maio. Outra colega russa me chamou para conversar, chorou, disse que ia pedir demissão e ir embora do país. 

Lembro de 1993. Escutava: “destruíram o país”. Falei num trem que havia ido à Ucrânia e alguém me corrigiu: “Malaia Rossia”, que significa “pequena Rússia”. Durante trinta anos o que tem sido dito à boca miúda, agora virou o discurso raivoso de Gimmy, a Rússia inventou a Ucrânia, que nunca foi um estado nacional. "Não, querido, foi a Ucrânia que inventou a Rússia", vocifero mentalmente. O reino da Kievan Russ foi fundado um século antes da Moscovia, que depois se tornaria o centro da nova Rússia.

Enfim, há um ano estive num evento do centro de estudos sobre comunidade de estados independentes. “A Ucrânia é uma invenção polonesa e bolchevique”, “toda vez que a Rússia se afasta da Crimeia entra em decadência”, comentavam. Um padre falou que “forças estrangeiras tentam afastar a união espiritual entre o povo russo e bielorrusso” – naquela época Lukashenko fraudava as eleições e encarcerava a oposição. Esta semana o patriarca Kiril, aprovando a guerra, falou que o Ocidente tenta aniquilar a todos que recusam as paradas gays.

Em meados de março, uma colega de Tbilisi na Geórgia me escreveu que o governo vai proibir a entrada de russos, há filas nas fronteiras e há tantos russos que eles temem tensões étnicas, assim como na Finlândia, Armênia, Ásia Central e todos os lugares onde lhes permitem a entrada. São milhares, gente jovem, intelectuais, pessoas que temem a lei marcial e o recrutamento forçado para uma guerra que poucos apoiam.

Voltando ao passado. Em 2020, o governo se apressou a reformar a Constituição para permitir reeleição até 2036, nas eleições parlamentares nenhum candidato de oposição teve sua candidatura aprovada pela comissão eleitoral. Havia dois governadores independentes: o de Khabarovsky foi preso, a de Yakutia renunciou sem dar explicações. Os protestos da oposição foram reprimidos com violência em janeiro de 2021. Todos os comitês foram ilegalizados e considerados “extremistas”, milhares foram presos. As organizações de direitos humanos Memorial e Memorial internacional foram proibidas, entre outras. Desde o dia 24 todos os meios independentes foram fechados. O Facebook foi considerado “extremista”, assim como o Twitter.

Até as Testemunhas de Jeová foram proibidas. "Ah! Eles não servem o exército! Muito estranho…".  Enquanto isso, as cidades eram decoradas com propaganda das vitórias militares dos russos desde as guerras napoleônicas, e uma nova catedral para as forças armadas era inaugurada com grande pompa, entre outros sinais. A lei de Fake News foi reformada: agora chamar o que ocorre de “guerra”, ou difamar as forças armadas, pode dar 15 anos de prisão.

Uma mulher em Omsk ergueu um cartaz: “Deem à luz vocês”. Foi presa. Em São Petersburgo ergueram cartazes em branco, nada escrito, foram presos. Um homem parou com um cartaz em frente ao escritório da União Europeia: “Eu apoio a política de Putin”, foi preso também.

Ontem, uma colega de trabalho comentou que a sogra avisou, viu, eles falarem que Putin invadiria a Ucrânia, e ninguém acreditou, agora ele ameaça apertar o botão (nuclear) e ninguém acredita. A cada dia, me lembrando dos sinais que vinham sendo emitidos, me convenço de que tudo estava sendo preparado. Sim, a OTAN é uma ameaça, sim, o Ocidente tem culpa, mas talvez o destino da Ucrânia já estivesse escrito nos manuais de operação dos canhões russos.

Hoje faz um mês. Fomos visitar parceiros da sociedade civil. Já perderam cinco funcionários. Foram embora do País. Por outro lado, já chegaram 300 mil ucranianos à Rússia. Dois milhões na Europa. Os remédios já faltam, não há dinheiro nos bancos, nem emprego, tudo que se importa, se exporta e tem relação com o resto do mundo está parando, mas o que mais falta é a perspectiva de futuro. Sim, temos um grande passado pela frente. Não é a volta da URSS, se parece mais à volta do império. Peço um capuccino na esquina para ir trabalhar. Não sei se já faltam ingredientes, mas o café está horrível.

 

* O autor é brasileiro, estudou e trabalha em Moscou há anos, porém por motivos de segurança assina o artigo com um pseudônimo.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

 

Editado por: Rodrigo Durao Coelho
Tags: guerrarússiaucrânia
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