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Amazônia responde por 97% das áreas de conflito por terras no Brasil, aponta CPT

Região foi palco de 80% dos assassinatos e tem 62% das famílias atingidas, revela balanço anual de violência no campo

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

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Apropriação de bens naturais motiva avanço de atividades ilegais na Amazônia, diz integrante da CPT - Bruno Kelly/Amazônia Real/07/08/2020

A Amazônia foi palco de 52% dos conflitos por terra no Brasil em 2021. Sozinha, a região tem 62% do número de famílias atingidas. Além disso, 97% das áreas de conflitos - quase 69 milhões de hectares - estão no bioma amazônico. Os dados são do relatório "Conflitos no Campo 2021" divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) nesta segunda-feira (18).

O levantamento mostra que o número de mortes em conflitos no meio rural no país aumentou mais de 1.000% no ano passado em comparação a 2020. Das 109 vidas perdidas, 101 eram de indígenas do povo Yanomami, em Roraima. Todas essas mortes têm como causas diretas ou indiretas problemas socioeconômicos provocados pelo garimpo ilegal. 

Já nos assassinatos, a alta foi de 75%. O maior número de casos foi observado nos estados da Amazônia Legal, que registraram 28 crimes dessa natureza, 80% do total. 

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Segundo a CPT, a Amazônia responde por:

  • 65% das ameaças de expulsão
  • 63% das contaminações por agrotóxico
  • 78% dos desmatamentos ilegais 
  • 88% das expulsões
  • 82% das grilagens 
  • 83% das invasões

 

Apropriação de bens naturais 

Lar da maior reserva de água doce do mundo, a região Norte do país teve um aumento de 18% nos conflitos pela água. O número de famílias prejudicadas por esses episódios aumentou 54%. As comparações são com dados do ano passado. 

“Dentro dessas áreas a gente tem observado um aumento muito grande sobre os territórios, sempre nessa perspectiva de apropriação dos bens naturais. São atividades como garimpo e ainda, infelizmente, muita atividade ilegal relacionada à exploração madeireira, sobretudo nessa áreas de terras indígenas e áreas de conservação que são as áreas mais conservadas do Brasil”, afirma Andréia Silvério, da Comissão Pastoral da Terra.

Os principais operadores da violência são agentes privados, como fazendeiros, agromilícias e grupos de pistoleiros que atuam sob encomenda. A CPT observa que tem crescido o avanço sobre espaços protegidos por lei, como territórios indígenas, unidades de conservação, terras quilombolas e áreas de reforma agrária.  

Golpe inaugurou período de violência no campo

“O ano de 2021 reafirma uma tendência que a CPT vem registrando pelo menos desde 2015 e 2016, quando aconteceu essa ruptura política no Brasil. Desde esse período, nós temos registrado aumento com relação ao número de conflitos e com relação ao número de famílias envolvidas nesses conflitos”, explica Silvério. 

Em dados parciais de 2022, a CPT já registra 14 assassinatos em conflitos no campo, a maioria no estado do Pará. Silvério aponta o abandono das políticas de reforma agrária por parte do governo federal como um estopim da violência.  

“Há um abandono absoluto da política de reforma agrária como ela foi pensada a partir da constituição de 1988. A reforma agrária no Brasil, de fato, nunca foi feita. Mas essa política, que minimamente possibilita a distribuição de terras e o atendimento das demandas dessas comunidades, foi abandonada nos últimos anos”, denuncia. 

Edição: Felipe Mendes