As telas de cinema cada vez mais são um território dos indígenas, que com a câmera na mão deixaram de ser apenas personagens de filmes, séries e novelas, e passaram a construir sua própria narrativa.
O mais recente filme lançado em Porto Alegre foi "Guata". Com 56 minutos de duração, o documentário da Flow Filmes é uma produção Brasil/Argentina. Nele Jorge Morinico e Epifanio Chamorro, diretores Mbya-Guarani do filme e professores, buscam se encontrar para investigar juntos a importância que o guata (caminhar) tem para os Guarani enquanto prática existencial, cosmopolítica e flosofa de vida. Morinico também dirigiu "Bicicletas de Nhanderú", uma imersão na espiritualidade presente no cotidiano dos Mbya-Guarani da aldeia Koenju, em São Miguel das Missões no Rio Grande do Sul.
Integrante do coletivo Comunicação Kuery e um dos realizadores do Tela Indígena, Gérson Gomez Karaí afirma que as produções são uma forma de resistência. “A nossa resistência é manter sempre viva a nossa espiritualidade, o nosso conceito, o nosso modo, o nosso jeito de ser, a nossa maneira de falar, que possamos ser respeitados, a gente é um povo muito oprimido”, destaca.
Cinema como estratégia
O realizador conta que a ideia de fazer filmes surgiu da necessidade apontada por lideranças para registrar o cotidiano das aldeias, resultando na criação do Comunicação Kuery, fundado em 2011, e que já conta com diversas produções, disponíveis em https://comunicacaokuery.wordpress.com/.
Palavra como sobrevivência
Outra expressão artística adotada pelos povos indígenas é a literatura. A escritora e pesquisadora macuxi Julie Dorrico explica que, intrinsecamente vinculada às lutas dos povos originários, a literatura indígena aborda, em forma de arte, “conflitos que envolvem ser indígena hoje no Brasil”. "Passamos essa mensagem de que os povos indígenas existem, que têm subjetividades e direito à soberania, autonomia, terra, narrativas ancestrais e culturas próprias", completa.
Doutora em teoria da literatura pela PUC-RS, ela é autora do livro “Eu sou Macuxi e outras histórias”, publicado pela editora Caos e Letras. Além de administrar o perfil @leiamulheresindigenas no Instagram, Julie é curadora da "I Mostra de Literatura Indígena: o território das palavras ancestrais", inteiramente online.
Segundo ela, na década de 1990 surgiram alguns atores indígenas como Daniel Munduruku, Kaká Werá, Olívio Jekupé e Marcos Terena, que passam a publicar livros. Isso foi crescendo. “Atualmente, temos cerca de 60 autores, acredito que até mais, e não param de surgir”
Dicas de literatura indígena
▶ Ideias para adiar o fim do mundo e O amanhã não está à venda, de Ailton Krenak, líder indígena, escritor, jornalista e produtor gráfico.
▶ Coração na aldeia, pés no mundo, um cordel escrito por Auritha Tabajara, a primeira mulher indígena no Brasil a publicar um livro em formato de cordel.
▶ A queda do céu, um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica.
▶ As serpentes que roubaram a noite e outros mitos, escrito por Daniel Munduruku e ilustrado pelas crianças da aldeia Katõ. Daniel é escritor, professor e psicólogo. O autor tem 52 obras ao todo, sendo a maioria de literatura infanto-juvenil.
▶ A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. Este foi o primeiro livro escrito por um autor indígena brasileiro, Kaka Werá, que traz novas possibilidades de ver os índios na história e na literatura.
▶ Nhemombaraete reko rã’i: fortalecendo a sabedoria. Reúne desenhos, histórias e ensinamentos da cultura guarani. Foi escrito por José Verá, morador da Aldeia Yvyty Porã, terra indígena conhecida entre os não-indígenas como “Aldeia do Campo Molhado”, no município de Maquiné, litoral norte do Rio Grande do Sul.
▶ A Terra é mãe do índio, Metade cara, metade máscara e A cura da Terra, de Eliane Potiguar, professora, empreendedora e escritora indígena brasileira.
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