Corrupção

Vereadora de Foz do Iguaçu (PR) é investigada por suposta "rachadinha" na Prefeitura e Câmara

Policial civil é apontado como mentor político da parlamentar

Brasil de Fato | Foz do Iguaçu (PR) |
Vereadora Carol Dedonatti e o policial civil Stanley Alves - Foto: Reprodução

Menos de um mês após a maioria dos vereadores da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu (CMFI), oeste do Paraná, arquivarem pedido de investigação sobre suposta "rachadinha" dentro da Casa de Leis, a prática caracterizada pela transferência de salários de assessores para agentes públicos volta ao centro das discussões políticas na cidade.

Em entrevista, duas ex-servidoras indicadas pela vereadora Carol Dedonatti (PP) para cargos comissionados na Diretoria de Bem Estar Social (DIBA), órgão vinculado à Prefeitura Municipal, confirmam a suspeita.

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De acordo com as protetoras de animais que atuaram em 2020 pela eleição de Carol Dedonatti, além de pedir a devolução de parte dos salários, a vereadora justificaria a necessidade do dinheiro para "manutenção de projetos, em benefício da causa animal".

O caso é alvo de inquérito tocado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO).

Proposta

"Foi numa manhã de domingo, em dezembro, antes das festas de final de ano. Fui procurada em casa pela Carol, acompanhada do Stanley. Nesse dia fui questionada se gostaria de fazer parte do gabinete. A respeito do salário, disseram que eu teria de devolver um valor para manutenção de projetos", afirma Patrícia Gonzalez, considerada a principal cabo eleitoral de Carol Dedonatti no último pleito municipal.

Sobre os valores que teriam sido tratados por Carol, na presença do policial civil Stanley Alves, apontado na investigação como possível mentor político da vereadora, Patrícia explica: "Eles disseram que meu salário seria em torno de R$ 8 mil, e, que, desse valor, eu ficaria com R$ 5 mil. A vereadora ainda falou: 'Então, isso vai te ajudar bastante, né, Pati?'. Eu respondi: 'Sim. Com certeza'. Eu agradeci demais", revela Patrícia ao relembrar que estava desempregada à época.

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Entretanto, após ser convidada inicialmente para compor o gabinete da vereadora na Câmara Municipal, Patrícia Gonzalez terminou indicada para um cargo na Prefeitura, junto à recém-criada Diretoria de Bem Estar Animal (DIBA).

"No início de janeiro, a vereadora mudou de ideia e me indicou para ser assessora na DIBA. Por conta do salário lá ser menor que o valor pago pela Câmara, eu fui liberada de ter de devolver parte do meu dinheiro. Mas sei de mais pessoas indicadas pela vereadora que também foram chamadas para fazer 'rachadinha'", conclui Patrícia Gonzalez. A protetora permaneceu na DIBA até dezembro de 2021.

Diretoria

Outra ativista da causa animal que pediu votos pela eleição de Carol Dedonatti, a advogada Mariam Melhem foi indicada pela vereadora para chefiar a DIBA, já a partir de sua criação, em fevereiro de 2021. Com salário em torno de R$ 8 mil, Mariam confirma que fora abordada para devolver parte dos vencimentos que receberia.

"Em uma reunião convocada pela própria vereadora, ela 'pediu uma contribuição' para todos ali presentes. Contribuição essa em razão dos cargos ocupados por nós, por indicação dela. Nessa reunião, conduzida pelo Stanley, ele chamou de contribuição voluntária. Porém, a vereadora deixou claro que seria injusto não contribuir e quem não o fizesse seria exonerado", sustenta a advogada exonerada após dois meses de trabalho.

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"No momento da reunião não me neguei a contribuir. Saí calada. Mas, com o decorrer dos dias, passei a me esquivar dela. Não dava satisfação e nunca contribui. Com certeza o fato de não contribuir com a devolução do salário a incomodou muito. Pois ela deixou claro que quem não o fizesse, não seria da equipe", completa Mariam.

Pedágio

Sob a condição de anonimato, ex-assessoras da vereadora Carol Dedonatti, que participaram da reunião mencionada por Mariam, reforçam a suposta prática de rachadinha, bem como a possível participação do policial civil envolvido no episódio.

"Essa reunião foi realizada no escritório do advogado indicado pela vereadora para assumir a Diretoria Jurídica da Câmara Municipal. Estavam todos os indicados da vereadora para cargos na Prefeitura e também na Câmara. Foi passado que deveríamos colaborar para custear projetos da causa animal. Entramos sabendo desse 'pedágio'. Quem não topou, foi substituído", conta uma ex-assessora, que confirma ter devolvido parte de seu salário à vereadora Carol Dedonatti.

Questionada sobre sua condição de anonimato, a ex-assessora explicou que não irá revelar sua identidade enquanto o inquérito policial em curso não for concluído. "Essa foi a orientação que recebi. Tenho como provar cada palavra e já apresentei tudo à Justiça. É questão de tempo para toda história vir à tona", pontua.

Stanley

No mesmo sentido, outra ex-assessora de Carol Dedonatti também escolhe não se identificar ao apontar o policial civil Stanley Alves como sendo os "olhos da vereadora".

"Tanto que o próprio Stanley indicou sua irmã, Alessandra Alves, para trabalhar na DIBA. Além disso, colocou Natasha Schimdt, uma jovem de vinte e poucos anos, como assessora parlamentar da Carol. Essa menina é casada com o filho da Alessandra. Ou seja, é nora da irmã dele. Está tudo em família. O Stanley sabe tudo o que acontece", comenta.

A relação de cargos comissionados de Carol Dedonatti com pessoas ligadas ao policial civil foi confirmada pela reportagem. De acordo com informações dos Portais da Transparência da Prefeitura e da Câmara Municipal, Alessandra Alves figura, desde fevereiro de 2021, como titular do cargo de Assessor 1, vinculado ao quadro funcional da DIBA. O salário bruto pago à irmã do policial civil no mês de março foi de R$ 4.240,84. Já Natasha Schimdt, nora da irmã de Stanley, recebeu do Legislativo em março passado salário bruto de R$ 9.646,14.

"É um esquema que garantiu à vereadora quase o dobro do salário que ela recebe enquanto parlamentar. Porém, a casa caiu", finaliza uma das ex-assessoras anônimas ouvidas pela reportagem.

"Encaminhe à Corregedoria", diz policial ao ser questionado

Procurado pela reportagem para comentar sobre sua relação com o mandato da vereadora Carol Dedonatti, o policial civil Stanley Alves disse que se manifestaria apenas na Justiça.

"Encaminhe a denúncia à Corregedoria. Publiquem o que vocês quiserem. Minha resposta é na Justiça e nos autos do processo. Assim que sair a matéria tomarei as medidas legais", avisou o policial.

Para vereadora, acusações são perseguição política

Procurada para apresentar sua versão sobre os fatos, a vereadora Carol Dedonatti preferiu não atender a reportagem. Enviou, no entanto, nota, que reproduzimos abaixo:

"Sobre as acusações a mim imputadas, informo que ainda não fui notificada para prestar os devidos esclarecimentos e apresentar minha defesa.

Tenha a mais absoluta convicção de que se trata de ataques políticos infundados baseados em “comentários” maldosos.

Também estou ciente de que como me lancei pré-candidata à deputada federal, muitos ataques políticos virão, e desde já me coloco à disposição das autoridades competentes para prestar os devidos esclarecimentos.

Lembrando que existe o devido processo legal, e tenho absoluta certeza que passando o período eleitoral essas denúncias se desfazem pois não têm sustentação."

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini