Eleições 2022

Artigo | Como a 3ª via corre atrás de autopromoção ao insistir em lançar candidatos

"Deixem eles que não se entendam"

Brasil de Fato | São Paulo (SP)* |
O eleitorado não se interessou por um nome para ser alternativa a Lula ou Bolsonaro - FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL E RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA

As eleições de 2022 nem começaram oficialmente, mas nos bastidores, nas ruas e nas redes, ela já está a todo vapor, despertando amor e ódio principalmente entre àqueles que tem um lado dentro dessa batalha. E é importante que tenhamos um.

A esquerda está vindo com tudo, unindo-se em torno da já fortalecida figura de Lula, com iniciativas diferentes das que estávamos acostumados a ver nas eleições passadas. Este lado do espectro político vem apresentando propostas inovadoras, como a campanha do título de eleitor, a campanha de formação dos comitês populares, o debate de um projeto popular para o Brasil, dentre outros, que trazem novamente para a política a voz do povo e a ideia de que a participação popular é fundamental numa democracia.

Mas se a esquerda se reinventa, a extrema direita capitaneada por Bolsonaro faz o contrário, seguindo a mesma toada da eleição de 2018, apostando novamente nos robôs para deflagrar maciçamente noticias de caráter duvidoso e engodos numéricos ao anunciar resultados do governo. Para exemplificar o caso dos robôs, entre 25 e 26/4 último, 37.922 novas contas foram criadas no Twitter ao mesmo tempo, tendo como sua 1ª ação, seguir Bolsonaro. E isso é fato também junto a sua patota de peso: Bia Kicis, Carla Zambelli, Carlos Bolsonaro, Helio Lopes e Flávio Bolsonaro, também foram agraciados nas redes, com engajamentos súbitos e de uma hora para outra.

Ainda nesse quesito, as plataformas sociais e aplicativos como o Whatsapp, tem tentado "caçar" os famosos robôs que se avolumam quanto mais nos aproximamos das eleições, como também, tem surgido vários grupos independentes que avaliam e tentam frear as fake news. Porém, a capacidade de criação é maior que a de detecção das fakes, causando, ai, um grande gap na vacina contra essas notícias falsas, o que pode fazer, por exemplo, surgir novas "mamadeiras de piroca" no transcorrer desse ano até as eleições. E o problema é que depois que uma fake news "pega", já foi! O estrago se faz e nada mais consegue desconstruir em 100%, o prejuízo de imagem do candidato.

Mas saindo do assunto Lula-Bolsonaro e da batalha nas redes, coisa que não poderíamos deixar de falar, vamos ao assunto desse texto, que é o de pensar um pouco a partir de outro lugar do entorno que cerca as eleições presidenciais de 2022: a 3ª via, Ciro Gomes e o oportunismo desse grupo.

Me arrisco a separar Ciro da 3ª via e a chamar esse foco de candidatos nanicos de polarização secundária, posto que são 2 grupos que brigam entre si, tentam se diferenciar e que disputam a atenção dos eleitores entre os candidatos preteridos.

Para se ter uma ideia do como esses candidatos ainda não decolaram, se somarmos os votos de Dória (PSDB), Tebet (MDB) e Janones (Avante), representantes mais bem pontuados da 3ª via dentro da pesquisa que uso aqui, essa soma atinge 8% das intenções. Já Ciro atinge 6% dos votos. Na soma essa polarização secundária atinge 14% da preferência do eleitorado.

Então, se pensarmos somente nos números, já podemos afirmar que tanto a 3ª via como Ciro Gomes, são candidaturas inviáveis, que não vão decolar. São candidaturas que por ter esse perfil de não largar o osso, mesmo sendo pedras afundando no rio, se colocam na disputa como oportunistas, pois ficarão ali em stand by, à espreita de um deslize de Lula ou Bolsonaro, para capitanear os votos desses para si.

Mas também, se olharmos o histórico desses candidatos/partidos, mesmo que bem suscintamente, veremos que esse oportunismo está ali dentro deles faz tempo. Então, tanto faz para eles, ocupar o espaço que na natureza é de posse de um urubu, de um abutre, de um carcará, etc... É coisa dada.

E se são oportunistas quantitativos, qualitativos também são!! Pensemos nos "3ª via": exceção feita a Janones, que critica o governo bolsonarista mas é de um partido conservador liberal (da pauta dos costumes, que defende reformas contra o trabalhador), tanto Dória como

Tebet tentam "dobrar" o povo, com um discurso do "arrependidão". Mas estão eles arrependidos do quê? Dória aplicou medidas tão austeras quanto as de Bolsonaro, quando à frente do governo paulista e paulistano. E o que dizer de Simone Tebet, se não que é uma escudeira de Bolsonaro desde a primeira hora! Se você der uma "googlada", achará facilmente notícias que retratam o perfil fascistóide desses dois e de seus partidos.

E Ciro Gomes, então. Podemos afirmar categoricamente que desde o segundo turno de 2018 tenta manobras oportunistas para captar votos daqueles não-lugares ideológicos, onde estão pessoas que ficam em cima do muro, tentando ser algo que não causa desconforto social: ao ir para Paris e deixar Haddad jogado aos leões, Ciro tentava abocanhar a intenção de voto para as próximas eleições (que é essa) daqueles que diziam "ser de esquerda, mas não ser petista", e prosseguiu assim até a reviravolta do caso Lula, em que se provou a inocência do petista e a criminalidade de Moro.

Dai, ao perceber que da esquerda não sairia os votos que esperava, Ciro tenta a mesma manobra, só que agora no campo da direita e centro, tentando abocanhar os votos de eleitores que se dizem "de direita, mas não bolsonarista". Só que ele não percebe que com esses movimentos, vai se apequenando e sumindo nesse mar revolto da política brasileira, pois quem é que vai confiar em um político que não assume um lado? Nem a própria direita o aceita, pois tentou se aliançar com os partidos que compõe com substancialidade de votos a 3ª via e não foi aceito.

Assim, se existe um oportunismo quantitativo e qualitativo, como coloquei jocosamente acima, existe também um oportunismo que se liga diretamente à eleição presidencial, um oportunismo de contexto que esclarece ainda mais o por quê de esses candidatos acharem que vale a pena se lançar nesse "buraco negro" eleitoral para perder: a ideia de se projetar como uma figura nacional, de aparecer para todo o Brasil como uma figura política relevante. Afinal, se o curso político seguir seu caminho comum, a democracia brasileira não se findará com a eleição de 2022.

Dai, inclusive, é dessa questão de se fazer presente hoje, mas de olho numa futura disputa, que vem os "pegas" que estão acontecendo dentro da terceira via, quando os partidos mais relevantes desse campo, quais sejam, União Brasil, PSDB, Cidadania, e MDB tentam fechar uma aliança em favor de um candidato para o bloco. Pois todos querem garantir essa visibilidade, todos querem ser mais conhecidos do povo agora, para gerar engajamento às próximas eleições.

E lógico que não são inocentes: que político não ia querer ser o garoto propaganda de uma união que terá o maior tempo de TV e Rádio e a maior quantidade de dinheiro do fundo eleitoral?

E, além de tudo isso, tem as questões de projeção junto aos potenciais apoiadores capitalistas, pois, nesse cenário, que empresa não vai querer contribuir com essa patota, sabendo que esses partidos tem como foco um país neoliberal, terceirizado, que tocará à frente o projeto de país inaugurado com o golpe dado em Dilma Rousseff?

Assim, por mais que pareça insanidade, por exemplo, o PSDB e Dória deixar de competir a eleição ao governo de São Paulo, em que teriam ampla vantagem, estar em um processo eleitoral o qual traz uma maior projeção de imagem, acaba sendo um investimento futuro, mesmo que consideremos um cenário onde essa aliança da 3ª via não se consolide, e a chapa Bivar-Moro do União Brasil ganhe vida.

O mesmo é válido para Tebet e Janenes: vale a pena deixar escapar uma vaga no Senado e na Assembleia Legislativa Federal, quando o que está em jogo é a consolidação de suas imagens dentro de um campo muito volátil do espectro político, que é o da direita e centro.

Portanto, embora do ponto de vista de uma vitória eleitoral para presidente seja inócua a discussão sobre essa polarização secundária, do ponto de vista da estratégia eleitoral, acaba sendo um negócio interessante para os postulantes fincar o pé na candidatura para presidência da república. Pois se isso é oportunismo, para esses candidatos não há problema algum em serem o urubu, abutre ou carcará da vez, como já apontei acima.

E para a esquerda, é lindo ver a direita se dividindo por conta de picuinhas e autopromoção. Deixem eles que não se entendam!!

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho